segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Beethoven Sonata N° 14 'moonlight' Daniel Barenboim


O repto das ruas ao Tratado de Versalhes das elites

Resgatar o espaço da democracia social nas ruas do Brasil é a tarefa que empresta frescor e esperança a 2017.

por: Saul Leblon

O grau de sacrifício que o golpe decidiu impor à população brasileira é muito superior ao poder de ordenamento que as elites detém para implementa-lo sem recorrer a um regime de força.

Só uma ampla frente de interesses e forças poderá impedir que a lógica em curso se acerque do epílogo nefasto.

É sombrio o futuro da democracia no Brasil: a vitória ou a derrota da resistência popular  nesse embate condicionará o destino da sociedade que seremos no século XXI.

Arremeda-se aqui um Tratado de Versalhes revestido de medidas extremas de sacrifício e empobrecimento, qualificadas pela relatoria de Direitos Humanos da ONU ‘como sem precedente no mundo em sua duração e intensidade’.

’Essa emenda’, diz Philip Alston, relator da ONU, ‘(ademais de)  atar as mãos de todos os próximos governos por outras duas décadas, bloqueará gastos em níveis inadequados e rapidamente decrescentes na saúde, educação e segurança social, colocando toda uma geração futura em risco de receber uma proteção social muito abaixo dos níveis atuais.... Se for adotada, colocará o Brasil em uma categoria única em matéria de retrocesso social’.

Ao contrário do acordo imposto à Alemanha em 1919 pelo Tratado de Versalhes, igualmente incompatível com a capacidade de pagamento e sobrevivência da sociedade, como anteviu John Mainard Keynes  --que abandonou a delegação inglesa nas negociações e expôs suas divergências no clássico ‘As consequências econômicas da paz’— o alvo agora não é um inimigo à mercê da vingança dos vitoriosos, após uma conflagração mundial que custou dez milhões de vidas.

O alvo da elite brasileira hoje é o próprio povo, tratado como inimigo dentro do seu próprio país.

Descarrega-se sobre a geração de hoje, a de ontem e a de amanhã, o descomunal custo de uma transição de desenvolvimento só equacionável com a repactuação justa do ônus da travessia e a democratização das oportunidades previstas na chegada.

As elites e os donos da riqueza preferiram o golpe.

A diretriz  incrustrada na PEC 55– como também na reforma da Previdência em curso, e na ‘flexibilização das leis trabalhistas’ sinalizada,  desenha um horizonte de afunilamento extremo do acesso a direitos e à renda, num quadro de desigualdade secularmente asfixiante.

A ganância replica aqui, em certa medida, a postura do insaciável George Clemenceau, primeiro-ministro francês nas negociações de paz de Versalhes, entre as potencias vitoriosas (França, Inglaterra e EUA) e a Alemanha derrotada.

Sugestivamente conhecido como ‘Tigre’, o representante de Paris traduzia em exigências de pagamentos e ressarcimentos a ferocidade felina atada à jugular da presa.

A ‘paz cartaginesa’ imposta ao povo derrotado na primeira guerra mundial vale como metáfora do que se pretende agora com a nova ordem social inscrita na PEC -55.

Às famílias assalariadas, aos pobres e deserdados reserva-se um jejum de futuro equivalente ao dispensado por Roma aos derrotados de Cartago, onde até o solo da colônia foi salpicado de sal, para que o povo fenício não pudesse mais semear nem colher.

A PEC 55 salga o futuro da pobreza hoje e amanhã.

E o faz em variadas frentes; por exemplo, ao estreitar ainda mais o corredor já rígido da educação, como atalho mitigador da desigualdade brasileira.

O espírito de convergência inscrito no pacto social da Carta Cidadã de 1988 está sendo rompido em seus fundamentos, sem consultar a sociedade.

Desobriga-se o Estado, pelos próximos vinte anos, de assegurar 18% da receita líquida da União à escola pública nacional.

Nesse período o orçamento terá apenas a reposição inflacionária.

