sexta-feira, 27 de março de 2015

Sucessão de Lacerda movimenta partidos em BH


PT, PSB, PSDB, PV, PMDB, PCdoB, PTN e vários outros partidos e lideranças políticas do Estado já começam as articulações em torno da sucessão de Márcio Lacerda nas eleições de 2016 à prefeitura de Belo Horizonte.

Nos últimos dias surgiram nomes como do presidente da Câmara Municipal Wellington Magalhães (PTN), do deputado estadual João Vitor Xavier (PSDB), do deputado federal Stefano Aguiar (PSB), da secretária municipal Luzia Ferreira (PPS), além do vice-prefeito Délio Malheiros (PV).

No PT há um consenso da militância em torno da necessidade de o partido construir sua unidade interna e ter candidatura própria para a disputa da PBH, tentando assim seu retorno à frente do executivo municipal, interrompido em 2008 com a desastrada aliança "informal" com os tucanos que elegeu Lacerda.


O grande nome do partido que poderia consolidar esta unidade interna é do ex-prefeito, ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias. Mas, entendendo que as tarefas de Patrus no ministério da presidenta Dilma são imprescindíveis neste momento em que a crise financeira internacional chega com muito mais força em nosso país e que as forças reacionárias e de direita atacam nosso governo, a presença e a atuação de Patrus no ministério é muito importante.

Vários outros nomes do PT estão sendo cogitados, como os dos deputados federais Reginaldo Lopes, Gabriel Guimarães, Miguel Corrêa (atual secretário de Ciência e Tecnologia de MG) e do secretário de planejamento do Estado Helvécio Magalhães.

Nome de peso que surge neste cenário e com bastante força, pois conta com o apoio de grande parte da militância, de lideranças dos movimentos sociais e sindicais é do deputado estadual Rogério Correia. Rogério Correia foi vereador de Belo Horizonte por três mandatos, presidente do PT-BH e deputado estadual agora no quarto mandato sempre com expressivas votações em Belo Horizonte.

A atuação de Rogério Correia na Assembleia Legislativa na oposição aos governos tucanos de Aécio e Anastasia, na criação do Bloco Minas Sem Censura, em defesa dos trabalhadores, do funcionalismo público e dos professores colocam sua candidatura com bastante força na capital.

Internamente ao PT, sua atuação sempre em defesa do fortalecimento da militância, do socialismo, de todos os compromissos que expôs quando de sua candidatura à presidência do PT MG, contra acordos fora da base de apoio ao nosso governo federal, como foi o de 2008, contra os chamados "bichos esquisitos" como os "lulécios e dilmazias" o credenciam também a trazer para a campanha à PBH toda a energia da militância petista.

O jogo está começando, as peças começam a se movimentar neste xadrez político, 2016 promete muitas surpresas.







por Marco Aurélio Rocha


Veja reportagens nos post's:

http://marcoaurelioptmg.blogspot.com.br/2015/03/articulacoes-para-disputa-da-pbh-em.html

http://marcoaurelioptmg.blogspot.com.br/2015/03/vitorioso-mas-em-baixa-pt-tem-dor-de.html

Vitorioso, mas em baixa, PT tem dor de cabeça para 2016 na capital

No partido, os nomes mais comentados para encabeçar a chapa à PBH são os do deputado federal Gabriel Guimarães e do secretário de Ciência e Tecnologia, Miguel Corrêa


Com a imagem desgastada e enfrentando uma turbulenta crise política, o PT começa a refletir sobre sua atuação e seus planos para as eleições de 2016. Apesar de terem saído vitoriosos para o governo de Minas, os petistas já temem um resultado ruim na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte. Internamente, comenta-se a falta de nomes relevantes e conhecidos da população para a eleição, além de as manifestações antigoverno federal terem surpreendido boa parte da sigla, fato que eleva a preocupação.

“É realmente uma situação complicada, até pela falta de nomes que temos para indicar. A situação, no geral, não é boa. Mas é preciso analisar todo o cenário, não há nenhum candidato tão relevante em nenhum partido”, diz um interlocutor ligado ao partido e à administração Pimentel.
Para o deputado federal Reginaldo Lopes, o partido precisa voltar a dialogar com a sociedade, e não “se divorciar da política”. “O PT precisa, no geral, retomar diálogo com a sociedade. Há uma ausência de diálogo, o PT não pode se divorciar da política, o PT, quando vira governo, acha que tudo se resolve com obras, e não é assim. Não podemos menosprezar o capital dos movimentos sociais. O PT tem que parar de reclamar que não tem espaço na imprensa e dialogar mais com a sociedade”, diz.
O ponto de largada para 2016, inclusive, já deve ser dado neste fim de semana, quando o presidente nacional do PT, Rui Falcão, vem a Belo Horizonte para se encontrar com a cúpula mineira e discutir a situação na região metropolitana. Além da visita do líder partidário, diversas reuniões acontecem por todo o Estado, onde o partido pretende estar presente em mais de 500 prefeituras após a próxima eleição.
De acordo com a presidente do PT de Minas, Cida de Jesus, a sigla reconhece que precisa melhorar e ampliar o campo de diálogo, até pelo fato de, segundo ela, os protestos terem revelado a existência de um “ódio” contra o PT. “Nos surpreendeu, não a marcha, mas o ódio. Isso nos motiva mais e mais a ampliar o campo, dialogar com a CNBB, que puxa um movimento forte, tem as mesmas bandeiras nossas de defesa direito do cidadão, a OAB, que são grupos formadores de opinião. O PT reconhece que precisa melhorar. Toda eleição requer cuidado e planejamento, precisamos corrigir detalhes estratégicos”, argumenta.
No partido, os nomes mais comentados para encabeçar a chapa à PBH são os do deputado federal Gabriel Guimarães e do secretário de Ciência e Tecnologia, Miguel Corrêa. O titular de Planejamento, Helvécio Magalhães, também vem sendo ventilado pelo grupo para entrar na disputa.

