terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A piada do bolivarianismo patronal

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:



A demissão de João Paulo Cunha, editor de cultura do jornal Estado de Minas, publicação de maior circulação naquele estado, ajuda a colocar um traço de realismo ao debate sobre liberdade de imprensa no Brasil.

É uma piada pronta, que ajuda a lembrar que vivemos um regime que deveria ser definido como bolivarianismo patronal.

Todos lembram de uma noite recente em São Paulo, quando jornalistas subiram ao palco de uma cerimônia de premiação para dizer em tom dramático: “não ao controle social da mídia.” É disso que estamos falando.

Embora estejamos falando de um direito constitucional, na vida real da imensa maioria de jornais, revistas, emissoras de rádio e de TV do país o exercício da liberdade de expressão vive limitado por uma prerrogativa de classe.

Pode ser exercida pelos donos da empresa, seus familiares e uma pequena elite de profissionais autorizados. E só.

Aos demais jornalistas está reservada a função de apurar o que pedem e escrever o que mandam, num regime de cima para baixo que não é exagero comparar com hierarquia militar.

A linguagem panfletária, editorializada, reflete a falta de debate interno. A edição seletiva, dirigida para ressaltar um ponto de vista pré-definido, expressa a mesma situação.

Profissional diferenciado, há 18 anos no Estado de Minas, João Paulo pediu demissão ao ser informado pela direção da publicação que não estava mais autorizado a escrever sobre assuntos políticos.

A decisão foi tomada depois da publicação de um artigo no qual o autor ousava fazer uma observação em tom crítico ao senador e ex-candidato presidencial Aécio Neves. Convém atentar para dois detalhes. O artigo foi publicado em 12 de dezembro de 2014, ou seja, um mês e meio depois que Aécio já tinha sido derrotado por Dilma Rousseff, quando os votos já haviam sido contados e o resultado da eleição já fora anunciado. Seria impossível, portanto, imaginar que João Paulo tivesses a intenção de usar as páginas do Estado de Minas para pedir votos para a adversária de Aécio nas páginas de um jornal que defende a candidatura presidencial do senador mineiro desde 2010, quando ele sequer concorria ao Planalto.

Outro aspecto é que não se trata de um artigo que julgasse Aécio Neves como um político bom ou ruim. Fazia uma crítica a sua postura depois da derrota, quando Aécio e o PSDB partiram para a ignorância: tentaram impugnar as urnas e estimularam protestos que pediam golpe de Estado. Num texto denso, refletido, verdadeira glória da imprensa brasileira de nossos dias, onde é raro ler-se um material de qualidade equivalente, João Paulo comparou Aécio a Bentinho, o personagem de Machado de Assis que não consegue compreender o que acontece no mundo – nem com a mulher Capitu, suspeita de adultério.

Vamos ler um trecho do artigo, chamado Sindrome de Capitu:

“Bentinho não sofre só pela traição mas porque não entende que o mundo mudou. Não pode aceitar que a sociedade republicana deixou para trás as amarras elitistas do Segundo Reinado e da escravidão. (…) Tudo o que ele não compreende o ameaça.”

Outro parágrafo:

“O Brasil tem uma recorrente síndrome de Capitu: tudo que a elite não tolera se torna, por meio de um discurso marcado pela força jurídica e da tradição, algo que deve ser rejeitado. Eternos maridos traídos. A tendência de empurrar a política para os tribunais é uma consequência desse descaminho. Assim, tudo que de alguma forma aponta para a mudança e ampliação de direitos é considerado ilegítimo e, em alguns momentos, quase uma afronta que precisa ser questionada e combatida. Foi assim com a visibilidade dada aos novos consumidores populares (que foram criminalizados em rolezinhos ou objeto de ironia em aeroportos), com as cotas raciais para a universidade, com a chegada de médicos estrangeiros para ocupar postos que os brasileiros, psicanaliticamente, denegaram.”

A leitura desses parágrafos – o texto integral pode ser encontrado na internet – mostra uma produção intelectual sofisticada, a altura das complexidades de um país como o Brasil em 2014. Não estamos falando de um panfleto. O tom é profissional, de quem sabe seus limites e conhece as fronteiras de quem faz a dissidência num ambiente geral hostil.

O vigor intelectual contrasta com uma certa timidez política, até.

E aí chegamos ao verdadeiro bolivarianismo de nossas terras. Qual a liberdade que ameaça nossos Bentinhos? Qual seu temor?

Ao falar de uma elite de “eternos maridos traídos”, João Paulo toca no ponto central de nossa democracia, regime que pode ser aceito, preservado e até celebrado – enquanto o povo não ousa ultrapassar determinados limites e fronteiras. Quando isso acontece, considera-se traição – e isso é imperdoável.

Esse é o drama da liberdade de expressão e da democratização dos meios de comunicação. A luta contra a censura foi benvinda enquanto auxiliou os donos de jornal a livrar-se das botas e tanques de um regime que haviam ajudado a colocar de pé.

Foi uma causa justa correta, vamos ter clareza.

Quando se procura ampliar o espaço para que o conjunto da sociedade possa se manifestar, num movimento que apenas fortalece a democracia, e é coerente com as mudanças sociais que ocorreram-no país na última década, a reação é falar em bolivarianismo, sem receio de produzir uma fraude. Quem censura? Quem cala o outro lado? Quem oprime?

Até dá para entender. Só não dá para aceitar.

“Síndrome de Capitu” é um trabalho de gabarito, que não se lê todos os dias, que coloca a política em outro plano, da discussão cultural. Ajuda a pensar o país – e é isso que se proibiu.

Fonte: BLOG DO MIRO

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Internet: concorrente ou abrangente ao jornalismo impresso?

Discordo do autor em um único ponto: não acho que as bibliotecas vão virar museus, pois a sensação física de ter um livro de que gostamos, nas mãos é inigualável !

Uma dedicatória num livro, feita por alguém que gostamos e que guardamos por anos a fio, quando a relemos, numa fração de segundo retornamos naquele mesmo momento em que foi escrita na "folha de guarda" do livro querido.

Também, naqueles momentos em que a criatura humana quer entrar em contato mais íntimo com o divino, não importando aí qual religião professe ou qual ideologia tem guardada nos anseios do coração, o livro impresso jamais terá seu momento de glória extinto !

Marco Aurélio Rocha

Internet: concorrente ou abrangente ao jornalismo impresso? Por Nilson Lage


Por Nilson Lage
O que está sendo posto em xeque é o sistema de comunicação um-vários e a composição de redes que divergem a partir de centros de difusão

Pedem-me para comparar o impacto da Internet, atualmente, com o da televisão (e, acrescento, do rádio), em outros tempos, no jornalismo impresso.