Significa que diante da expansão demográfica, em dez anos, ou seja, em 2026, os 18% atuais representarão 14,7%; que despencarão para 9,3%  em 2036 (50% do valor insuficiente disponível hoje).

Estamos falando de um garrote progressivo.

O pescoço é um sistema em que o salário base do professorado equivale a menos da metade da média da OCDE -- sendo igualmente mais baixo que o de países da América Latina como Chile, México e Colômbia.

O Brasil investe US$ 3,8 mil /ano por aluno na educação básica.

Os países da OCDE investem, em média, cerca de US$ 8,4 mil/ano per capita nos anos iniciais.

A defasagem é maior ainda nos estágios subsequentes.

Qual a surpresa com os resultados ainda desfavoráveis nos rankings internacionais de aprendizagem?

É esse sistema vulnerável, desafiado a dobrar as matrículas no ensino superior até 2024, a expandir o ensino técnico para elevar a produtividade da economia, a universalizar o acesso à educação infantil entre 4 e 5 anos e a elevar a qualidade do atendimento escolar na faixa crítica entre 15 e 17 anos que está sendo garroteado agora para não adicionar investimentos líquidos à máquina pública por vinte anos.

Na saúde, o Tratado de Versalhes brasileiro prevê um corte de R$ 440 bilhões até 2036.

Hoje o SUS já é uma hemorragia fora do controle,  um metabolismo subfinanciado, respirando por aparelhos –e esse é um consenso suprapartidário.

O que se passa, portanto, é algo distinto da recorrente barragem conservadora a novos avanços sociais.

O espírito de Clemenceau está no ar.

A determinação é a de esfolar até o osso, pelo tempo mais longo possível, as famílias assalariadas, a pobreza e a velhice desamparada.

O tigre da ganância capitalista fechou as mandíbulas na jugular do Estado, da nação e de sua gente.

Para não pagar imposto.

Um estudo do PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, corrobora o bordão conservador de que o Brasil cobra quase tanto imposto quantos os países ricos.

A obsequiosa mídia oficialista omite, porém, a distinta composição dessa carga.

Ao invés de taxar a riqueza, o fisco brasileiro suga a classe média e os pobres.

Os "super-ricos" do Brasil, ou 0,05% da população, diz o PNUD, pagam proporcionalmente menos impostos do que pessoas de renda intermediária.

Ganhos anuais superiores a R$ 4 milhões desfrutam de isenções sobre lucros e dividendos –sua principal fonte, em muitos casos. Isso garante que a republica rentista e a pátria dos acionistas pague, de fato, uma alíquota média de 7% aos fundos públicos.

O cidadão comum paga em média 12%.

O requisito para cercar essa assimetria da paz dos cemitérios imposta à Alemanha em 1919 é a faxina social promovida pelo golpe de 31 de agosto.

No momento estratégico em que o esgotamento de um ciclo de desenvolvimento impunha a discussão do passo seguinte a ser escrutinado pela sociedade, as elites se anteciparam.

E enfiaram goela abaixo da sociedade o seu projeto de paz social.

Consiste em tomar de volta, subtrair e predar tudo o que for possível e que se acumulou em décadas, por sucessivas gerações, no campo aberto das ruas, das greves, das urnas e do sacrifício –não raro da própria vida--  para se implantar a universalização os direitos sociais básicos no Brasil.

Mira-se desde a CLT, de Getúlio –e a partir daí, tudo o que veio depois e foi consolidado na Carta Cidadã de 1988, rebaixada à categoria de estorvo do capital.

Tudo o que não é mercado é populismo e corrupção, ensina o jogral fúnebre da mídia embarcada na desconstrução do espírito constituinte de 1987/88.

Uma rendição celerada e incondicional é operada nesse ambiente por um parlamento que se ergue vergonhosamente contra o povo e, como um hímen complacente, sanciona todas as violações contra o patrimônio e a soberania da nação.

A ‘des-emancipação’ social em massa atingirá a presente geração, a anterior, idosa, e a futura, hoje na soleira do mercado e da cidadania.

O que está em jogo é o destino de um dos países mais promissores dentre os que lutam pelo desenvolvimento no século XXI.