Fonte: O TEMPO

sexta-feira, 20 de março de 2015

Articulações para a disputa da PBH em 2016 racham o PSB

Socialistas temem que proximidade do prefeito com os tucanos retire o protagonismo do partido



DENISE MOTTA
O PSB do prefeito da capital Marcio Lacerda vive momento de combustão. O clima esquenta com a abertura de espaço para o PSDB no primeiro escalão do Poder Executivo.

Os socialistas temem que a aproximação do prefeito com o PSDB do senador Aécio Neves, do ponto de vista administrativo, possa significar uma aliança com vistas às eleições municipais de 2016. O receio maior é que o PSB não mantenha a cabeça de chapa. Há quem compreenda essas costuras como enfraquecimento do partido.
“Se ele quer fortalecer o PSB, por que nomeia só secretários do PSDB?”, questiona o secretário estadual da juventude do PSB, Igor Versiani, citando frase do presidente nacional do partido, Carlos Siqueira: “O PSB não é um partido satélite do PSDB”.
As fissuras no PSB mineiro tiveram início no ano passado, quando Lacerda apoiou o candidato tucano ao governo de Minas, Pimenta da Veiga, mesmo com o lançamento, por sua legenda, do nome do ex-prefeito de Juiz de Fora Tarcísio Delgado.
O deputado federal Júlio Delgado, filho de Tarcísio não esconde descontentamento, sem citar nomes. “Tem gente que não trabalhou pelo crescimento do partido. Quando eu peguei o partido, tínhamos um deputado (federal) e agora temos três. Depois que a gente roeu o osso, estão querendo pegar a picanha”, disse.
Questionado sobre quem seria esse grupo interessado em se aproveitar dos esforços de seu trabalho pelo fortalecimento do PSB, esquivou-se, defendendo um nome do PSB para se candidatar à sucessão de Lacerda no ano que vem. Ainda disse que apoiaria a candidatura do deputado federal Stefano Aguiar à Prefeitura de Belo Horizonte e que está à disposição da legenda para disputar sua reeleição na presidência do diretório estadual. “Até onde eu sei, a direção nacional gosta do meu trabalho. Não vou fazer nada que a direção nacional não queira”.
O vereador Alexandre Gomes defende o nome do prefeito para assumir o PSB de Minas no lugar de Delgado. “Há alguns insatisfeitos, mas a maior parte do partido quer que o Marcio Lacerda assuma a direção estadual. A insatisfação é um pensamento minoritário.”
A troca de presidente estadual do PSB em Minas ou recondução de Delgado depende de uma orientação da sigla no âmbito federal, informou o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, sem citar data.
Em sintonia com Delgado, Siqueira defende um nome próprio para a sucessão e ainda abre o leque para conversas com diversos partidos. “Se há divergência, é sinal de vitalidade. O PSB tem seu próprio projeto e pode conversar com PT e com PSDB”.
Com o PT
Assad. Ex-secretário de Assuntos Institucionais de Marcio Lacerda e membro do diretório nacional do PSB, Mário Assad apoiou o petista Fernando Pimentel na corrida ao Palácio da Liberdade. Com a vitória de Pimentel, Assad ganhou a diretoria da MGI (Minas Gerais Participações), empresa de direito privado que tem o governo mineiro como acionista majoritário.
Coerência. “Fui coerente. Fui secretário de Pimentel e do Marcio. Eu trabalhei na campanha do Marcio por orientação do Pimentel”, diz Assad que, em 2012, apoiou a candidatura à reeleição de Marcio Lacerda contra o PT, que lançou o ex-ministro Patrus Ananias.
Tilden fica perto dos tucanos

Ex-embaixador do Brasil em Cuba e um dos fundadores do PT, Tilden Santiago encontrou no PSB um ninho para aliar-se ao senador Aécio Neves. Santiago ocupou a diretoria da Copasa, Companhia de Saneamento de Minas, em 2011, na gestão de Antonio Anastasia. Em 2007, antes de trocar o PT pelo PSB, acabou suspenso do PT por ocupar a assessoria da presidência da Cemig, Companhia Energética do Estado, na gestão Aécio. Tilden é segundo suplente de Aécio no Senado. O primeiro suplente é Elmiro Nascimento, do Democratas.
Fonte: O TEMPO

segunda-feira, 16 de março de 2015

Qual será a resposta do governo e do PT?

zé e Rossetto
pouparam a Globo !

zé e Rossetto deram legitimidade à tentativa de Golpe !
Conversa Afiada reproduz artigo de Breno Altman e recomenda também, na mesma linha, a leitura de “Protesto de coxinha. Golpe é o teu nome”:

QUAL SERÁ A RESPOSTA DO GOVERNO E DO PT?



A escalada contra a presidente Dilma Rousseff se transformou, a partir deste domingo, em movimento reacionário de massas. A última vez que assistimos fenômeno dessa natureza foi às vésperas do golpe militar de 1964, com as marchas que abriram alas para os tanques.

Ainda que a situação política seja distinta e não estejamos às beiras de uma ruptura constitucional, menos ainda da intervenção militar apregoada por frações do antipetismo, mudou de qualidade a disputa entre os dois campos nos quais se divide atualmente o país.