A resposta implica diferençar mídias complementares de mídias concorrentes e mídias abrangentes.
Rádio e jornal são mídias complementares. A informação escrita  permite remissão, recuperação e interrupção temporária da mensagem, admite a distração momentânea sem perda de sentido, possibilita o arquivamento e tem valor documental. Não ocorre isso com o rádio que, no entanto, é mais ágil, dispensa custos (papel, impressão, distribuição) e pode desenvolver vários tipos de comunicação, da mais formal à mais intimista; no período em que coexistiram em plenitude, o rádio foi grande indexador e promotor da venda de jornais.

Rádio e televisão são mídias concorrentes. A televisão incorporou cinema e rádio; com isso, suprimiu da audiência radiofônica a imaginação – personagens e ambientes deixaram de ser concebidos pelo receptor para ser oferecidos em forma de representações realistas ou cenográficas. Tomou, também, do rádio, a promoção de espetáculos musicais, seriados dramáticos, debates, conversas e a apresentação imediata de notícias de impacto. Sobraram a fruição com os outros sentidos ocupados (no trabalho, na sonorização de ambientes) e algumas formas de comunicação intimista, simbolizadas, antes, pelo radinho de pilha e, ainda hoje, pelo rádio do automóvel.

De modo geral, a televisão preservou, com relação ao jornal, a relação complementar. O viés de concorrência atingiu principalmente as revistas ilustradas – Life,  Look, Paris Match, Réalités, Stern, Quick etc.– que tiveram seu apogeu na década de 1950. A desaparição de algumas dessas revistas deveu-se, em parte,  a seu sucesso: como todos os veículos comerciais de comunicação impressos, tinham a tiragem situada entre um piso e um teto, definidos pelo aporte de recursos publicitários. No caso, ultrapassou-se o teto, que a existência da televisão fez rebaixar;  Life, por exemplo, encerrou suas atividades quando tinha enorme mercado potencial de leitores.

Já Internet é mídia abrangente: não apenas instrumentaliza todas as outras como as engloba. Tende a tornar-se o hub por onde trafegam todas as mensagens – do longa-metragem ao selfie, do tratado ao bilhete, do caderno escolar ao livro de registro dos cartórios.  Viabiliza a todos com vantagens evidentes e os compõe, se necessário,  na informação multimídia. Trata-se de algo diferente, cujas repercussões não são ainda plenamente percebidas. Torna obsoletos os objetos livro e revista;  o aquivo físico como conhecemos; as bibliotecas, que tendem a se tornar museus. Muda o espaço real de casas e escritórios, já que tudo cabe no universo virtual, reprodutível quanto se quiser em gravações digitais ultracompactas. Acentua o a característica de rito que os espetáculos já mostravam. Afeta a  relação de vizinhança e as formas de aprendizado. Amplia o acesso à informação cultural.

O impacto do rádio
Quando o noticiário radiofônico se difundiu, nos anos de 1930 – tempos agitados, entre a depressão econômica que se seguiu ao craque de 1929 e a Segunda Guerra Mundial – a principal mudança na mídia impressa diária foi a supressão da urgência.

Antes, nas primeiras décadas do Século XX, os jornais diários tiravam edições extras a cada notícia de impacto e, em dias calmos, muitos deles circulavam em duas edições diárias, matutina e vespertina: a imagem de repórteres correndo para as cabinas telefônicas na disputa do furo é comum nos filmes da época.

As duas mídias se acomodaram – o rádio associando informação imediata, espetáculos de auditório, apresentações musicais em estúdio e radioteatro – e muitas emissoras terminaram associadas a empresas jornalísticas.

A presença da TV
Quando a TV superou a fase experimental e surgiu efetivamente como mídia, no final da década de 1940 e, principalmente, ao longo da década de 1950, sua atividade como difusora de informação jornalística reduzia-se a uma extensão do rádio: o locutor lendo notícias – no começo, de cabeça baixa, logo no teleprompter; narração em off sob imagem parada –  fotografia, desenho, gráfico, radiofoto (fotografia enviada por ondas hertzianas, com perda de qualidade).

As primeiras sequências em movimento inseridas nos telejornais provinham de eventos locais e eram gravadas em filme negativo com câmeras movidas a corda (isto é, por molas helicoidais que se enroscavam  em torno de um eixo); a reversão para positivo ocorria no processamento eletrônico.
Logo começaram a circular, via agências internacionais de notícias (UP, AP, Visnews) rolos de filmes que chegavam por via aérea, com pelo dois dias de atraso; para apresentá-los, costumava-se construir um lead expositivo para ser lido ao vivo, com fatos de atualidade, e, em seguida, legendar em off a narrativa: “na semana passada (ou anteontem)...”

Os satélites internacionais chegaram na década de 1970, quando se completava a interligação das regiões brasileiras por micro-ondas. A televisão colorida começou logo depois, com a implantação, aqui, do sistema Pal-M, o repasse de enormes recursos à Rede Globo e a adoção de seu “padrão de qualidade”.
A edição de filmes sonoros sobre eventos de atualidade foi retardada e prejudicada por um detalhe técnico: como a captação do som magnético se fazia, nos projetores a uma distância de vários fotogramas da imagem que estava sendo projetada, a montagem em moviola (pelo corte da fita) suprimia trechos da fala, música ou som ambiente. Esse problema persistiu quando se desenvolveram câmaras portáteis operacionais com gravação sonora (as CP, largamente usadas na cobertura da guerra do Vietnã) e filmes coloridos positivos (color reverse), no final da década de 1960. Câmeras eletrônicas portáteis  (analógicas, coloridas) apareceram por volta de 1975, lançadas pela Sony.

A gravação de som e imagem em fita editável de duas polegadas (pouco mais de cinco centímetros) de largura – o videoteipe – surgiu no final da década de 1950 (consoles Quadruplex, fabricados pela Ampex, uma divisão da RCA Victor), mas as primeiras ilhas de edição (analógica) de mesa com fitas de ¾ de polegada (pouco menos de dois centímetros) e qualidade razoável foram lançadas no mercado em meados da década de 1970. A edição se fazia por copiagem; havia necessidade de um terceiro equipamento entre o aparelho emissor e o aparelho leitor; o TBC, time base corrector. O conjunto constituía uma ilha de edição e a capacidade de produção se media pelo número de ilhas disponíveis. A tecnologia evoluiu, daí em diante, no sentido da miniaturização e digitalização dos equipamentos, mas sem mudanças fundamentais na produção.

