quarta-feira, 20 de julho de 2016

Estrella: o pré-sal é nosso



Líder da equipe que chegou às reservas do pre-sal, alvo de um projeto de abertura ao capital estrangeiro em discussão no Congresso, o geólogo Guilherme Estrella afirma que o fator político foi decisivo para uma descoberta com impacto relevante para o país e as novas gerações." Lula rompeu com as políticas neoliberais que estavam em vigor e reconstruiu o lugar Petrobras em nosso desenvolvimento. A partir daí, estávamos a um passo do pré-sal," diz ele, na primeira parte de uma entrevista exclusiva ao 247. Estrella também acusa o governo Fernando Henrique de "reduzir em 40% a presença da Petrobras na procura de novos campos de petróleo, limitando as pesquisas da empresa e favorecendo a entrada das multinacionais."

BRASIL 247 – Como explicar a descoberta de pré-sal brasileiro?

GUILHERME ESTRELLA – Há fatores econômicos, pois envolve investimentos pesados. Também é preciso ter um bom conhecimento da área a ser explorada, com uma pesquisa geológica de qualidade. Mas o fator político foi decisivo.

247 - Por que?

GUILHERME ESTRELLA – No período que transcorreu entre a reforma neoliberal da Constituição de 1988, com a consequente quebra do monopólio e a instalação do regime de concessão internacional, havia uma política não escrita mas praticada pelos governos do PSDB. Consistia em reduzir em 40% a presença da Petrobras nos trabalhos de  engenharia e pesquisa. A razão disso era clara: pretendia-se estimular empresas estrangeiras a investir no Brasil. Estou convencido de que não era um comportamento casual, fruto de uma decisão de momento, mas uma decisão de caráter estratégico.

247 – E como se fazia isso?

GUILHERME ESTRELLA – Essa decisão impunha duas condicionantes a Petrobras. A primeira, era diminuir a participação da empresa nas licitações de blocos exploratórios promovidas pela Agencia Nacional do Petróleo, ANP. Disputando menos blocos, a empresa tinha áreas menores para pesquisar e explorar. A segunda consequência é que, na prática, essa situação obrigava a Petrobras a atuar apenas na bacia de Campos, então responsável por 80% da produção brasileira. Eram condicionantes gravíssimas para a empresa e para o Brasil.

247 – E por que?

GUILHERME ESTRELLA – Vamos lembrar o que acontecia em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Naquele momento, os blocos exploratórios da Petrobras eram suficientes para companhia manter sua atividade apenas até 2008. Pensando aonde estaríamos, se essa visão fosse mantida sem mudanças, é difícil imaginar o destino da companhia. Com certeza, seria uma empresa menor e mais fragilidade. Só para dar uma ideia. Em 2002,  investimentos em pesquisa ficavam em US$ 110 milhões. Hoje, se encontram em US$ 1,1 bilhão. O lucro líquido foi de R$ 8,1 bilhões em 2002.  Em 2013, passava de US$ 23 bilhões. Nós tínhamos 11 bilhões  de barris em reservas. Hoje, são 16,5 bilhões. Se aquelas condicionantes fossem atendidas, e era natural que tivesse sido assim, vários blocos já sob domínio da Petrobras já teriam sido a ANP em agosto de 2003.

247 – Qual era o outro efeito grave dessas condicionantes?

GUILHERME ESTRELLA – Um fato elementar do setor de E & P da nossa indústria , os campos de petróleo e ou gás natural perdem produção de modo acentuado após cinco anos. Em média, a perda pode chegar a 10% ao ano. Podemos imaginar o que isso iria significar para a Petrobras: uma situação, absolutamente fora de controle, da perda de sustentabilidade nos dez anos seguintes. Era um quadro de risco que estava começando em 2002.

247 – O que aconteceu então?

GUILHERME ESTRELLA – Logo depois da posse, o presidente Lula rompeu com a política neoliberal que estava em vigor, e que gerava uma relação perigosa de dependência externa. Numa decisão impecável, do ponto de estratégico, que foi ficando clara em inúmeros pronunciamentos, ele mudou a mensagem que vinha do governo. Mais uma vez de forma não escrita, dizia que a Petrobras iria reassumir  sua posição de principal condutora do setor petrolífero, voltando a participar de forma concreta na retomada do desenvolvimento industrial brasileira.