Setores numerosos das camadas médias colocaram na ordem do dia a derrubada de um governo legitimamente eleito. Contam com a associação dos principais meios de comunicação e partidos de direita, incluindo elementos da base aliada.

A chefe de Estado e o Partido dos Trabalhadores precisam decidir qual rumo irão tomar diante deste novo fato político.

A patética entrevista dos ministros Miguel Rossetto e José Eduardo Martins Cardoso, na noite de ontem, aponta o caminho da conciliação e do acordo.

Não tiveram a elegância de ir a público no dia 13, quando o movimento sindical e popular saiu às ruas para defender a democracia e protestar contra o ajuste fiscal.

Mas açodadamente se apresentaram para conferência de imprensa, ao vivo, depois das manifestações convocadas pela República de Higienópolis. Seu discurso as avalizou como democráticas por terem sido pacíficas, além de oferecer uma mão estendida e trêmula para o diálogo.

Não foram capazes nem sequer de denunciar atuação partidária e manipuladora da Rede Globo, uma concessão pública, claramente transformada em porta-voz da intentona reacionária.

Possivelmente o complemento desta atitude seja imaginar que o governo, para se proteger, deva abrir ainda mais espaços para o conservadorismo na composição do gabinete, dobrar-se com maior genuflexão ao parlamento e renunciar mais claramente à agenda sufragada nas eleições de outubro.

O raciocínio implícito a esta orientação é de que sempre existe a possibilidade de evitar o confronto contra classes sociais e grupos políticos hostis a quaisquer mudanças que minimamente afetem seus interesses ou potencialmente ameacem sua hegemonia.

Getúlio Vargas ceifou a própria vida porque acreditou nesta suposição e viu-se encurralado. João Goulart foi apeado do poder e morreu fora do país porque partilhou a mesma ilusão.

Se for esta a estratégia, por falar em história, o governo correrá o risco de repetir cenário provocado por Neville Chamberlain, então primeiro-ministro inglês, quando cedeu a Tchecoslováquia para os alemães, em 1938, tentando apaziguar Hitler. “Entre a guerra e a desonra, escolheu a desonra, e terá a guerra”, afirmou Winston Churchill, seu clarividente conterrâneo e sucessor.

Mas há outras alternativas à disposição da presidente e do PT.

A mobilização do dia 13 demonstrou que existem potentes reservas de apoio para Dilma recompor o bloco político que permitiu seu triunfo em outubro. Há espaço para a construção de uma frente ampla que defenda a democracia e as reformas populares, buscando reunir nas ruas as forças que faltam ao governo dentro das instituições.

Obviamente este passo será possível apenas se a política econômica e a própria composição ministerial forem revistas.

A presidente instalou um clima de confusão, divisão e desânimo nos últimos meses, com as medidas de ajuste fiscal e a nomeação de ministros sem qualquer compromisso com o programa vitorioso em 2014.

Talvez acreditasse que seu problema principal fosse o mesmo de sempre: como obter maioria parlamentar e apaziguar o capital, de tal forma que sua administração pudesse evitar o isolamento e enfrentar as dificuldades da economia.

A dimensão da jornada antidemocrática, no entanto, mostra que é outra a questão crucial: sem uma repactuação urgente com o campo popular, o petismo perderá as condições de disputar vitoriosamente as praças públicas, os corações e mentes dos milhões de trabalhadores que formam sua base social.

Não há tempo a perder, esta é a verdade.

Os próximos dias e semanas valerão por anos.

O projeto histórico representado pelo PT e a esquerda está em perigo real e imediato.

quinta-feira, 12 de março de 2015

Por que Abril e Globo são clientes 'premium' da Sabesp e têm gordos descontos?

por Pedro Zambarda de Araujo, para o DCM publicado 12/03/2015 10:29


O jornal El Pais divulgou na terça-feira (10) uma lista de 537 clientes que recebem até 75% de desconto no uso de sua água fornecida pela Sabesp. São grandes empresas, como o McDonald’s, indústrias e até a companhia de bebidas Bacardi. Entre elas, estão a Abril, a Globo, a Record e o portal UOL.
O Estadão estava originalmente na lista, publicada às 10h da manhã no El Pais. Ela foi atualizada com mais nomes às 17hrs do mesmo dia e o jornal sumiu. O texto divulgado pela Agência Estado não fala, obviamente, da primeira listagem.
Por qual motivo essas companhias ganham expressivos descontos, enquanto o cidadão comum paga cada vez mais caro e pode receber multas de até 250 reais por lavar a calçada?
Quarenta e dois clientes iniciaram seus contratos em 2014, quando a escassez no sistema Cantareira já havia acionado as cotas de volume morto. Ou seja, a Sabesp deveria ter evitado novos acordos com estes descontos, pois eles gastam 1,8 bilhão de litros e foram responsáveis pela alta de 5,4% no consumo anual.
As mais de 500 companhias recebem gordos descontos porque a Sabesp negocia seus contratos “no atacado”. O fornecimento leva em conta que um shopping com o porte de um Eldorado consome pelo menos 20 milhões de metros cúbicos de água para atender um público 1,8 milhão de pessoas por mês, um valor muito superior aos 15 mil litros consumidos por uma família de quatro pessoas no mesmo período de tempo.
O cliente pessoa física é tratado como se estivesse “no varejo”, com uma tarifa proporcionalmente maior.
Os critérios para escolha dos clientes “premium” são técnicos, de acordo com a Sabesp. Por que praticar estes preços? Para manter a alta lucratividade em cima da venda de grandes volumes. Se grandes grupos pagassem os mesmos R$ 13,97 do consumo doméstico, teriam que racionar água, diminuindo o consumo e balançando o faturamento da empresa que é fornecedora de recursos hídricos do estado de São Paulo.
Com isso, provavelmente a população teria níveis hídricos mais confortáveis para enfrentar a estiagem que foi forte em 2014 e que deve voltar neste ano.

