quarta-feira, 30 de março de 2016

Sem o PMDB,  um governo para tempos de guerra

Marcel Frison
 
O PMDB decidiu sair do Governo Dilma, do ponto de vista da governabilidade, nada mais irrelevante.
Eduardo Cunha, como Líder de Bancada do PMDB, foi, em tempos de paz, um dos maiores opositores ao Governo Dilma na Câmara Federal. Basta ouvir seus discursos proferidos naquele plenário ao longo dos seus mandatos. A sua disposição contrária se intensificou, segundo o delator Delcídio do Amaral, quando Dilma interveio no comando de Furnas e retirou do comando seus amigos e as tetas da “vaca” secaram. Como presidente da Câmara é desnecessário descrever.
Temer, o vice-presidente, como companheiro de chapa, pouco ou nada trouxe de votos na duríssima batalha eleitoral que foi travada em 2014. Lembro-me das suas agendas no RS durante as eleições, em nenhum momento enfrentou (nem com luvas de pelica) a linha radical de oposição da secção gaúcha e reservou-se a converter os convertidos das relações do então Ministro Padilha. Nas manifestações públicas pautou-se pelo comedimento e a dubiedade, portanto, sequer se dispôs a disputar a base eleitoral do seu partido.
No governo, Temer cumpriu com maestria sua vocação de despachante-mor, a cada crise criada por Cunha na chamada base aliada, ele entrava em jogo angariando mais espaço de poder para os seus asseclas no governo. Um jogo, inexplicavelmente, tolerado pela direção do governo Dilma.
No terreno da política, Temer e o PMDB foram o anteparo conservador que barrou por dentro do governo e no Congresso Nacional iniciativas estratégicas que tanto Lula como Dilma deveriam ter colocado em curso, como a reforma política, a democratização da mídia, a reforma tributária (de natureza progressiva), entre outras, que nos permitiriam vivenciar uma situação diferente desta que enfrentamos.
Isto posto, a importância de Temer e o PMDB para a governabilidade, espremidas as análises, é perto do zero.
O delírio da maioria da direção nacional do PT, do governo, de Lula e da Dilma, foi tratar o PMDB como um partido de verdade, como jamais foi na sua história e tampouco é na atualidade. O PMDB é uma federação de interesses setoriais e regionais, orbitando em torno de uma relação fisiológica com o Poder Central.
Evidente que existe (e não devemos, em hipótese alguma, desprezar) uma parcela significativa de integrantes do PMDB, composta por governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e dirigentes, que se manteve e se mantém fiel ao governo Dilma, porém, isto decorre de relações constituídas através da implementação do projeto de desenvolvimento que ensejamos e pelas afinidades políticas decorrentes, independente das posições assumidas por sua direção nacional.
Estes, inclusive, não estavam na decisão, saudada como histórica, do seu Diretório Nacional que foi constituída democraticamente em três minutos. Na moção aprovada destacam-se algumas pérolas:
Considerando as graves denúncias de participação de integrantes do Governo Federal em escândalos de corrupção”;
Considerando que as bases e a militância do PMDB já não concordam integrar o governo da Presidente Dilma Rousseff”;
Considerando que a permanência do PMDB na base do governo fomentará uma maior divisão no partido”;
Considerando, principalmente, o anseio do povo brasileiro por mudanças urgentes na economia e na política nacional”;
Solicitamos a imediata saída do PMDB da base de sustentação do Governo Federal, com a entrega de todos os cargos em todas as esferas da Administração Pública Federal”.
E terminaram o encontro aos gritos de “Temer presidente”! E “Fora PT”!
Temer não foi à reunião, quis postar-se de estadista.
O cinismo é uma arte.
A mídia certamente vai utilizar-se do episódio no único sentido prático a ser extraído, o recado simbólico da adesão oficial do vice-presidente e de seu partido no Golpe, em sua tradução torturante - impeachment constitucional.
Paradoxalmente, pode ser a melhor coisa que aconteceu à Dilma no último período. Uma oportunidade para recompor a base aliada no Congresso, porém, não somente isto, mas a chance de compor um novo governo. Um governo para tempos de guerra.
Eu começaria pelo PMDB, convidando o Requião e o Temporão para assumir espaços no novo ministério. Ciro Gomes seria de fundamental importância. Abriria os olhos e os ouvidos para perceber que no seu partido, o PT, além de Lula, tem quadros com grande capacidade e representatividade social que podem qualificar o governo e fazer a diferença na disputa política.
E, por fim, partindo da premissa de que traidores não são bons convivas, não esqueceria de demiti-los, todos, do seu governo (para identificar não precisa muito, basta uma espiadela nos perfis do facebook e do twitter), a começar por desmontar o gabinete do vice-presidente. Um convite formal para a sua renúncia.
Isto tudo pode parecer óbvio.
Perceber o óbvio também é uma arte.



segunda-feira, 7 de março de 2016

Ainda sobre o circo e o cerco a Lula, por Armando Rodrigues Coelho Neto

Ainda sobre o circo e o cerco a Lula

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Acordem delegados federais! Como sei que muitos só leem o primeiro parágrafo, tenho que, logo aqui dar um recado. Eu não estou contra a Polícia Federal, nem brigando com a categoria. Eu não estou contra a Lava Jato e nem acho que a instituição deva parar de cumprir sua obrigação. Como já disse antes, desqualificar uma operação policial que pode integrar (com louros!) o acervo de qualquer academia de polícia do mundo seria vergonhoso de minha parte. Portanto, como os senhores não são o umbigo do mundo, não se incluam e se o fizeram, por favor “se desincluam”.