A consequência desse escalonamento na evolução da TV, determinado essencialmente pela tecnologia, é que os eventuais espaços de concorrência com os jornais jamais foram percebidos e os dois veículos se articularam, um promovendo o outro.

O futuro dos jornais impressos
Em tempo de Internet, o destino dos jornais impressos é incerto; isso poderia ser avaliado com maior clareza a partir de dados tais como a fabricação, atual ou projetada, de novas grandes unidades de impressão gráfica rotativa.  A tendência é que se tornem mídia redundante e, portanto, tenham que buscar espaços marginais.

Na verdade, o que está sendo posto em xeque é o sistema de comunicação um-vários e a composição de redes que divergem a partir de centros de difusão – o modelo centralista denunciado no relatório MacBride, de 1975, Um mundo, muitas vozes; a condição dominante dos proprietários ou concessionários de canais em relação aos produtores; a própria estrutura da publicidade comercial. O desafio abrange não só jornais e revistas, mas também emissoras de rádio, televisão – não os produtos audiovisuais.

O jornalismo, sem dúvida, continuará existindo, seja qual for a base em que se veiculem suas mensagens: não há alternativa senão ter os jornalistas como intermediários na interlocução com fontes de informação necessariamente seletivas. Além dos motivos práticos, há razões institucionais para a preservação desse privilégio de acesso: a produção de informação pública tem consolidadas uma ética de convívio e práticas de controle social . A aparente liberdade propiciada pela Internet cria ambiente distinto da comunicação interpessoal, eliminando barreiras à transição do mundo real a mundos possíveis, do diálogo educado ao insulto; facilita o ressurgimento de toda sorte de conceitos e valores abandonados ao longo da História e que se mantinham recessivos na sociedade.

O fato de as empresas jornalísticas abrirem suas preocupações ao conhecimento de seus empregados e buscarem neles sugestões que as beneficiem é resultado dessa aparente falta de perspectivas.
De fato, o negócio jornal muda de dimensão, encolhe em termos econômicos, e o problema é que a estrutura de custeio, tanto quanto os centros de poder político, não está dimensionada para isso. A saída mais provável é que o fluxo de recursos seja desviado dos atuais empresários emissores para as companhias telefônicas que operam linhas de transmissão ou, mais provavelmente, para os mecanismos de busca que, racionalizando o acesso, impedem que o sistema se torne entrópico e inservível, salvo para comunicação interpessoal. Caberia a essas novas estruturas pulverizar os recursos entre os produtores, individuais ou organizados de alguma forma. 

Fonte: JORNAL GGN

domingo, 21 de dezembro de 2014

BH ainda tem sapateiro, alfaiate, barbeiro e especialistas em diversos consertos

Janaína Fonseca* - Hoje em Dia

Eugênio Moraes/Hoje em Dia

Sapateiro Sérgio diz que o número de profissionais está reduzindo nos últimos anos

O ofício, normalmente, é passado de pai para filho e iniciado ainda na juventude. Uma tradição que resiste ao tempo e ao avanço acelerado da tecnologia e que dá um ar todo especial à capital mineira em pleno século 21. Barbeiros, alfaiates, marceneiros e diversas outras profissões raras atualmente atraem os clientes que buscam exclusividade, atendimento personalizado e recuperar objetos dos quais não desejam se desfazer.
 
A procura por uma roupa que seja única é o que motiva advogados, juízes e executivos a procurar um alfaiate, como César Araújo, de 56 anos. Ele descobriu o gosto pela profissão em 1974, quando trabalhou como office-boy nas antigas lojas Franelli. Desde então, construiu uma trajetória de sucesso e, há dez anos, tem a própria alfaiataria no edifício Maleta, no Centro de BH.
 
César reconhece que o ofício vem perdendo profissionais, principalmente pela falta de interesse dos mais jovens. “Requer muitos anos para aprender, tem que começar de menino”.
 
Passar alguns minutos relaxando em uma cadeira de barbearia e participando de uma boa prosa é hábito de poucos atualmente. Ter a barba feita ficou mais rápido e prático em casa, com os aparelhos elétricos, e cortar o cabelo virou coisa de salão de beleza.
 
Mas se o cliente não abre mão de um serviço caprichado, Samuel Gonçalves, de 66 anos, está lá para bem recebê-lo. Ele aprendeu o ofício com o pai, em 1958, quando ainda morava em Curvelo. A mudança para a capital abriu as portas para a profissão e ele está no mesmo ponto, na rua do Ouro, há 53 anos.
 
Consertos
 
A qualidade dos sapatos melhorou muito, nem por isso Sérgio Gomes perdeu a clientela. Aos 46 anos, 40 deles trabalhando como sapateiro, ele diz que tem fregueses fiéis.
 
Ainda no ramo dos consertos, a tradição é fortíssima na família de Marco Antônio Ranieri. Há mais de cem anos eles se dedicam ao trabalho com bolas.
 
A herança do avô João Ranieri começou com uma fábrica, porém tiveram que migrar para o conserto porque o negócio se tornou inviável com a concorrência das grandes indústrias.
 
Marco Antônio aprendeu a consertar bolas desde menino, porém, com a redução da demanda pelo serviço, passou a trabalhar com outros produtos, como boia, piscina e pula-pula. “Os objetos estão se tornando cada vez mais descartáveis”, lamenta.
 
Há 35 anos atendendo a clientela da região Noroeste de BH, o comerciante Richard Subotim repara televisores analógicos ou de tubo. Ele diz que o número de clientes vem diminuindo.  “Lembro que na Copa do Mundo de 1994 eu cheguei a consertar, em uma semana, 50 tubos de imagens. Neste último Mundial não tive nenhum aparelho”, compara. 
 
* Com Aluísio Marques

Fonte: HOJE EM DIA

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Governo Federal exige justificativa para aumento de 110 % nos custos da linha 3 do metrô de BH

Alessandra Mendes - Hoje em Dia

Flávio Tavares/Hoje em Dia

Ampliação do metrô da capital vai custar, ao todo, cerca de R$5,4 bilhões

Após o projeto da Linha 3 do metrô de Belo Horizonte ter sido barrado pela União, por conta de um aumento considerado injustificado nos custos da obra, o governo de Minas informou que as adequações solicitadas estão em curso. Somente após explicar o motivo de o gasto previsto ter crescido 110%, passando de R$ 1,4 bilhão para R$ 2,9 bilhões, o recurso será liberado pelo governo federal, maior financiador do empreendimento.

A Linha 3 vai ligar a Lagoinha à Savassi. Ainda não há previsão de quando a justificativa dos gastos será levada ao Ministério das Cidades. Em nota, a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) alega que “a Caixa Econômica Federal, em momento algum, solicitou projetos complementares sobre os custos”. Quanto à diferença substancial no preço, mencionada pelo Ministério, a Setop informa que o governo de Minas já havia informado à União que só poderia estabelecer o valor final quando os projetos estivessem concluídos.