O ex-presidente por trás dos contratos

Gesner Oliveira tem 58 anos, é economista pela FEA-USP e doutor pela Universidade da Califórnia. Ele tem história no setor público como secretário adjunto da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda de 1993 a 1995, como secretário interino de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, também em 1995 e como presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) entre 1996 e 2000. Foi presidente da Sabesp entre 2007 e 2010, quando formalizou os contratos de demanda firme.
Oliveira chegou a afirmar, em fevereiro, que a Sabesp já deveria ter suspendido o privilégios dos “premium”.
O DCM obteve acesso exclusivo a uma apresentação feita por Oliveira à Câmara dos Vereadores para a CPI da Sabesp. No documento apresentado no dia 5 de novembro de 2014, chamado “Futuro da água: uma agenda para a sociedade civil e diferentes esferas de governo”, ele pede que a sociedade e o governo mudem radicalmente de comportamento em relação à água, sem mencionar as empresas. Atualmente, atua como consultor privado em negócios que incluem o setor de gestão hídrica.

Conflito de interesses

Há um conflito claro de interesses na maneira como a crise é coberta pelos veículos dos dois grupos de mídia incluídos na lista “premium”. Não se trata apenas de alinhamento “ideológico”.
A Abril, através de suas revistas, não atribui qualquer responsabilidade ao governador Geraldo Alckmin, enquanto a Globo mantém seus jornalistas focados na questão da seca do sudeste, sem fazer questionamentos sobre a atuação da empresa fornecedora de água.
O site da Veja não noticiou as demissões recentes dentro da Sabesp, o que era de se esperar, mas a Exame dá destaque à ameaça de greve dos sindicalistas e à baixa das ações. Eventualmente, publicações segmentadas da Abril relatam contaminação durante a crise hídrica.
O UOL foi até a represa Atibainha, em Nazaré Paulista, fotografar o carro que se tornou símbolo da seca no Cantareira, mas dá manchetes animadas quando ocorrem chuvas, sendo que o nível das represas não superou nem a segunda cota do volume morto. Já a Record faz uma cobertura parecida com a da TV Globo, atenta à seca mas pouco crítica.
O Fantástico conseguiu ir a Itu contar o drama da cidade e em nenhum momento citou o nome de Alckmin ou de alguma outra autoridade estadual. Não apareceu em cena sequer a famosa frase “entramos em contato com a assessoria do governador Geraldo Alckmin, mas ele não quis responder”.
Falta água, mas uma mão lava a outra.

Fonte: REDE BRASIL ATUALO jornal El Pais divulgou na terça-feira (10) uma lista de 537 clientes que recebem até 75% de desconto no uso de sua água fornecida pela Sabesp. São grandes empresas, como o McDonald’s, indústrias e até a companhia de bebidas Bacardi. Entre elas, estão a Abril, a Globo, a Record e o portal UOL.
O Estadão estava originalmente na lista, publicada às 10h da manhã no El Pais. Ela foi atualizada com mais nomes às 17hrs do mesmo dia e o jornal sumiu. O texto divulgado pela Agência Estado não fala, obviamente, da primeira listagem.
Por qual motivo essas companhias ganham expressivos descontos, enquanto o cidadão comum paga cada vez mais caro e pode receber multas de até 250 reais por lavar a calçada?
Quarenta e dois clientes iniciaram seus contratos em 2014, quando a escassez no sistema Cantareira já havia acionado as cotas de volume morto. Ou seja, a Sabesp deveria ter evitado novos acordos com estes descontos, pois eles gastam 1,8 bilhão de litros e foram responsáveis pela alta de 5,4% no consumo anual.
As mais de 500 companhias recebem gordos descontos porque a Sabesp negocia seus contratos “no atacado”. O fornecimento leva em conta que um shopping com o porte de um Eldorado consome pelo menos 20 milhões de metros cúbicos de água para atender um público 1,8 milhão de pessoas por mês, um valor muito superior aos 15 mil litros consumidos por uma família de quatro pessoas no mesmo período de tempo.
O cliente pessoa física é tratado como se estivesse “no varejo”, com uma tarifa proporcionalmente maior.
Os critérios para escolha dos clientes “premium” são técnicos, de acordo com a Sabesp. Por que praticar estes preços? Para manter a alta lucratividade em cima da venda de grandes volumes. Se grandes grupos pagassem os mesmos R$ 13,97 do consumo doméstico, teriam que racionar água, diminuindo o consumo e balançando o faturamento da empresa que é fornecedora de recursos hídricos do estado de São Paulo.
Com isso, provavelmente a população teria níveis hídricos mais confortáveis para enfrentar a estiagem que foi forte em 2014 e que deve voltar neste ano.