247 – Sabemos que essa postura foi muito bem recebida dentro da empresa. Por que?

GUILHERME ESTRELA – Não poderia ser de outra forma. Estávamos falando em investir fortemente nos blocos que, na situação anterior, deveriam ser devolvidos a ANP já em agosto. Foi assim que descobrimos os Santos os campos de Uruguá e Tambaú, de petróleo. Também encontramos o campo de gás de Mexilhão.

247 – Não era Mexilhinho?

GUILHERME ESTRELA – Nunca foi. Esse termo  depreciativo em relação a Petrobras e seus funcionários, foi uma fruto de uma crítica precipitada, de quem estava impaciente para condenar a nova orientação de qualquer maneira. Na verdade, era uma avaliação em cima  primeiros resultados da exploração, quando se colhe uma amostra parcial, incerta, que deve ser confirmada ou desmentida mais adiante. Estava totalmente errada. Com o tempo, revelou-se que Mexilhão  era, simplesmente, maior campo de gás natural já descoberto em território brasileiro.

247 – O efeito da nova postura do governo Lula foi imediato, então?

GUILHERME ESTRELLA – Sim. Com essas três descobertas foi possível confirmar a existência de um  "sistema petrolífero" na bacia de Santos. Até então, ela ficara relegada ao segundo plano nas prioridades exploratórias da Petrobras. Isso porque, sem investimentos em novas pesquisas, parecia conter,   numa área de extensão gigantesca, um único e pequeno campo de gás natural, descoberto pela Shell, ainda no período dos contratos de risco da década de 1970. Na bacia do Espírito Santo foi descoberto o Campo de Golfinho, de óleo leve (de menor custo de refino) e muito gás. Foram abertas, assim, perspectivas exploratórias muito interessantes naquela bacia sedimentar, logo acima de Campos. Até então, ela era considerada não atrativa para as atividades da empresa. Tanto assim que a decisão de fechar a unidade de E&P, em Vitória, já estava tomada.

247 – Qual a importância dessa nova postura para a descoberta do pré-sal?

GUILHERME ESTRELLA – A partir desse momento, estávamos a um passo do pré-sal. Não vamos nos enganar. A base de qualquer avanço de envergadura   consiste em aproveitar oportunidades exploratórias criadas pela competência técnica e geocientífica de uma companhia. Por essa razão é correto dizer que tudo o que veio depois significou o coroamento das decisões estratégicas de 2003. Seguindo nesta direção, na licitação da ANP daquele ano a Petrobras foi bastante agressiva. Arrematou inúmeros blocos, dentro e fora da bacia de Campos, persistindo na tendência que permitiu recompor a forte posição exploratória da companhia a longo prazo.  

247 – Como as concorrentes estrangeiras reagiram a essa postura?

GUILHERME ESTRELLA – Um fato importante da licitação de 2003, que marcou uma virada estratégica, é que a área  corporativa da Petrobras havia costurado alianças  de participação com empresas estatais e também privadas estrangeiras. Mas, num ato conjunto, totalmente inesperado, elas simplesmente nos comunicaram, às vésperas da licitação, que não estavam mais interessadas nas alianças anteriores.

247 – O que isso queria dizer?

GUILHERME ESTRELLA – Em meu entendimento, foi uma clara reação contra o governo Lula. Elas demonstraram que as decisões já tomadas não atendiam seus interesses.  Diante disso, a reação da Petrobras foi a de aumentar a agressividade na licitação. Isso permitiu a recomposição de nossa carteira exploratória, agora 100% Petrobras, para os anos vindouros.