Para a secretaria, não há que se falar em aumento de custo porque o orçamento de R$ 1 bilhão, apresentado em 2008, “obviamente precisaria ser corrigido e ajustado de acordo com a formatação final das intervenções definidas nos projetos de engenharia”.



Divergência

Entretanto, o Ministério das Cidades contesta. De acordo com a União, o valor solicitado pelo governo mineiro para a obra, em 2011, foi de R$ 1,4 bilhão, quantia que foi confirmada em outubro de 2013. Também há divergência de informações com relação ao cumprimento do prazo de entrega dos projetos.

O Estado assegura que tudo foi entregue “rigorosamente dentro do prazo”, em maio deste ano, um ano após assinatura do convênio com o governo federal para liberação dos recursos para elaboração dos projetos. Já o Ministério das Cidades sustenta ter prorrogado, três vezes, a data de entrega do projeto do metrô de Belo Horizonte.

O documento completo chegou ao governo federal em 29 de agosto último, conforme o Ministério, três anos após o anúncio da seleção do empreendimento no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Grandes Cidades, realizado em 2011.



Gargalo

As obras das Linhas 1 (Vilarinho/Novo Eldorado) e 2 (Barreiro/Nova Suissa) também estão sem previsão para serem licitadas. Isso porque ainda está pendente a assinatura do Termo de Transferência da administração e dos bens patrimoniais do metrô de BH da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) para a Metrominas. De acordo com a União, o Termo não foi assinado porque a condição apresentada pelo governo de Minas não possui base legal e compromete o emprego dos trabalhadores, já que prevê a transferência apenas do patrimônio e não dos ativos e pessoas da empresa.

O governo de Minas esclarece que solicitou autorização do Ministério das Cidades para execução de um levantamento completo não apenas dos ativos e passivos existentes na CBTU, como também para ter conhecimento do quadro funcional da instituição.


Segundo a Setop, como a autorização foi negada, foi encaminhada à União, em 2013, uma minuta do convênio. “Mas, até o presente momento, não houve resposta por parte do órgão federal”, informou a secretaria.

Fonte: HOJE EM DIA

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Xuxa, Jô e o fim das lealdades televisivas

Luis Nassif



Ao lado de Arnaldo Jabor, Jô Soares foi a primeira celebridade televisiva a explorar o sentimento de preconceito da classe média alta contra a democracia social que avançava.

Narro isso em minha série "O caso de Veja", de 2008.

De repente, em seu programa Jô critica o ridículo de se tratar qualquer avanço social como "boliviarismo", refere-se de forma simpática a Fidel Castro e ao próprio Evo Morales. Na sequência, a Globo anuncia o fim do público e do conjunto musical em seu programa, como parte de uma estratégia de controle de custos.

Imediatamente, na blogosfera, Jô torna-se um herói da resistência e a redução do seu programa é atribuído a represálias da Globo.

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Volte-se a cena e recomece-se na ordem correta:

1.    A Globo decide reduzir os custos do programa de Jô e comunica a ele.

2.    Jô rebela-se e, no seu próprio programa, emite opiniões contrárias ao padrão Globo.

3.    A notícia torna-se pública.

Há alguns meses, a Globo enviou uma comitiva para percorrer os principais grupos de mídia do mundo e definir uma estratégia para ela. As recomendações foram na linha da redução drástica de custos, para enfrentar os novos tempos.

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Até então, o enorme poder de monopólio da Globo permitia-lhe pagar um cast de artistas não aproveitados, apenas para impedir que fossem para a concorrência. Do mesmo modo, comprava campeonatos esportivos que não transmitia como filmes que não passava.

Esse mundo acabou. Ontem, foi anunciado o final do contrato com Xuxa. Outros destratos se seguirão. Jornais e revistas passaram a abrir mão de seu elenco de jornalistas, substituindo-os por uma infinidade de colunistas ou de jovens repórteres.

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Historicamente, o maior investimento dos grupos de mídia era no seu cast. A imagem de atores, jornalistas, colunistas, cantores, era construída como celebridade. Seu perfil não era de mortais comuns. Habitavam um Olimpo e de vez em quando desciam à terra para palestras e confraternizações rápidas com os humanos.

É verdade que, de manhã, tinham que pagar as contas, brigar com os vizinhos, encrencar com as sogras como qualquer humano. Mas o modelo era suficientemente restrito para ser seletivo: poucos deuses jornalistas, poucos deuses atores.

De repente, chega a Internet não apenas colocando em xeque a fórmula financeira dos grupos de mídia, mas explodindo com seu universo de celebridades. Redes sociais, blogs dos mais variados, passam a construir seu próprio Olimpo, banalizando o modelo, que sempre foi peça chave do alcance e da influência dos grupos de mídia.

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Décadas de investimento em colunistas, correspondentes, atores, celebridades estão sendo jogadas fora devido ao esgotamento financeiro do modelo tradicional de mídia.

Alguns jornalistas estão indo para a Internet, seguindo o caminho dos pioneiros. Outros, buscando as assessorias de imprensa - algumas delas com muito mais jornalistas do que as maiores redações.

Dia desses houve uma bela cerimônia de premiação de jornalistas que reuniu várias gerações, dos anos 70 até os dias de hoje.

Tinha todo o ar de último baile da Ilha Fiscal. Alguns dos premiados ousaram gritos de guerra contra as ameaças à liberdade de imprensa.

Deve ter sido um dos últimos episódios de solidariedade entre jornalistas e empresas.

Fonte: GGN - Luis Nassif ONLINE

Morre Nelson Thibau

Morreu Thibau. Me veio na lembrança, quando criança recém alfabetizado, gostava de ficar lendo todas as placas das lojas e ruas da cidade. E as placas das campanhas dele me lembro muito bem, era THIBAU espalhado por toda a cidade!!

Marco Aurélio Rocha


Morre político que prometeu trazer o mar para a Lagoa da Pampulha

Nelson Luiz Thibau morreu aos 92 anos em Belo Horizonte


O político Nelson Thibau, de 92 anos, que foi candidato à Prefeitura de Belo Horizonte e deputado federal, morreu na segunda-feira (15) por falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) desde o último dia 10. O óbito foi confirmado às 16h38.

Conforme o Ipsemg, Thibau morava em Belo Horizonte sozinho e, ao dar entrada no hospital, praticamente não falava, não interagia e apresentava infecção urinária. Ele já havia dado ordens para não ser submetido a tratamentos invasivos. Por isso, estava sendo encaminhado para ser assistido na Unidade de Cuidados Paliativos da instituição.