O ex-presidente por trás dos contratos

Gesner Oliveira tem 58 anos, é economista pela FEA-USP e doutor pela Universidade da Califórnia. Ele tem história no setor público como secretário adjunto da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda de 1993 a 1995, como secretário interino de acompanhamento econômico do Ministério da Fazenda, também em 1995 e como presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) entre 1996 e 2000. Foi presidente da Sabesp entre 2007 e 2010, quando formalizou os contratos de demanda firme.
Oliveira chegou a afirmar, em fevereiro, que a Sabesp já deveria ter suspendido o privilégios dos “premium”.
O DCM obteve acesso exclusivo a uma apresentação feita por Oliveira à Câmara dos Vereadores para a CPI da Sabesp. No documento apresentado no dia 5 de novembro de 2014, chamado “Futuro da água: uma agenda para a sociedade civil e diferentes esferas de governo”, ele pede que a sociedade e o governo mudem radicalmente de comportamento em relação à água, sem mencionar as empresas. Atualmente, atua como consultor privado em negócios que incluem o setor de gestão hídrica.

Conflito de interesses

Há um conflito claro de interesses na maneira como a crise é coberta pelos veículos dos dois grupos de mídia incluídos na lista “premium”. Não se trata apenas de alinhamento “ideológico”.
A Abril, através de suas revistas, não atribui qualquer responsabilidade ao governador Geraldo Alckmin, enquanto a Globo mantém seus jornalistas focados na questão da seca do sudeste, sem fazer questionamentos sobre a atuação da empresa fornecedora de água.
O site da Veja não noticiou as demissões recentes dentro da Sabesp, o que era de se esperar, mas a Exame dá destaque à ameaça de greve dos sindicalistas e à baixa das ações. Eventualmente, publicações segmentadas da Abril relatam contaminação durante a crise hídrica.
O UOL foi até a represa Atibainha, em Nazaré Paulista, fotografar o carro que se tornou símbolo da seca no Cantareira, mas dá manchetes animadas quando ocorrem chuvas, sendo que o nível das represas não superou nem a segunda cota do volume morto. Já a Record faz uma cobertura parecida com a da TV Globo, atenta à seca mas pouco crítica.
O Fantástico conseguiu ir a Itu contar o drama da cidade e em nenhum momento citou o nome de Alckmin ou de alguma outra autoridade estadual. Não apareceu em cena sequer a famosa frase “entramos em contato com a assessoria do governador Geraldo Alckmin, mas ele não quis responder”.
Falta água, mas uma mão lava a outra.

terça-feira, 10 de março de 2015

O nome da crise é Dilma; e a saída também





Depois da lista da Lava Jato, a crise institucional pega todos os poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário, partidos políticos, o Ministério Público (ameaçado por uma CPI do Senado) e a velha mídia. É uma barafunda tão grande que fica quase impossível calcular a resultante final.

De qualquer modo, o governo deixa de ser alvo único, o que ajudará a dispersar as pressões.

O governo Dilma conseguiu se indispor com os empresários ao permitir o descontrole fiscal; com os movimentos sociais ao fazer o ajuste sem consulta-los; alimentou a onda contra a Petrobras pela demora em agir; desgastou-se com o Judiciário pela falta de verniz político; com o Congresso, por tentar disputar a eleição da presidência da Câmara sem condições. E com todos por não ouvir ninguém.

Mas continua sendo melhor que a oposição.

***

A divulgação da lista da Lava Jato pela primeira vez tirou Dilma do foco do noticiário. Aí a presidente aparece em rede nacional para chamar os tiros para si novamente.

Mas tem trunfos. É republicana até o limite da ingenuidade, está empenhada em uma saída econômica ortodoxa (melhor do que não ter saída nenhuma) e não mostra disposição para a radicalização. Principalmente: o impeachment não é saída para ninguém.

***

Com o quiproquó dos últimos dias e a contagem regressiva para as manifestações dos dias 13 e 16, o quadro fica assim:

Congresso –está sob a artilharia do Ministério Público Federal e do STF (Supremo Tribunal Federal). Além disso caiu a ficha de que o PMDB é partido aliado; e o PSDB o partido que quer destruir Dilma.

Ministério Público Federal – na mira de uma CPI do Senado. Sem abdicar da punição aos culpados, terá que descer do pedestal, agir com sensibilidade política.

PSDB – saiu quase ileso da fase inicial da Lava Jato, mas abriu dois flancos: o foco de luz na lista de Furnas e em outro inquérito que pega em cheio o senador Aécio Neves, devido a uma offshore em nome da Fundação Bogart & Taylor no ducado de Liechtenstein. Desde 2010 esse inquérito repousa na gaveta do Procurador Geral. Além disso, se Dilma cai, entra o PMDB de Temer.

Movimentos a favor – Dilma conseguiu criar tal perplexidade nos aliados que ainda não se sabe se a manifestação do próximo dia 13 será a favor da Petrobras ou contra o pacote fiscal.

***

A única certeza que se tem, sobre esse imbróglio monumental, é que se Dilma Rousseff demonstrasse um mínimo de competência política, a crise seria debelada. Por várias razões:

Não há a menor possibilidade de um impeachment via Judiciário, ainda mais depois que a Lava Jato não revelou nenhum envolvimento direto da presidente. Para avançar por aí, o Judiciário teria que atropelar os instrumentos legais.

É escassíssima a possibilidade de Dilma jogar a toalha e renunciar. Entre os defeitos da presidente, certamente não está o de desistir da luta.

É improvável um impeachment via Congresso. Primeiro, pela desarticulação do próprio Congresso com a Lava Jato. As manifestações de reação de Renan Calheiros e Eduardo Cunha são muito mais fruto de desespero do que de demonstração de força.

A economia está fraca, mas longe de uma desorganização geral.

Nos próximos dias, se verá um fenômeno curioso e previsível. Vai cair a ficha do meio empresarial que grande parte da instabilidade econômica decorre da atuação de Fernando Henrique Cardoso.