O problema está na exploração política de uma dita “grande mídia” que resolveu assumir o coprológico papel de oposição ao governo, por falta absoluta de uma oposição séria, honrada para desempenhá-lo. Noutras palavras, os partidos de oposição, em sua grande maioria, são corruptos. E quando uma suposta “grande imprensa” está a serviço de uma oposição corrupta, a ela se nivela. Como corolário natural dessa anomalia fica claro que a condição de cleptocratas e vira latas a descredencia como guardiã da moralidade.

Li o despacho do juiz Sérgio Mouro. Ele agiu atendendo um insólito e descabido pedido do Ministério Público, que não sei se, de sua parte, agiu provocado pela PF. Mas, fundamentando sua decisão, se é que aquilo pode ser chamado de fundamento, o magistrado busca um precedente rocambolesco numa decisão anterior para deferir o petitório ministerial. Mas, lá está escrito:

“O mandado só deve ser utilizado e cumprido, caso o ex-Presidente, convidado a acompanhar a autoridade policial para depoimento, recuse-se a fazê-lo”.

Pois bem, caríssimo leitor. Bem antes de a Polícia Federal chegar à casa do Lula, no local já estavam algumas equipes de reportagem, o que prova que tomaram conhecimento em tempo hábil do circo no qual se transformou a operação Pedalex - uma proposital mistura que faço das palavras pedalinho com tríplex. Quem, criminosamente, vazou a informação, esqueceu-se de dizer para a porca mídia a palavra “convite”.

Pus convite entre aspas propositadamente. Convite propriamente dito é algo que pode ser declinado, recusado com um simples não quero, não aceito, não vou.

Ora, se o cidadão Luís Inácio Lula da Silva estava impedido de recusar o convite, aquilo não era convite. Portanto, criou-se um eufemismo para justificar o injustificável. Noutras palavras, douraram a pílula. Mas, de qualquer modo, a palavra convite lá estava e não foi repassada para a imprensa e se foi, ela não o utilizou porque politicamente o termo mais forte, mais humilhante, mais ofensivo era o mais conveniente.

Não sabemos se Lula foi convidado ou não, embora o termo convite tenha sido uma impropriedade, um acidente vernacular, fruto da urgência da medida - se é que havia. Na prática, o termo convite soou como verdadeiro falsete. Como dito, o convidado estava impedido de recusar o que lhe fora proposto. Tudo isso para materializar uma condução coercitiva que, em meus mais de 35 anos dedicados à PF, entre erros e acertos, nunca vi. E, do alto ou do baixo de meu humanismo, tratado idiotamente como comunismo (só para ofender os comunistas), me recuso a admitir a tal condução coercitiva em plena democracia, no limiar desse novo século.

Caso houvesse efetiva preocupação com segurança, respeito à dignidade ou qualquer razão nobre, o senhor Lula poderia ser chamado discretamente por um telefonema para depor e se ele, posteriormente quisesse politizar o assunto isso já seria problema dele. Mas, o estranho seria supor que, depois de dois anos sendo bombardeado, que Lula estivesse guardando produto de crime em sua casa ou no sítio que até hoje não se sabe se é dele ou não, embora tenha, pelo seu histórico, condições de comprá-lo.

Também entendo que ter ou não ter condições de comprar não vem ao caso, uma vez que estão em jogo outras questões sobre as quais não posso e não devo me debruçar. O que sei é que estamos diante de um fato cuja prova é eminentemente técnica, que não depende de testemunhas, confissões ou pedalinhos.  Até porque, pela lei (que o um juiz conhece mais que eu), a confissão, embora seja considerada a “rainha das provas”, ela só é valida quando coerente com a prova dos autos. De outro giro, a testemunha é conhecida nos meios jurídicos como a prostituta das provas.

Portanto, a Justiça está na dependência de uma prova técnica, que ficarei mais triste que decepcionado se for encontrada. Triste porque isso poderá privar milhões de brasileiros de uma pessoa que ousou tocar na mais contundente e vergonhosa ferida desse país: a miséria. Sem contar outras ousadias como tentar promover a inclusão social, ainda que para fazê-lo possa ter seguido as regras do jogo sobre as quais a imprensa silenciou e silencia. Os impunes e intocáveis que o digam, ainda que tentem passar a ideia de que não há mais intocáveis no Brasil.

