quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dia de pelourinho na Praça 7



Secretário do PT leva 80 chicotadas para mostrar arrependimento pelo apoio que deu à aliança com Marcio Lacerda em 2008 e para protestar contra as demissões no gabinete do vice-prefeito
Francisco Maciel levaria apenas 40 chibatadas, mas como uma equipe de TV se atrasou, ele se submeteu a uma nova sessão de castigo

 (Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Francisco Maciel levaria apenas 40 chibatadas, mas como uma equipe de TV se atrasou, ele se submeteu a uma nova sessão de castigo

O pirulito da Praça Sete, um dos principais monumentos de Belo Horizonte, foi palco ontem de uma cena inusitada. E tudo por causa da briga entre o prefeito Marcio Lacerda (PSB) e seu vice, Roberto Carvalho (PT). Arrependido de ter apoiado a aliança entre os dois partidos em 2008, o secretário do PT municipal, Francisco de Assis Maciel, de 48 anos, decidiu levar 40 chibatadas em público, exatamente o número com o qual o PSB está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O castigo voluntário acabou saindo em dobro. Uma rede de televisão chegou atrasada para a cobertura do flagelo e, para não perder espaço nos telejornais, o penitente topou levar mais 40 açoites.

Francisco Maciel é assistente de administração, concursado, na Secretaria Municipal de Planejamento. No entanto, teve as funções desviadas para o gabinete do vice-prefeito, que é presidente do PT municipal. O funcionário público, no entanto, negou qualquer envolvimento do partido na manifestação. “Comuniquei hoje pela manhã ao vice-prefeito que faria o protesto. Ele me respeitou”, disse Maciel. A manifestação foi marcada para as 13h40. O 13, número do PT no TSE, e o 40 do PSB.

Marcio Lacerda e Roberto Carvalho começaram a se estranhar há cerca de dois anos quando ficou claro o caminho que cada um tomaria na disputa no ano que vem. Lacerda, com apoio do PT estadual, não abriria mão de tentar a reeleição. Já Carvalho passou a pressionar a legenda por candidatura própria. No último lance da disputa, Lacerda exonerou 17 servidores do gabinete do vice-prefeito.

Maciel, que permaneceu no gabinete de Carvalho, diz que já chegou a ser preso por causa de Marcio Lacerda. “Três dias antes do segundo turno, nossa turma estava prestes a entrar em atrito com correligionários do candidato rival, Leonardo Quintão (PMDB), na Praça Raul Soares (Região Central da cidade). A Guarda Municipal chegou e achou que tínhamos agredido o pessoal do outro partido. Como era coordenador de mobilização da campanha do Lacerda, me levaram para a delegacia. Prestei esclarecimentos e fui liberado em seguida”, conta.

O servidor público afirma que se arrependeu de apoiar Lacerda depois do que chamou de “traição programática e desvios de rumo” do prefeito. “Nossa caminhada teve início com Patrus Ananias, depois seguiu com Célio de Castro e Fernando Pimentel. Hoje, o que vemos é o extermínio do Orçamento Participativo, a criminalização dos movimentos sociais, o abandono da população de rua, que hoje é vítima de assassinato, e a ausência de diálogo com a cidade.”

Lacerda não quis comentar a manifestação do servidor público. A prefeitura, no entanto, enviou um “olheiro” à Praça Sete para acompanhar o protesto. O funcionário estava no local a pedido do secretário de Obras e Infraestrutura, Murilo Valadares. “Pediram  que eu fotografasse e fizesse um relatório.” Maciel seria amigo do secretário.

Chicote A maior parte dos golpes – ao todo foram três os “algozes” – ficou a cargo do “carrasco” Ricardo Antônio Almeida, de 45 anos, militante do PT e amigo de Maciel, que concordou com a “punição” do correligionário. “As chibatadas foram merecidas pelo apoio que deu à aliança PT, PSB e PSDB em 2008”, disse. Antes de autorizar os açoites, Maciel, ex-estudante de teatro, usou cordas para se amarrar a dois postes do pirulito. Atrás, uma faixa reclamando das demissões no gabinete do vice-prefeito.

Sem camisa, levou os primeiros 40 açoites ao som de uma pequena plateia que contava o número de golpes. Durante as outras 40, dedicadas exclusivamente à rede de TV, apenas a equipe da emissora e a reportagem do Estado de Minas acompanhavam o protesto. O chicote era formado por tiras de uma espuma espessa. Ainda assim, depois de notar vontade demais por parte do “carrasco”, outro integrante do PT que acompanhava o protesto lembrava que o ato precisava ser apenas simbólico. Depois da sequência de chibatadas, Maciel disse estar “com a alma aliviada”.
PelourinhoO pelourinho é uma coluna de pedra instalada em locais públicos que se transformou em símbolo para os castigos sofridos por criminosos e escravos durante a expansão colonial portuguesa. Os escolhidos para sofrer a punição tinham as mãos amarradas a argolas colocadas na parte alta da coluna. A penitência era por chicotadas. O número de açoites era definido conforme o crime praticado. No caso dos escravos, uma tentativa de fuga, por exemplo, era motivo para o envio às chibatadas.

Leonardo Augusto
Publicação: 09/11/2011 04:00

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