Os empresários que acreditaram que o choque ortodoxo era a única maneira de preparar o país para a nova etapa, que o pacote fiscal era inevitável, que aceitaram o discurso do PSDB e de seu guru máximo, FHC, devem estar tão decepcionados quanto os petistas que acreditaram que não haveria arrocho. Em breve entenderão que a última das bandeiras do PSDB - a de não colocar os interesses partidários acima dos interesses nacionais - era apenas uma falácia.

Fonte: GGN

Reservatório é construído para armazenar água de duas minas em Lourdes

Equipamento tem capacidade de 4 mil litros e vai evitar que o recurso seja desperdiçado


Gustavo Werneck



Pedreiros construíram o reservatório com capacidade para 4 mil litros na Praça Marília de Dirceu, em Lourdes, que será testado hoje

A inauguração oficial estava marcada para hoje, com a presença de autoridades municipais, mas um problema elétrico adiou a apresentação da novidade também a moradores, lojistas e a quem passa pelo Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. “À tarde, por volta das 16h, vamos fazer o primeiro teste, mas não vai demorar muito para entrar definitivamente em operação, talvez nos próximos dois dias”, diz, com entusiasmo, o presidente da associação comunitária local, Jeferson Rios, a respeito do reservatório construído na Praça Marília de Dirceu. Com capacidade para 4 mil litros de água, o equipamento aproveita duas minas cujos volumes enchem a caixa de dois prédios e têm o excedente lançado na rede pluvial.


A crise hídrica acendeu o sinal vermelho para o consumo excessivo de água, amarelo para um provável desabastecimento e verde para ideias criativas. “Estamos muito preocupados com a situação, então decidimos aproveitar o recurso dado pela natureza e não usado como deveria”, afirma Jeferson. Tudo começou, segundo ele, com os jatos d’água que brotavam na área perto da Praça Marília de Dirceu, o charmoso ponto comercial do bairro. “Para não ficar escorrendo pela rua, houve o bombeamento para a caixa dos prédios. O tempo passou e, com a escassez, vimos que era necessário aproveitar o restante da água.”

A primeira providência foi pedir autorização à prefeitura, “que não só concedeu a licença como também nos deu parabéns pela iniciativa”, orgulha-se Jeferson. Com recursos (R$ 10 mil) da própria Associação dos Moradores do Bairro de Lourdes (Amalou), foi construído o reservatório subterrâneo, cujo água armazenada servirá para molhar o jardim do espaço público, a grama e ainda atender os 20 lavadores de carro cadastrados, que terão direito a 40 latas por dia (20 pela manhã e 20  à tarde). “Eles são nossos parceiros e ajudam a manter a segurança no bairro.”

“Fizemos economia para investir nessa ideia, que nasceu na associação. Depois que concretizamos nosso projeto, moradores de outros prédios nos pediram informações, pois existem mais três minas nos arredores”, afirma Jeferson, certo de que o aproveitamento das águas poderá ser levado para outras regiões de BH e cidades mineiras. Na tarde de ontem, dois pedreiros concluíam a obra cimentando o entorno do equipamento. “Está faltando mesmo só a parte elétrica”, reitera o presidente da Amalou.

GASTO DIÁRIO Outra decisão que pesou muito na balança foi o pedido da Copasa para redução do gasto de água. Com a mina brotando bem ali perto, e a notícia de que a água não sairia mais da torneira da praça, a direção da associação fez a contas e pensou na beleza do jardim, que fatalmente sairia perdendo, e na necessidade de encontrar outra fonte. “Precisamos de 8 mil litros diários e, como o reservatório enche em duas horas, poderemos atender à demanda, sem problemas.”

Juca Kfouri: O panelaço da barriga cheia e do ódio


Nós, brasileiros, somos capazes de sonegar meio trilhão de reais de Imposto de Renda só no ano passado. Como somos capazes de vender e comprar DVDs piratas, cuspir no chão, desrespeitar o sinal vermelho, andar pelo acostamento e, ainda por cima, votar no Collor, no Maluf, no Newtão Cardoso, na Roseana, no Marconi Perillo ou no Palocci. 
 
O panelaço nas varandas gourmet de ontem não foi contra a corrupção. Foi contra o incômodo que a elite branca sente ao disputar espaço com esta gente diferenciada que anda frequentando aeroportos, congestionando o trânsito e disputando vaga na universidade. 
 
Elite branca que não se assume como tal, embora seja elite e branca. Como eu sou. Elite branca, termo criado pelo conservador Cláudio Lembo, que dela faz parte, não nega, mas enxerga. 
 
Como Luís Carlos Bresser Pereira, fundador do PSDB e ex-ministro de FHC, que disse:
 
“Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio. Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos. O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita. Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.”
 
Nada diferente do que pensa o empresário também tucano Ricardo Semler, que ri quando lhe dizem que os escândalos do mensalão e da Petrobras demonstram que jamais se roubou tanto no país. 
 
“Santa hipocrisia”, disse ele. “Já se roubou muito mais, apenas não era publicado, não ia parar nas redes sociais”.
 
Sejamos francos: tão legítimo como protestar contra o governo é a falta de senso do ridículo de quem bate panelas de barriga cheia, mesmo sob o risco de riscar as de teflon, como bem observou o jornalista Leonardo Sakamoto.
 
Ou a falta de educação, ao chamar uma mulher de “vaca” em quaisquer dias do ano ou no Dia Internacional da Mulher, repetindo a cafajestagem do jogo de abertura da Copa do Mundo.
 