(Amanhã, na segunda parte da entrevista, Guilherme Estrella discute por que a Shell interrompeu perfurações no meio do caminho,  na área onde mais tarde a Petrobras encontrou o pré-sal. Também explica porque a pesquisa e exploração de petróleo "não são coisa para banqueiros").

terça-feira, 12 de julho de 2016

Xadrez da crise da imprensa e do jornalismo



Nos últimos anos, a convergência digital aproximou grupos jornalísticos, mídia, telecomunicações e Internet. A Amazon se tornou um grande datacenter e um grande especialista em vendas virtuais e acabou engolindo o Washington Post; antes, Rupert Murdock avançou sobre redes sociais e canais de televisão; empresas de telefonia montaram portais, fabricantes de televisores passaram a explorar o acesso dos aparelhos à Internet. No Brasil, da Folha nasceu a UOL que se tornou um grande provedor de serviços e um shopping digital.

Depois da fase inicial de multiplicação de iniciativas na Internet e nas telecomunicações, ingressou-se em um processo crescente de concentração global. E as novas tecnologias, revolucionando as formas de produção, criaram o espaço para o surgimento das megacorporações globais.

Tudo isto se refletiu no Brasil, através dos seguintes eventos:

Peça 1 - A desnacionalização do setor

A cadeia produtiva da mídia é composta por anunciantes, agências de publicidade, assessorias de comunicação e os veículos.

Nos últimos anos observaram-se os seguintes fenômenos:

1.Desnacionalização de empresas anunciantes.

O curto período de boom da economia brasileira trouxe para cá mais empresas estrangeiras e, no seu rastro, conglomerados de agências de publicidade e de relações públicas adquirindo as empresas brasileiras do setor.

Não se tratou apenas da desnacionalização dos diversos setores, mas da transferência dos sistemas de decisão para o exterior. Mesmo nas teles privatizadas, houve um período tocado por executivos brasileiros, muitos egressos do antigo sistema Telebrás, com redes de relações e foco no país. Esse quadro mudou. Hoje em dia há uma troca constante de executivos que têm como foco apenas a matriz.

Teve impacto grande no setor. Além da afinidade de negócios, essas empresas tinham papel central no mercado publicitário, como grandes anunciantes.

2.     Desnacionalização das agências de publicidade e de relações públicas.

Nos anos 90 era comum grandes publicitários em conselhos de empresas jornalísticas. Havia pactos tácitos, com a mídia glamourizando publicitários ou clientes e estes garantindo as verbas dos clientes nos veículos. Agora, os contatos se tornam cada vez mais impessoais.

3.O fim da era do papel.

Os últimos dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação) são elucidativos da agonia dos grupos de mídia. A cada dia que passa minguam as edições impressas, sem serem compensadas pelas edições nacionais. As impressas ainda têm um modelo de faturamento tradicional, residual, e custos elevados; as digitais não conseguiram desenvolver seu modelo de negócios.

A rigor, o único grupo brasileiro de fôlego que se mantém são as Organizações Globo.

Peça 2 - A crise da imprensa

A decadência dos modelos de negócios tradicionais foi acelerada pela entrada do Google no mercado brasileiro, O Google já se tornou o segundo veículo em faturamento publicitário no Brasil e aprendeu rapidamente a se valer dos BVs (Bônus de Veiculação) dos grandes grupos. Nos últimos tempos, têm ocorrido o crescimento vertiginoso do Facebook, com um modelo ainda mais consistente que o do Google, pela interação direta com o usuário, através do preenchimento de dados de seu perfil e do acesso direto às suas opiniões.

Ao longo de décadas a publicidade consolidou-se em torno de duas estratégias centrais: a publicidade nacional, para bens de consumo de massa; a publicidade segmentada.

A publicidade de massa buscava as redes de televisão. A segmentada disponibilizava um naco importante para jornais e revistas, que ofereciam um público relativamente homogêneo e qualificado nos hábitos de consumo de produtos e de ideias.

Com a proliferação da Internet e das redes sociais, grandes grupos, como Google e Facebook, conseguiram montar modelos muito mais focados, com segmentação garantida por bancos de dados amplos e bem trabalhados.