Decepcionado? Até certo ponto, sim. No moralismo sem moral reinante a ideia de corrupção ganhou contornos seletivos e nela é apenas destacado o mercantilismo. Não há, propositadamente, a noção de certo ou errado, ética, moral, corrupção das ideias. Tudo é uma questão de cifras e quando ganha contornos de exploração política ou jornalismo barato adquire ares circenses.

É o que vejo nesse circo da caça ao Lula, cujo último episódio o tornou politicamente mais forte. Estivesse eu agora num bate-papo no WhatsApp, de pronto perguntaria: com quantos K você quer meu kkk?

Armando Rodrigues Coelho Neto - Delegado de Polícia Federal aposentado e jornalista,  foi representante da Interpol em São Paulo

Fonte: JORNAL GGN

terça-feira, 1 de março de 2016

João Roberto, o Tijolaço não falha: a agropecuária marinha de Parati usa “fachada ambiental”!

Agora que estou convencido de  que João Roberto Marinho, que pediu a publicação de esclarecimentos na condição de jornalista –  e, portanto, deve estar atento à nossa missão profissional de defender o bem e os bens públicos – estou me dedicando a reunir material, já imaginando aquela matéria longa no Jornal Nacional sobre a Agropecuária Veine Patrimonial,  uma picaretagem internacional destinada a encobrir a propriedade de uma mansão em Parati.


Pois  encontrei documentos oficiais – requerimentos junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial, a partir de uma dica dada por um leitor – que definem, afinal, para que se montou um empresa aqui, controlada primeiro por uma offshore panamenha e , depois, por uma empresa do “miniparaíso fiscal” do Estado de Nevada, nos EUA, montada pela mesma Mossack-Fonseca que a Lava Jato fiz que é uma oficina de lavagem de dinheiro.
Está sentado? Sente-se, se não está.
A Agropecuária Veine construiu uma mansão milionária em área pública, com heliporto, e operava o helicóptero Agusta 109 prefixo PT-SDA em parceria com a Brasif, que contratou Mírian Dutra para, segundo ela, pagar a pensão do “ex-pai” de seu filho,  porque “se dedica a serviços de preservação de animais silvestres, especialmente vieiras e mexilhões para preservação ambiental”.
Não, eu não estou maluco, não.
É a afirmação contida num documento em que a Agropecuária Veine pedia o registro da marca Santa Rita – nome da praia onde está a mansão e, por acaso, enfrentou no registro de marcas e patentes a oposição da Céu Azul Alimentos, que desde 1997 havia registrado Santa Rita a marca de frangos que produz.
Como se sabe, frangos não são marítimos, a não ser na Rua Miguel Couto, no Centro do Rio, onde os portugueses assim chamam a sardinha frita, deliciosa, que servem, embora os portugueses possam ser Vieira, também.
Mais ainda, é o que consta em seu contrato social, que que se diz que, além de explorar imóveis e prospectara investimentos financeiros, sua atividade é a “manutenção de  animais em cativeiro, para fins de preservação”, tudo registrado em cartório…
Que meigo, não é? Um anônimo quer preservar nossos animais silvestres e, para isso, constrói uma mansão e opera um helicoptero de luxo.
Parece piada, Dr. João?
O documento está aqui e tenho todos os outros, inclusive a cópia do contrato social da Veine, guardados comigo. É só pedir a um jornalista – jornalista, viu, não oficial de justiça – que forneço com o maior prazer.
Eu sei que o senhor e os leitores dos seus jornais, espectadores de sua televisão e ouvintes de suas rádios não  podem acreditar que uma empresa offshore, montada no Panamá, venha para o Brasil  para “defender os animais silvestres”, especialmente as vieiras – também conhecidas como coquilles saint-jacques – e mexilhões com uma mansão cinematográfica e se registrando como operadoras de helicóptero .
A alegação de cultivo de ostras e mariscos é picaretagem conhecida, tanto que Luciano Huck a usou – e tomou uma tunda na Justiça – para fechar a praia diante de sua mansão em Angra, como publicou a Folha, em 2011.
Essa gente está tripudiando das autoridades e do povo brasileiro, João Roberto.
Será que foram eles que disseram à Bloomberg que a mansão era de sua família?
Não sei, este pessoal que manipula informações e se esconde no anonimato é capaz de tudo.
Aliás, não sei porque o senhor mandou uma advogada me “notificar” com um pedido de esclarecimentos por e-mail, um troço sem valor jurídico nenhum.
Vou continuar procurando, João Roberto, e partilhando tudo aqui, porque imagino que,  esta altura, equipes inteiras da Globo procurem os donos de fato desta “agropecuária marinha”.
Se o senhor ajudar , disposto a revelar quem é o farsante que está usando a Agropecuária Veine, tenho certeza que iremos desmascarar esta turma de aproveitadores.
PS. Espero ter lembrado o colega de pagar aquela merreca devida à União, por ocupar um terreno público  de mais de 130 mil metros quadrados

Fonte: TIJOLAÇO