Aliás, como bem lembrou o artista plástico Fábio Tremonte: “Nem todo mundo que mora em bairro rico participou do panelaço. Muitos não sabiam onde ficava a cozinha”.
 
Já na zona leste, em São Paulo, não houve panelaço, nem se ouviu o pronunciamento da presidenta, porque faltava luz na região, como tem faltado água, graças aos bom serviços da Eletropaulo e da Sabesp.
 
Dilma Rousseff, gostemos ou não, foi democraticamente eleita em outubro passado.
 
Que as vozes de Bresser Pereira e Semler prevaleçam sobre as dos Bolsonaros é o mínimo que se pode esperar de quem queira, verdadeiramente, um país mais justo e fraterno.
 
E sem corrupção, é claro!
 
(Artigo inicialmente publicado no Blog do Juca)

segunda-feira, 9 de março de 2015

O que Brizola diria dos paneleiros?


Os mais de vinte anos de convívio diário com Leonel Brizola me fazem, por vício, imaginar como ele reagiria diante de situações como a promovida pelos “paneleiros” da classe média, ontem.
Já fico vendo o velho recebendo os repórteres e dizendo:
- Olha, eu estou preocupadíssimo com as “panêlas”…
– O senhor acha que a Dilma está correndo risco? Qual deveria ser a atitude dela?
- Fazer o que ela fez no programa daquela “mulhêr” da Globo, aquela parecida com a Marta Suplicy… Fazer uma “omelête” que, vocêm sabem, exige que se quebrem os “ôvos”…Senão ela vira o “Gorbachôv”…
– Como assim?
– É que o “Gorbachôv” foi da glória para a desgraça por aceitar a lógica do inimigo, mais ou menos como a nossa amiga está deixando que se faça…
– Hã?
- Vejam se ela não está falando as coisas bem bonitinhas, como os adversários exigiam dela: cortar despesas, aumentar os juros, a energia… E isso adianta? A Globo é menos golpista por causa disso? Esta gente é como cão, quanto mais lhes dão o osso, mais rosna. Não que ela não deva fazer correções, mas não pode é entregar a rapadura…
– E como é isso, governador?
- É não se deixar levar pelas “panêlas” do Morumbi, mas pelas outras… Aquelas de feijão, de arroz, de farofa que precisam continuar cheias. Ela precisa mostrar, na prática e no discurso, que é com as “panêlas” do povo que ela quer governar.
– Mas as panelas do povo não estão sendo sacrificadas pela inflação?
- Claro, mas você já viu algum órgão de imprensa fazendo campanha contra o preço da batata e investigando porque o preço do tomate dispara e o do extrato de tomate, aguele de saquinhos, está mais ou menos a mesma coisa?
– O senhor está dizendo que há especulação?
- Olha, quando você ainda eram guris, vocês sabiam que tinha uma espécie de tubarão aqui no Rio de Janeiro que hoje ninguém lembra…
– ?????
- Eram os tubarões da Rua do Acre, ali na Praça Mauá, uns bichos de bocarra bem grande… Porque é que vocês não fazem uma reportagem para saber porque a saca de 50 quilos de batata inglesa custa R$ 70 no Ceasa - R$ 1,20 por quilo – e mais de quatro reais no supermercado? Francamente, nem o Paulo Roberto Costa fazia um superfaturamento assim…
E os jornalistas todos olhando, meio incrédulos, porque onde já se viu discutir economia e corrupção  falando em preço da batata?

Fonte: TIJOLAÇO

Rogério Correia afirma que Janot tem as provas e cobra investigação sobre Aécio


sexta-feira, 6 de março de 2015

Noblat, Lula e a sina dos homens comuns




Recentemente, o colunista e blogueiro Ricardo Noblat escreveu um artigo sobre Lula. Trata-se de um dos mais significativos artigos dos últimos anos. Não para entender o fenômeno Lula, mas como material de estudo sobre como o senso comum da mídia o via.
Deixe-se de lado a bobagem de apresentar Lula como ameaça à democracia por convocar o exército de Stédile. É tão inverossímil quanto os 200 mil soldados das FARCs que invadiriam o Brasil em 2002, em caso de vitória de Lula.
Fixemos nas outras características de Lula, apud Noblat: rude, grosseiro, desleal, por não ter defendido José Dirceu e Luiz Gushiken. Também despeitado já que, segundo Noblat, ele queria ser candidato em 2014 e Dilma não permitiu (não é verdade, mas não importa). Ou a ficção de que luta para enfraquecer Dilma - mesmo Noblat sabendo que o fracasso de Dilma seria o fim do lulismo. No ano passado cometeu o feito de chamar Lula de “moleque de rua”.
O que é fascinante em Noblat é o uso da fita de medir homens comuns aplicada em homens de Estado. Pois por aí ele reedita um fenômeno que marca a politica desde os tempos de César: a dificuldade do homem comum em interpretar o Estadista e os recursos para trazer o personagem ao nível da mediocridade (entendido aí do pensamento médio) do leitor.
Mais um vez  recorro a Ortega y Gasset e seus portentosos ensaios sobre Mirabeau. Foi o homem que, na Constituinte, salvou a revolução francesa, apontando os rumos e definindo o novo desenho institucional.
Algum tempo depois morreu e seus restos mortais inauguraram o Panteon, que a França reservou para celebrar seus grandes homens. Aí descobriram o diabo da vida pregressa de Mirabeau. Aprontou todas na juventude, deflorou virgens, fugiu com mulheres casadas, deu tombos.
Imediatamente, os homens (comuns) de bem moveram uma campanha para retirar seus ossos do Panteon. E permitiram quase século e meio depois que Ortega traçasse perfis primorosos do Estadista, do homem comum (que ele denominava de pusilânime) e do intelectual.