Peça 3 – a crise do jornalismo
Em tese, jornalismo é serviço público. Desde que se formaram as sociedades democráticas, deveria ter papel essencial na organização das informações, na organização do mercado de ideias, inclusive captando tendências e mudanças, na fiscalização do Estado etc.

A crise do negócio da imprensa atingiu em cheio o jornalismo. E aqui se trata de separar a imprensa (os grupos jornalísticos) do jornalismo, duas atividades distintas que, vez por outra, se complementam.

Há um conflito histórico entre os objetivos públicos do jornalismo e os interesses comerciais dos grupos de imprensa. No caso do Brasil, nas últimas décadas houve um desvirtuamento amplo do papel do jornalismo, subordinando-o inteiramente aos interesses dos grupos de mídia, atingidos em cheio pelas novas mídias.

A busca de alternativas comerciais tem promovido um completo desvirtuamento do jornalismo.

·      A instrumentalização política, na qual os jornais abriram mão das ideias e da isenção.

·      Nas TVs fechadas, o loteamento de espaço para o desenvolvimento sustentável dos tempos evangélicos.

·      Nos últimos tempos, publieditoriais (publicidade disfarçada de matéria) cada vez menos identificados como tal. Alguns canais de TV por assinatura têm produzido programas supostamente jornalísticos de divulgação de produtos ou empresas.

Peça 4:  os novos tempos digitais
Há dois tipos de mídia: as mídias nacionais que falam diretamente aos centros de poder; e a mídia sensacionalista, que se destina ao chamado leitor comum. Nos anos 20, H.L.Mencken, o grande cronista dos insultos, dizia que preferia a imprensa marrom sensacionalista, por ser menos hipócrita que a supostamente séria.

No recente plebiscito inglês sobre a saída da União Europeia, os tabloides conseguiram um peso maior do que os jornais dito sérios sobre a opinião pública inglesa.

É mais um sinal da completa desarticulação do mercado de ideias. Além da crise dos partidos políticos, não se tem mais a chamada mídia de opinião como articuladora. A pulverização das opiniões, nas redes sociais, vitimou partidos políticos e mídia.

No caso brasileiro, não se pode dizer que a perda de protagonismo da grande imprensa seja negativa. Mesmo nos anos de ouro, na década de 90, a imprensa pouco disseminou as grandes discussões nacionais, os temas centrais da nacionalidade, da competitividade. Hoje, menos ainda.

No entanto, para que se tenha esperança de, em um ponto qualquer do futuro, haver o renascimento de um projeto de nação, de alguma maneira haverá a necessidade de se buscar canais capazes de aglutinar as alianças em torno dos macrotemas.

Fonte: JORNAL GGN

quinta-feira, 7 de julho de 2016

A notícia do dia não é a renúncia de Cunha!

Neste 07 de julho de 2016, a notícia do dia não é a renúncia de Eduardo Cunha!

A notícia do dia é aquela que pode alterar duramente os investimentos em saúde e educação através dos ganhos do pré-sal brasileiro!

AVANÇA NA CÂMARA PROJETO DE ABERTURA DO PRÉ-SAL


Avançou na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira 7 o projeto de abertura do pré-sal, de autoria do senador José Serra. Sob forte resistência de parlamentares da oposição, o texto-base do Projeto de Lei 4.567/16, que retira a obrigatoriedade da Petrobras de participar da extração de petróleo da camada pré-sal, foi aprovado.

A proposta é alvo de duras críticas e de protestos por parte de parlamentares da oposição e dos petroleiros, que chamam o tucano de “entreguista” por abrir o pré-sal a empresas estrangeiras. A pauta foi defendida também pelo novo presidente da Petrobras, nomeado pelo governo interino, Pedro Parente, em seu primeiro discurso na estatal.

Em vídeo feito na comissão minutos antes do fim da votação, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) chamou a votação de “o primeiro grande ato de entrega do pré-sal para exploração de empresas estrangeiras”, um “crime lesa-pátria contra os interesses do país” e “um passo para entregar” a Petrobras.