Além de político, Thibau era advogado, radialista e administrador. Ele ficou nacionalmente conhecido por prometer, na campanha de 1962, trazer o mar para Belo Horizonte. Caso vencesse o pleito, ele disse ainda que colocaria um navio na Lagoa da Pampulha para compensar o belo-horizontino a falta de mar.

Na ocasião, ele explicou a ousada promessa. “A gente constrói um aqueduto para trazer a água de Angra dos Reis para Belo Horizonte, retira a água que se encontra represada na Lagoa da Pampulha e faz uma chapada de brita com piche para proteger”.

Ele também propôs criar a "Thibaulândia", um parque de diversão no estilo da Disney para crianças. Além disso, ele apresentou proposta para garantir transporte público e assistência odontológica gratuita para estudantes.

Nelson Thibau tornou-se deputado federal pelo MDB, e faz parte da bancada dos políticos folclóricos na Câmara de Deputados em Brasília.  


Fonte: HOJE EM DIA

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Rogério Correia é reeleito deputado estadual em MG

Marco Aurélio Rocha
Direção Nacional da Articulação de Esquerda


O deputado estadual Rogério Correia foi reeleito para seu quarto mandato na Assembleia de Minas Gerais com 72.413 votos. Rogério é professor (matemática e física), fundador da União dos Trabalhadores do Ensino (UTE), atual Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), do Partido dos Trabalhadores e da CUT, foi eleito vereador em 1988 por Belo Horizonte onde se reelegeu por 3 mandatos. 

Em 1998 foi eleito para seu primeiro mandato de deputado estadual. Durante todos estes mandatos Rogério sempre foi reconhecido por sua intransigente defesa dos trabalhadores e dos movimentos sociais e sindicais. 

Em 2006, Rogério concorreu a uma vaga na Câmara Federal e não conseguiu se eleger. Mas, como diz o ditado, “há males que vem para o bem”, foi aí que teve a oportunidade de revelar sua capacidade de gestor também no poder executivo, foi nomeado pelo presidente Lula, delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário em Minas Gerais, no cargo, Rogério se tornou responsável pela coordenação das políticas públicas para a Reforma Agrária e Agricultura Familiar, conseguindo aumentar, de 242 milhões para 2 bilhões de reais, o crédito financeiro destinado à área rural em Minas Gerais, tendo contribuido na implantação e ampliação dos programas como as biblioteca rurais do “Arca das Letras”, “Expresso Cidadão”, “Território da Cidadania”, “Casa Digital” e o “Crédito Fundiário”.

Em 2010, Rogério foi eleito novamente deputado estadual, sendo eleito líder da bancada do PT. Todas as lideranças no PT, parlamentares, movimentos sociais e sindicais ao longo destes quatro anos do atual mandato são unânimes em dizer que a volta de Rogério à Assembleia foi crucial para fortalecer a oposição ao projeto neoliberal do tucano Aécio Neves em Minas Gerais. Com sua experiência e capacidade de diálogo, Rogério conseguiu articular a criação do bloco de oposição Minas Sem Censura. O MSC foi preponderante para fazer o contraponto e levar através da TV Assembleia, do Blog do MSC, do próprio site do deputado e dos jornais e boletins do MSC as mentiras do governo Aécio/Anastasia, a falácia do choque de gestão e do famigerado déficit zero e denunciar os desmandos do governo tucano, visto que a mídia local estava toda dominada pelo irmãos Neves, Aécio e Andréa.

Em 2011, o mandato de Rogério foi ameaçado, a revista Veja publicou uma denúncia, sugerindo que o deputado era um dos mentores da falsificação, pelo lobista Nilton Monteiro, da chamada Lista de Furnas, um documento que traz o nome de supostos beneficiários de esquema de caixa dois tucano nas eleições de 2002. A “Veja” omitiu que existe sentença judicial, proferida pela juíza Maria Luiza Marilac Alvarenga de Araújo, inocentando Nilton Monteiro (processo 024.06.029.163-0, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, 11/2009). Dentre outros motivos, a absolvição se deu pela existência de um “Laudo de Exame Documentoscópico (Mecanográfico e Grafotécnico)” do Instituto Nacional de Criminalística, do Departamento de Polícia Federal, do Ministério da Justiça, apontando que a versão original da “lista” não apresentava indícios de montagem.

Em seguida, o jornal O Estado de Minas publicou reportagens, dentre as quais O esquema do fraudador, sugerindo que Nilton Monteiro teria cobrado dívida “por supostos serviços prestados” a Rogério Correia. Em editorial, o jornal pediu a cassação do petista. Foi a deixa para que o PSDB formalizasse o pedido à Assembleia Legislativa. O jornal foi processado e a justiça deu direito de resposta a Rogério.

Para as eleições municipais de 2012, Rogério Correia, junto a militantes da esquerda petista, tendências e independentes insatisfeitos com os rumos tomados pelo PT BH desde 2008, encabeçou movimento chamado Coerência Petista tendo como objetivo uma candidatura própria do PT para a prefeitura de Belo Horizonte.

O Coerência Petista se fortaleceu e no PED 2013, Rogério foi lançado candidato à presidência do PT de Minas Gerais tendo obtido 3.852 votos ou 7,81% do total.

Toda essa movimentação política, além das audiências e projetos de lei apresentados, credenciaram o mandato de Rogério Correia a tentar a reeleição em 2014.

Foi uma campanha difícil! Com poucos recursos financeiros, como é de costume com candidaturas mais à esquerda, a campanha teve que ser feita basicamente com a ajuda da militância e dos movimentos sociais. Neste quesito a campanha de Rogério fez a diferença. Sua atuação com os movimentos sociais como o MAB e o MST, a parceria com os trabalhadores rurais no Estado, obtendo o apoio dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, do trabalho com a agricultura familiar, funcionalismo público e principalmente com os professores da rede estadual pavimentou a vitória de Rogério Correia nas urnas.

Esta guinada de Rogério para o interior do Estado, desde sua época como delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário em Minas, fez o quadro de sua votação também mudar. Nos mandatos anteriores sua votação era praticamente metade em Belo Horizonte e região metropolitana e outra metade no interior. Nesta eleição, dos 72.413 votos, apenas 16.366 foram em Belo Horizonte e mais  8.977 na metropolitana, a diferença maior, 47.059 votos, foi dada pelo interior do Estado. 