O perfil do Estadista

O Estadista é um exagerado em tudo, um megalômano, dizia Ortega. Pois não é que Napoleão tinha a mania de grandeza de se imaginar Napoleão?. Só um megalomaníaco compulsivo tem a pretensão de mudar o Estado.
Não é tarefa para homens comuns, para intelectuais ou para santos.
O Estadista se propõe a desafios tão grandiosos que assusta os homens comuns - e é para eles que Noblat escreve e é como eles que Noblat pensa, derivando daí sua competência jornalística.
A dimensão que alcançam, influindo no destino de países, mudando a vida de milhões de pessoas, de certo modo reescrevendo a história da humanidade, é tão ampla que intimida o homem comum. A única lealdade do Estadista é para com a mudança do Estado. Para alcançar seu objetivo, mete-se no barro, monta acordos com Deus e o diabo, deixa a educação e o pudor de lado, sempre que atrapalharem a busca do objetivo maior.
O homem comum enxerga um vulto enorme à sua frente e, para poder encará-lo, tem que trazer o monstro para a sua dimensão e julgá-lo de acordo com a sua métrica de homem comum: é educado ou grosseiro, tem ou não tem estudo, cospe no chão, conta piadas grosseiras, é desleal com amigos etc?

O tamanho de Lula

Como imaginar que um retirante, que sobreviveu à mortalidade infantil, à miséria, à fome, à falta de instrução tenha conseguido o feito de tirar 40 milhões de pessoas do nível da miséria, mudar a história do seu país, provocar comoção em cidadãos de todas as partes do mundo, dar aulas de política para centrais sindicais norte-americanas, para o Partido Socialista francês e espanhol, ser tratado como “o cara” por Barack Obama, tornar-se referência global da luta contra a miséria e um dos personagens símbolos mundiais do século 21?
Não é bolinho. Então toca trazê-lo para nossa dimensão, de mortais comuns. Como diz o José Nêumane, nosso colega que até hoje não mereceu uma menção sequer de Obama, Lula nem sabe falar direito, erra nos verbos. Como é que o Nêumane, o Noblat, eu mesmo, tão mais instruídos, não conseguimos mais destaque na vida e no mundo que aquele nordestino analfabeto?
Faz bem Noblat em tratar Lula como “moleque de rua”.
Não é fácil captar e tentar entender fenômenos desse tipo, ainda mais para nós, jornalistas, pobres mortais que, quando muito, atingimos algumas dezenas de milhares de leitores.
E aí só nos resta encontrar medidas à altura do alcance da nossa visão. Ao contrário da bailarina do Grande Circo Místico, Lula deve arrotar na mesa, coçar o saco, contar piada suja e até mostrar a língua. Noblat condena Lula por ser brusco nas reuniões com companheiros. Tenho a impressão que a sensibilidade de Noblat se arrepiaria toda se assistisse a fineza de Lula em uma assembleia de metalúrgicos.
Mais que isso. Desde os tempos antigos, o Paulo de Tarso Venceslau já falava da falta de escrúpulos de Lula para utilizar as prefeituras do PT para fortalecer o partido. No governo negociou com a Telemar, a Friboi, as empreiteiras, com o Sarney e o Renan, com o diabo.
Se tiver que jogar companheiros ao mar, em nome da missão maior, Lula jogará. Aliás, tenho a impressão que o próprio José Dirceu entendeu perfeitamente a omissão de Lula na defesa dos companheiros  – e ele, Dirceu, faria o mesmo se estivesse na sua condição.
Tem mais. Quando lhe interessa politicamente, Lula é capaz de se desdobrar em mesuras para jornalistas, empresários ou políticos. Quando não interessa, não tem nem agenda. Tem razão o Noblat: é um grosseirão!
No entanto, quem mudou o Brasil e se tornou a referência para o mundo? Fernando Henrique e sua falsa compostura (quem já encontrou FHC em ambientes sociais sabe bem qual o seu comportamento quando via moça bonita pela frente)? Suplicy? A Madre Tereza de Calcutá?
Dos defeitos e da visão
Dizia Ortega y Gasset que um Estadista deve ser analisado e julgado por suas qualidades e defeitos enquanto Estadista. Aliás, quase a mesma coisa que o marechal Cordeiro de Farias disse a Thales Ramalho, quando este, para lhe puxar o saco, desandou a falar mal de Luiz Carlos Prestes: “Apenas um personagem da história pode falar de outro”.
FHC e José Serra – que são mais estudados que Noblat – encantavam-se por terem constatado, neles próprios, algumas características dos grandes estadistas: no caso de Serra, a falta de escrúpulos, que ele justificava recorrendo sempre a esse ensaio de Ortega y Gasset; no caso de FHC, à capacidade de iludir políticos, que ele encontrara também em Roosevelt.
Faltou um detalhe essencial para se equipararem aos grandes estadistas: a visão de Estado. Imitaram apenas a falta de escrúpulos e de sinceridade. Mas sabem usar bem os talheres na refeição. E é isso que conta para os homens comuns.
Noblat já tem experiência e idade suficientes para não acreditar em contos de fada e nos cavaleiros sem mácula e sem medo. Ainda mais frequentando um castelo de homens tão puros e piedosos, quanto os das Organizações Globo, que tem um senso de realpolitik muito maior que o de Lula, mas em proveito próprio.

Fonte: Jornal GGN