“Ao retirar da Petrobras o direito de ser a operadora única do pré-sal, nós vamos perder milhões de empregos, vamos perder muito dinheiro que estaria no fundo soberano e que seria investigado em saúde e educação, ou seja, o governo interino, temporário, ilegítimo e golpista de Michel Temer está aqui na comissão especial dando o primeiro passo para entregar esta que é um dos negócios mais lucrativos do mundo do petróleo”, disse o parlamentar.

O petista anunciou que os deputados da oposição continuarão “obstruindo para tentar impedir a votação no plenário da Câmara”. Assista e leia mais na reportagem da Agência Brasil:



Comissão aprova projeto que altera regras para exploração e produção no pré-sal

Carolina Gonçalves – Sob forte resistência de parlamentares da oposição, foi aprovado hoje (7) o Projeto de Lei 4.567/16 que retira a obrigatoriedade da Petrobras participar da extração de petróleo da camada pré-sal. O placar ficou em 22 votos favoráveis e 5 contrários.

Com o resultado na comissão especial que analisa o assunto desde março, a proposta segue para o plenário da Câmara. O colegiado ainda analisa destaques apresentados ao projeto.

O parecer do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) altera as regras atuais que determinam que a estatal brasileira é a única operadora da exploração nesta camada, garantindo exclusividade sobre decisões como a definição de critérios para avaliação de poços, equipamentos de produção e compras.

A proposta, que foi costurada ainda no Senado pelo atual ministro das Relações Exteriores, José Serra, também restringe a obrigação de a Petrobras participar, com no mínimo de 30% dos investimentos, de consórcios para exploração do pré-sal apenas para áreas estratégicas.

Oposição

"Pelo bem do Brasil, por um futuro de investimentos fortes, para manter o papel estratégico que tem a Petrobras no desenvolvimento de um setor industrial fundamental, temos que fazer o oposto do que está propondo a base golpista de Temer", protestou Henrique Fontana (PT-RS).

Segundo o petista, o interesse das empresas na operação do pré-sal reflete a lucratividade da camada. "Temos aqui, como Parlamento, o dever de manter esta exploração nas mãos da Petrobras. Agora que o filet mignon está na mesa para ser servido, vossas excelências querem retirar esta lucratividade da mão da Petrobras", completou.

Glauber Rocha (PSOL-RJ) engrossou o coro contrário ao parecer, ao alertar que a produção passará a ser computada "por interesses privados", caso a matéria avance.

Base aliada

Por outro lado, tucanos e peemedebistas defenderam a iniciativa. Para o grupo favorável ao texto, a mudança das regras do atual sistema de partilha vai ampliar os investimentos no setor.

Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA) afirmou que a Petrobras não será retirada do jogo. "Estamos dando oportunidade", afirmou ao destacar que a estatal precisa "recuperar sua imagem".

Segundo ele, a Petrobras continuará sendo "a grande empresa" neste setor mas não tem condições, neste momento, de manter as atuais competências. "É fundamental para os estados, como o meu, ter investimentos", completou.

Confira aqui a íntegra do parecer.

Em junho, o chanceler interino, senador José Serra (PSDB-SP), autor do projeto, foi à comissão defender a proposta. Leia mais na reportagem da Agência Câmara na ocasião:

José Serra defende projeto que desobriga Petrobras de participar de leilões do pré-sal

A Comissão Especial da Petrobras e da Exploração do Pré-Sal ouviu em audiência pública nesta terça-feira (7) o ministro das Relações Exteriores, José Serra, autor de projeto em análise na comissão. A proposta (PL 4567/16), apresentada por Serra durante o exercício do mandato de senador, desobriga a Petrobras de participar dos leilões para a exploração do petróleo do pré-sal.

Serra explicou que, atualmente, a empresa não tem condições de arcar com a exploração em todos os campos do pré-sal. Para o ministro, a desobrigação não significa que a Petrobras será afastada dos processos de licitação, apenas permite que a empresa escolha os campos de seu interesse.

"Se a Petrobras tiver condições e disser: 'eu quero', o Conselho Nacional de Política Energética aloca para a Petrobras. Eu me sinto plenamente confortável com o projeto. É do interesse nacional eu não vejo que isso deve ser alterado pelo fato de que a Petrobras cresceu mais ou cresceu menos", disse Serra.