Dos 77 deputados da Assembleia, Rogério Correia obteve a posição 29ª. O PT elegeu 10 deputados estaduais, Rogério foi o quinto mais votado. A prestação de contas de Rogério foi a segunda mais baixa da Assembleia: R$ 218 mil reais, o primeiro foi também do PT, o companheiro Dr. Jean com R$ 204 mil reais que conseguiu seu primeiro mandato. A média dos 77 deputados da Assembleia girou em torno de R$ 613 mil reais, sendo que a campanha mais cara na Assembleia de Minas Gerais foi de R$ 3,4 milhões de reais.

O desafio para o novo mandato que se inicia em fevereiro/2015, agora sendo situação no governo estadual é continuar defendendo os interesses dos trabalhadores, do funcionalismo público, principalmente dos professores, dos trabalhadores rurais e da agricultura familiar, ajudando o governo Pimentel a implementar em Minas um governo Democrático e Popular.

* Texto publicado no jornal PÁGINA 13 órgão da tendência interna do PT - Articulação de Esquerda

Pimentel Governador, por um governo democrático e popular em Minas Gerais

Marco Aurélio Rocha

A campanha vitoriosa do PT para o governo de Minas Gerais nestas eleições de 2014, iniciaram-se sob a desconfiança dos movimentos sociais, sindicais e também da militância petista. As seqüelas do acordo firmado entre Pimentel e Aécio nas eleições para a prefeitura de Belo Horizonte em 2008 tinham ainda feridas não totalmente cicatrizadas.


Pimentel e todos os atores políticos no PT para esta disputa sabiam disso, mas, um sentimento maior fez com que o PT mineiro conseguisse um feito há muito tempo perseguido, que era, em primeiro lugar a unidade do partido em MG e em segundo lugar ter uma candidatura que conseguisse derrotar o projeto neoliberal tucano e levar um petista pela primeira vez a ocupar a cadeira do Palácio da Liberdade.

Pimentel percebeu que para construir uma candidatura vitoriosa do PT, era imprescindível conquistar a confiança dos movimentos sociais e sindicais. Para tanto, ainda no ano passado, reuniu-se com várias lideranças do PT, parlamentares, representantes de tendências do partido e o resultado destas reuniões foi designar a cada força interna ao partido que levasse às suas bases o convite para o diálogo com o futuro candidato, no sentido de construirem juntos um programa de governo. Coube às tendências mais à esquerda no partido, incluindo aí a Articulação de Esquerda, o chamamento ao debate com os movimentos sociais e sindicais, tendo como referência o deputado estadual Rogério Correia. E assim feito. Foram realizadas várias reuniões com os movimentos sociais, com todos os sindicatos, principalmente com os trabalhadores da saúde, educação e da segurança pública.

Iniciada a campanha, Pimentel pôs o pé nas estradas de Minas aprofundando a proposta de diálogo com todos os movimentos da sociedade, com o slogan de campanha: “ouvir para fazer melhor”. Esta proposta deu resultados e aquela desconfiança inicial se transformou em compromissos para um governo democrático, popular e participativo. Todos estes movimentos selaram a unidade partidária, dos movimentos sociais, populares e sindicais com a certeza que a candidatura Pimentel tinha todas as possibilidades de ser vitoriosa.

Como nem tudo são flores, os primeiros “esbarrões” de campanha eram inevitáveis, a começar pelo visual nos materiais de campanha; a militância, sindicalistas e movimentos sociais estranharam no início, o sumiço da cor vermelha e o excesso do azul, numa tonalidade exatamente igual à campanha tucana, o que levou a muitos desconfiarem da volta do “pimentécio” em versão contrária, ou seja, Pimentel aqui, Aécio lá. Outro ponto criticado era a ausência da campanha da presidenta Dilma nos primeiros materiais gráficos. Estes detalhes, que para muitos podem passar despercebidos, para muitos mais, não passa; A campanha tucana percebeu isso e estando mal posicionada nas pesquisas, contra-atacou com cartazes (vermelhos) apócrifos com os dizeres: “Minas agora é do PT, Pimentel é do PT”, o tiro saiu pela culatra, Pimentel continuava a crescer nas pesquisas. A pressão da militância valeu e a campanha “envermelhou” e Dilma apareceu!

Pimentel venceu no primeiro turno com 52,98% dos votos, contra 41,89% do candidato tucano, enquanto que as pesquisas colocavam uma média de 60% a 30%, o que evidenciou também a força da máquina do governo do Estado trabalhando pelo seu candidato.

Vencida a eleição, agora é o momento difícil da montagem do governo. É preciso ter habilidade para atender aos anseios e expectativas do funcionalismo público, sindicatos, movimentos e claro os partidos e a base que levou o candidato à vitória.

Outro desafio a ser vencido, é na Assembleia Legislativa, dos 77 deputados estaduais, a coligação que apoiou Pimentel (PT, PMDB, PCdoB, PROS e PRB) elegeu 26 deputados, enquanto a coligação liderada pelos tucanos elegeu o restante, conseguindo assim maioria númerica. Todos sabem por aqui nas Alterosas, que esta maioria não se sustenta por muito tempo, os deputados eleitos pelos chamados partidos nanicos e outros que compõem a base nacional da presidenta Dilma, mas que aqui se alinharam com a candidatura tucana, têm uma forte “tendência” a se alinhar com o governo Pimentel, a chamada força do Palácio da Liberdade é muito forte. Muitos querem ser prefeitos em suas cidades em 2016 e o apoio do governador é muito importante.

Herança Maldita
Outro desafio para o governo Pimentel é a herança maldita que os tucanos estão deixando no Estado. A dupla Aécio/Anastasia governou Minas sob a ótica do puro marketing. Milhões foram gastos em propaganda governamental em torno da grande farsa do Choque de Gestão e do Déficit Zero, tendo ainda a grande mídia mineira como parceira na montagem deste grande circo midiático-governamental, sob as ordens de Andréa Neves que como diz o deputado Sávio Souza Cruz do PMDB, um dos líderes do bloco Minas Sem Censura na Assembleia é a Goebbels das Alterosas” que faz controle rígido do que sai na mídia, exercendo verdadeira censura onde nada pode sair que desabone seu irmão Aécio Neves.

Reconstruir Minas Gerais será o maior desafio de Pimentel, o estado é o segundo maior endividado do país, a dívida pública mineira consolidada já chega a 90 bilhões de Reais, comprometendo o orçamento de 2015 em 6 bilhões, também fazem parte da herança maldita do PSDB em Minas os 8 bilhões de reais desviados da Saúde e os 8 bilhões de reais desviados da Educação, que não tiveram seus mínimos constitucionais respeitados nos últimos 12 anos. Assim como a carreira congelada dos servidores públicos estaduais e o pagamento dos servidores da Educação abaixo do Piso Salarial Nacional.

