Caravana do Lula em Minas Gerais: a resposta do povo aos golpistas
Marco Aurélio Rocha
No último 30 de outubro,
uma segunda-feira, dezenas
de milhares de pessoas reuniram-se
na Praça da Estação,
em Belo Horizonte. Não era
um show musical ou atividade
ligada a alguma igreja, como
tem sido mais comum nos últimos
anos. A multidão estava ali
para assistir ao ato de despedida
da caravana Lula por Minas
Gerais.
Era o ápice de uma caravana
de inegável sucesso. Foram
oito dias percorrendo 12 cidades
mineiras, em diferentes
regiões do estado, totalizando
1,5 mil quilômetros de estrada.
Em cada município, Lula foi
recebido por uma população
que visivelmente o admirava e
o admira. Gente que reconheceu
em seu governo o esforço
para melhorar a vida dos mais
pobres.
Mais importante do que
isso, a caravana de Lula em
Minas demonstrou, mais uma
vez, que, se provocado, o povo
responde positivamente. Havia,
certamente, militantes políticos
entre os presentes nos
atos, mas havia igualmente
gente sem qualquer filiação
partidária ou envolvimento
político mais forte. Estavam
ali porque perceberam que o
momento exige ação: o Brasil
do golpe retira direitos dos trabalhadores,
vende o Brasil ao
capital estrangeiro e promove,
com isso, a piora na qualidade
de vida das pessoas.
Chamou a atenção, por
exemplo, a forma como foi
recebida a presidenta Dilma
Rousseff. Ela esteve presente
nos atos de Ipatinga (o primeiro
da caravana), Montes
Claros, Bocaiuva, Diamantina,
Cordisburgo e Belo Horizonte.
Em todos eles, foi ovacionada.
Foi possível notar que a
maioria das pessoas, ainda que
bombardeadas pela propaganda
midiática, hoje percebe nitidamente
que houve um golpe
de estado no Brasil. As palmas
entusiasmadas a Dilma, em
todos os lugares onde esteve,
eram também o sinal de que
ninguém está satisfeito com o
rumo tomado pelo Brasil após
o PT deixar o governo federal.
Essa insatisfação foi canalizada
pela caravana. Antes de
um evento pré-eleitoral a favor
de Lula -- como gosta de dizer
a mídia corporativa --, a caravana
foi uma ampla mobiliza-
ção popular contra o Brasil do
golpe. Contra o que está aí: a
privatização das empresas pú-
blicas, a corrupção indisfarçada,
a retirada de direitos trabalhistas,
a redução ou mesmo
corte total de políticas sociais
criadas e executadas nos governos
de Lula e Dilma...
A caravana mostrou que o
caminho da luta, da mobiliza-
ção popular, é a melhor tática.
Aguardar outubro de 2018, na
suposição de que teremos elei-
ções regulares, é, no mínimo,
uma ingenuidade. O golpe foi
e é. Ocorre no cotidiano do
governo ilegítimo encabeçado
por Michel Temer. E por
isso precisa ser combatido incansavelmente
no dia-a-dia da
esquerda brasileira. A caravana
Lula por Minas Gerais deu
a dica: se organizarmos a luta
das trabalhadoras e trabalhadores,
eles responderão afirmativamente.
Mesmo protestos contra
Lula e as esquerdas em geral,
prometidos por certos grupos
da direita mineira e temidos
por alguns militantes petistas,
não deram certo. Quando
ocorreram, reuniram um número
máximo de 10, 20 pessoas,
quando muito. Acabaram por
si mesmos, quando seus líderes
perceberam o ridículo a que estavam
se submetendo na comparação
com os milhares de
conterrâneos favoráveis a Lula
e ao PT. Foi assim em Ipatinga,
Governador Valadares e
Teófilo Otoni, onde os grupos
de direita, todos defendendo o
deputado federal pelo Rio, Jair
Bolsonaro, até tentaram, mas
não conseguiram reunir gente
o suficiente para qualquer protesto.
Depois disso, nas cidades
seguintes (Araçuaí, Montes
Claros, Bocaiuva, Olhos
D’Água, Diamantina, Cordisburgo
e BH), sequer demonstraram
força para marcar qualquer
ato anti-esquerdista.
O sucesso da caravana de
Lula dá a receita: é preciso ir
às ruas contra o golpe. O que
estamos esperando?
Artigo publicado no jornal Página 13