O ministro citou fatores que indicam a situação ruim da empresa. "Foram cinco refinarias mal feitas, ou mau investimento; e congelamento ou atraso dos preços dos derivados de petróleo. Esse é um número objetivo, provocou na Petrobras uma perda de R$ 140 bilhões", declarou.

Deputado diverge

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) rebateu as afirmações de José Serra. Para o deputado, a empresa está sofrendo com a flutuação do mercado mundial de petróleo e tem condições de continuar explorando o petróleo no Brasil. "A Petrobras tem condição de ter o controle das áreas do pré-sal e isso é uma coisa boa para o povo brasileiro, nós vamos lutar para preservar", afirmou.

Zarattini também rejeitou a afirmação de que a Petrobras está quebrada. "Ora, uma empresa que tem R$ 100 bilhões no caixa, que daqui a dois anos vai ter aumentado sua produção em 1 milhão de barris por dia, chegando quase a 3 milhões de barris, é uma empresa quebrada? Isso é um verdadeira absurdo", declarou.

Retomada da indústria

O relator da comissão, deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), afirmou que é favorável ao projeto porque ele representa a retomada do crescimento dos empregos ligados ao petróleo nesta época de crise.

"A indústria de petróleo no mundo teve, em média, em razão da queda do preço do petróleo e da queda dos preços do combustível no mundo todo, uma redução da ordem de 20% dos investimentos de exploração. No Brasil, essa redução é da ordem de 60%, estão desaparecendo os investimentos", disse Aleluia.

Fonte: BRASIL247

terça-feira, 5 de julho de 2016

O parafuso de R$ 10 mil e o navio que parou a 100 m de explodir no Rio

POR FERNANDO BRITO · 04/07/2016



Conta uma antiga história que, diante da pane do “mainframe” , o computador central de uma grande empresa, o técnico chamado olhou, olhou, olhou durante cinco minutos para a máquina, pegou uma pequena chave de fenda, tirou e recolocou uma placa.

E a máquina voltou a operar perfeitamente.

Em seguida, o técnico foi ao setor competente e emitiu uma nota de R$ 10 mil.

O burocrata estrilou: você olhou por cinco minutos, tirou e botou um parafuso e vai cobrar R$ 10 mil!?! Que absurdo!

O técnico recolheu a nota , rasgou e fez duas outras.

A primeira: desaperto de parafuso, recolocação de placa e reaperto de parafuso. R$ 5,00.

O burocrata deu um sorriso.

Mas veio a segunda nota: Saber qual parafuso, de qual placa, desapertar e reapertar. Preço: R$ 9,995.

Lembrei desta história ao ler hoje que o prático Diogo Weberszpil evitou, na quinta-feira passada, o que poderia ter sido o maior desastre ambiental da Baía da Guanabara.

Depois de embarcar para comandar a entrada no porto do Rio e a atracação do navio tanqueiro de gás Golar Spirit no Terminal de Gás da Petrobras, o leme do navio, de fabricação antiga, travou em rota de colisão com a Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói.

Weberszpil, que tem preparo e treinamento para agir em emergências soube o que fazer, atirando âncoras para reduzir a velocidade e corrigir o rumo do navio.

Que parou a 100 metros das muralhas da Fortaleza.

Neymar pode ganhar uma fortuna. Wesley Safadão pode cobrar os tubos por um show de gosto, vá lá, discutível.

Certo que os práticos precisam de regulamentação profissional. Mas vivem sendo apontados como “marajás” dos portos, com a responsabilidade de conduzirem navios de 100, 200, 300 ou até 400 mil toneladas de carga.

Mas é um trabalhador, e trabalhador não pode ganhar muito.

Pode haver distorções? Lógico, há muitas. Devem ser corrigidas. Mas não há categorias que mais sofram (e resistam) que os marítimos e os portuários com  este ataque permanente.

Conheço vários. Nenhum mora na Vieira Souto.

Fonte: TIJOLAÇO