Pimentel terá um grande trabalho pela frente, mas as expectativas são boas, o governador eleito acena com maior participação da sociedade nas tomadas de decisão do governo, incorporando movimentos organizados, trabalhadores, funcionalismo público e sindicatos. Minas Gerais viveu nestes anos com uma verdadeira “cerca neoliberal” que não deixava entrar aqui com toda intensidade os programas dos governos Lula e Dilma, e quando entravam mudavam de nome, agora temos a chance com Pimentel e Dilma mudar a realidade de nosso Estado.


* Texto publicado no jornal PÁGINA 13 órgão da tendência interna do PT - Articulação de Esquerda

Maioria das estações de monitoramento de enchente está desligada em BH

Sara Lira - Hoje em Dia

Marina Puliti Pereira/Hoje em Dia


O principal mecanismo do município para alertar a população sobre enchentes e alagamentos está praticamente inoperante. Das 59 estações de monitoramento do nível de córregos e rios, a maioria (44, ou 75%) está desligada desde maio por falta de manutenção. O contrato com a empresa responsável venceu, mas a prefeitura não renovou em tempo hábil.

No início deste mês, a Secretaria Municipal de Obras acertou, por dois anos, a prestação de serviços com a mesma empresa, a Hobeco Sudamericana Ltda, já em pleno período chuvoso. Até sexta-feira, os equipamentos continuavam sem funcionar, segundo o Instituto TempoClima PUC Minas, uma das instituições que recebem informações dos sensores.

O instituto e a Defesa Civil fazem o alerta, por meio de SMS, a 300 pessoas cadastradas. São comerciantes ou moradores das regiões mais suscetíveis a desastres, encarregadas de disseminar as informações aos vizinhos.




Maioria das estações de monitoramento de enchente está desligada em BHRelatório do TempoClima, ao qual o Hoje em Dia teve acesso com exclusividade, comprova que a população não teria como ser noticiada em caso de cheias súbitas. Na planilha, a maior parte das medições sobre o volume de água traz o resultado “s/d”, ou seja, “sem dados” – no período de novembro a 12 de dezembro.

Um dos cursos d’água mais desguarnecidos é o Arrudas, que já causou transtornos e até mortes quando transbordou ao longo da avenida Tereza Cristina. Nove dos 14 equipamentos instalados na região do Barreiro e na divisa com Contagem, na cabeceira do ribeirão, não funcionavam até sexta-feira.

Outros pontos estratégicos sem monitoramento são as avenidas Francisco Sá, no bairro Prado (região Oeste), e Prudente de Morais (Centro-Sul). Na primeira, carros chegam a ser arrastados quando o volume de água é muito grande. Na Prudente, a galeria subterrânea não suporta a cheia do córrego Leitão e costuma transbordar.
 
SOLUÇÃO
A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), responsável pelos contratos de manutenção dos serviços, não se posicionou sobre o motivo de o sistema não ter voltado à normalidade, embora a terceirização tenha sido retomada em 2 de dezembro, conforme publicação no Diário Oficial do Município (DOM).

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte dá a entender que há alguma pendência contratual com a Hobeco Sudamericana, mas não especifica qual. Informou que “continua empenhada em resolver os problemas contratuais referentes à manutenção das estações hidrometeo-rológicas no mais curto espaço de tempo”.
No sábado, o prefeito Marcio Lacerda foi questionado sobre o assunto. “Isso é um problema de contrato de manutenção, que vai ser resolvido rapidamente”, limitou-se a dizer.
 
Para quem foi afetado por alagamentos, fica a indignação
A notícia do desligamento das estações hidrológicas trouxe indignação a quem vive em locais costumeiramente afetados por enchentes. O sistema de alerta é um importante suporte para a tomada de decisões em caso de temporais. O imediatismo da informação garante, por exemplo, que comerciantes guardem o estoque em locais mais altos. Já moradores podem evitar ruas que transformam-se em rios. 

O comerciante Alexander Pires dos Santos, de 42 anos, proprietário de dois estabelecimentos na Bernardo Vasconcelos, no bairro Palmares (Nordeste), está preocupado. O sensor da avenida sanitária não mede o nível do córrego Cachoeirinha, que costuma transbordar após chuvas intensas, arrastando carros e deixando imóveis alagados. “Se está inoperante, é um dinheiro mal investido. Nos ajudaria muito caso funcionasse”, afirma.

Dono de uma autopeças nas imediações, Wagner Luiz Xavier, de 60 anos, não sabe qual a finalidade do equipamento. “Todo mundo acha que é radar de trânsito”
 
REGIÃO OESTE
Outro ponto crítico temido por comerciantes no período chuvoso fica na avenida Francisco Sá, no Prado (Oeste). Sob a avenida, localizada num vale, passa o córrego dos Pintos, que recebe água de vários outros bairros. Gerente de um bar , Gilson Dias, de 51 anos, já observou que o sistema de monitoramento não funciona. “Nunca nos deram um retorno de que esses sensores identificam algo”, diz.

Por mais que tente evitar prejuízos, Gilson sempre perde mercadorias ou tem equipamentos, como o freezer, estragados em enchentes. “A água sobe muito rápido e não tem como controlar”.
 
DESCONFIANÇA
Administradora de uma escola de circo na Francisco Sá, Adriana Oliveira, de 28 anos, acredita que a prefeitura não tem interesse nas estações. “O município não quer gastar com isso e faz ações paliativas, que, na verdade, não resolvem o problema”, reclama.

Adriana diz ter motivos para desconfiar das ações do poder público. Um deles seria o prejuízo de R$ 20 mil em consequência de uma enchente no ano passado. “Não vejo nada sendo feito para melhorar a situação. O que temos são só perdas”. 

Fonte: HOJE EM DIA

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Jornal Binômio: do humor à perseguição política

Criada pelos jornalistas José Maria Rabêlo e Euro Arantes, a publicação independente lançada ainda nos anos 50 foi digitalizada pela UFMG

por Mariana Melo




O jornalista José Maria Rabêlo, criador do jornal "Binômio - Sombra e Água Fresca"



A mídia alternativa brasileira ganha uma importante referência, agora digitalizada, com a doação do acervo do jornal Binômio - Sombra e Água Fresca por um de seus idealizadores, o jornalista José Maria Rabêlo. A digitalização foi realizada pela Universidade Federal de Minas Geral (UFMG) com a ajuda do jornalista de 86 anos, que doou as mais de 800 edições da publicação para a universidade.

A ação será comemorada na terça-feira 9, às 10 horas, na sede da biblioteca da UFMG, e contará com a presença de Rabêlo. Com 86 anos, o jornalista teve a vida marcada pelo jornalismo independente e pela perseguição política, que o fez ficar 15 anos no exílio.




O Binômio surgiu em Minas Gerais, em 1952, como uma brincadeira de estudantes, quando Rabêlo e seu sócio, o jornalista Euro Arantes, tinham 22 e 23 anos, respectivamente. Com forte teor humorístico, o jornal ganhou força por conta do “governismo” da mídia mineira na época em que Juscelino Kubitschek era governador do estado. “Era um escândalo, a imprensa era controlada pelo estado e não saía nada”, relata Rabêlo.

O nome do Binômio faz referência a um programa de governo de JK, na época batizado de “Binômio de Energia e Transporte”. “Para confrontar o ‘Binômio da Mentira’, como chamávamos este programa, lançamos o ‘Binômio da Verdade: Sombra e Água Fresca’. Foi um sucesso.”, lembra o jornalista. “Com uma linguagem muito independente, até com certo exagero, saímos contestando toda aquela política.”

Nos seus 12 anos de publicação, o Binômio chegou a uma tiragem de 60 mil exemplares, com alcance além de Minas Gerais, segundo Rabêlo. “No primeiro número foram umas quatro paginazinhas, muito mal impressas, com dois mil exemplares. Vendeu tudo. Tivemos que tirar mais dois mil."

Da fase humorística, o Binômio passou para um momento mais combativo em 1956. “Depois do governo de JK, entrou um governador muito retrógrado e conservador, o Bias Fortes. Então, passamos a fazer um jornal mais panfletário, dos mais bravos.” A partir dali, o Binômio encontrou dificuldades para circular. "As gráficas de Minas não imprimiam mais o Binômio. Então, tivemos que ir para o Rio de Janeiro, fomos um jornal que teve que se exilar para sobreviver."

Em 1958, o Binômio iniciou sua terceira e última fase, interrompida em 1964, não por acaso, o ano do golpe civil-militar no Brasil. Durante esses seis anos, o jornal se tornou um grande semanário. “Além do humor, apresentávamos denúncias e grandes reportagens, que abalavam o estado." Foi nessa fase que o jornal sofreu seu empastelamento. "Estava na época já a conspiração golpista. Era o governo do Jango e a direita já se articulava", recorda.

O Binômio virou alvo por fazer reportagem contra um general do Exército. "Foi nomeado um novo comandante das Forças Federais de Minas, o general João Punaro Bley. Ele deu, na ocasião, uma série de declarações anticomunistas, dizendo que o governo de Goulart era suspeito. Sabíamos que ele havia sido interventor do Estado Novo no Estado do Espírito Santo, que havia fechado jornais e comandado um campo de concentração para presos políticos. Fomos lá e fizemos um material impressionante”. Isso, segundo o jornalista, levou o general até a redação ameaçar os responsáveis pela publicação. “A publicação saiu no domingo. Na quarta-feira, ele apareceu no jornal, fardado e com o barrete metálico, para conversar com o diretor."

A tentativa de intimidação, de acordo com Rabêlo, acabou em uma luta corporal envolvendo ele e Bley. "Ele questionou quem havia escrito aquela ‘merda’ sobre ele. Eu respondi: é uma reportagem muito fundamentada e eu sou responsável por tudo que sai publicado no jornal. Dito isso, ele me agarrou pelo pescoço. Eu sabia que ele já tinha feito isso com jornalistas no Espírito Santo. Mas eu era lutador de judô. Nós rolamos pelo chão."

Binômio
Edição do jornal "Binômio"
A coragem de Rabêlo custou caro ao Binômio. "Três horas depois, chegaram uns 200 homens e destruíram tudo na redação. Eu já não estava lá, por sorte. Não ficou nada. Até as latrinas, destruíram tudo." Segundo o jornalista, não só o enfrentamento do general Bley levou à perseguição, mas também o teor das notícias do jornal, que defendiam o legalismo e o governo de João Goulart. “Em 1964, fecharam o jornal e não pudemos circular mais", relata.
Após o incidente, o jornalista passou a ser visado e teve de se exilar. "No dia 29 de março, em Minas, puseram em prática a Operação Gaiola, para prender todas aquelas pessoas que tinham envolvimento na defesa do governo Goulart”, lembra. “Eu era um dos principais, porque o nosso jornal denunciava a conspiração contra o Jango, a traição do Magalhães Pinto, entre outros fatos.”

A sorte passou, então, a marcar a vida do jornalista e de sua família. “Nesse dia 29, às vésperas do golpe, saí para almoçar e, no preciso momento em que eu descia, oficiais subiam no outro elevador para me prender. Isso é cinematográfico. O porteiro Geraldino me disse: ‘ô Zé Maria, cai fora que os homens estão aí, te procurando’. Foi o conselho mais sábio que eu recebi na vida", diz.

Rabêlo voltaria a viver outro afortunado desencontro quando se refugiou no Chile, nos anos 70. “Eu estava na primeira lista de procurados. Éramos 99 pessoas. A lista dizia assim: ‘As pessoas relacionadas têm o prazo de 24 horas para se apresentar ao Ministério da Defesa, sob pena de fuzilamento.’ Os oficiais chegaram na minha casa duas horas depois de eu ter saído.” O jornalista só voltaria a pisar no Brasil nos anos 80.

Como vanguarda, o Binômio discutia em suas colunas assuntos que não eram correntes na época, como a própria imprensa, a publicidade e os movimentos sociais. “Nós não nos inspirávamos em ninguém, buscávamos as nossas próprias soluções. Procurávamos fazer um jornalismo moderno, direto, claro, que explicasse ao leitor o que estava acontecendo.”

Tal preocupação com um jornalismo arrojado, segundo Rabêlo, falta hoje à mídia brasileira. Além disso, todos os jornais, na sua opinião, parecem falar dos mesmos assuntos. “As manchetes dos grandes jornais brasileiros são todas iguais. Uma vergonha, parece que todas vêm da mesma central de jornalismo. Isso não houve nem no tempo do Jango." Para Rabêlo, ainda há espaço para o crescimento do jornalismo alternativo e a recuperação do Binômio ajuda a aumentar as referências para que os jornalistas busquem novas perspectivas. “Hoje, temos a internet. A grande mídia impressa e televisiva não fala mais sozinha", acredita.

A coleção doada por Rabêlo ficará na Divisão de Coleções Especiais e Obras Raras da biblioteca da UFMG. O lançamento oficial do material ocorre no Campus Pampulha da universidade, na Av. Antônio Carlos, 6627, 4º andar, em Belo Horizonte.