Ignora-se a vida e a morte, assim como as convulsões inerentes ao desatino em marcha.

Cega pela ganância, a elite enxerga na sociedade apenas o entreposto onde salgar carne humana em troca da manutenção de uma descabida e perturbadora acumulação de riquezas e privilégios.

Na encruzilhada atual, o formol histórico requer o absoluto desamparo da parcela majoritária da sociedade, descarnada de direitos e instrumentos para  influenciar as relações de poder e produção no capitalismo brasileiro.

O conjunto requer uma ruptura histórica para se consumar.

Não qualquer uma.

Essa que será decidida nas ruas em 2017.

De uma ferocidade equivalente à urdida no salão de espelhos do Palácio de Versalhes, onde o ‘Tigre’ exigiu o sangue e da alma de sucessivas gerações alemãs.

Uma escalada dessa natureza e intensidade implica em algum ponto da cadeia em uma ruptura com as bases do  Estado liberal.

Seja para viabilizar a gula predadora, seja para derrota-la.

Na Alemanha isso ocorreu em 30 de janeiro de 1933, quando o partido nazista, já majoritário no parlamento, impôs seu líder, Adolf Hitler, como chanceler do enfraquecido governo Hindenburg, que cortava investimentos públicos em meio a uma crise devastadora.

Hitler acionou os instrumentos estatais de centralização, produção, financiamento e planejamento necessários à reversão de um colapso econômicos devastador

Hjalmrar Schacht, um banqueiro nacionalista (havia disso no início do século XX), nomeado presidente do Reichsbank, o BC de Hitler, observou que “a política passiva” do gabinete Brünning, de imobilização pró-cíclica do Estado, endossando o mergulho da economia, não poderia jamais resolver o problema de uma sociedade em meio a uma desordem mundial.

De fato não resolveu.

Refém de uma prisão ideológica semelhante àquela, o ‘o golpe da restauração neoliberal’  ameaça o Brasil com  um flagelo equivalente ao que levou à derrocada da República de Weimar.

O sagaz Schacht mobilizaria os antídotos estatais à liquefação da economia e da sociedade alemã, mas o fez no escopo de uma odiosa restauração da autoestima nacional, embalado no impulso imperial racista da máquina genocida nazista.

O resto é bastante conhecido.

Uma das primeiras medidas de Hitler foi colocar o partido comunista na ilegalidade.

Seguiu-se a cassação da socialdemocracia  –ambos fragilizados pela divisão intestina nascida da repressão aos espartaquistas de Rosa de Luxemburgo pelo SPD, ente 1918 e 1919.

É mais um ângulo da tragédia alemã a reservar severas advertência às forças progressistas brasileiras do presente.

Enquanto as esquerdas germânicas se aniquilavam literalmente, seu destino comum era selado pela captura integral do Estado por uma simbiose perfeita entre capitalismo e nazismo, cujo êxito até hoje espanta os que identificam capitalismo à livre concorrência.

O  fato é que o Tratado de Versalhes levara a sociedade alemã a uma escalada indivisa de colapsos sequenciais de natureza econômica, social e política que pavimentou a demanda por uma solução centralizadora, impositiva e identitária.

Degraus sucessivos de hiperinflação, desemprego em massa e a inexistência de alternativa crível nas fileiras progressistas criariam um incêndio social,   induzindo a nação alemã a entregar seu  destino e o destino de seu desenvolvimento às promessas de ordem e redenção nacional acenadas pelo nazismo.

Keynes estava certo: uma paz efetiva exigiria outra coisa.

Exigiria uma  repactuação entre vencedores e vencidos, de modo a recriar as condições para uma idêntica coordenação estatal de investimentos, mas em regime democrático,  capaz de restaurar a esperança em um futuro de empregos, oportunidades e cooperação internacional.

O caminho escolhido em Versalhes, como o de hoje na encruzilhada do desenvolvimento brasileiro, foi outro.

O fardo das reparações impagáveis, das expropriações de infraestrutura, colônias, riquezas públicas e privadas levou ao empobrecimento generalizado, ademais do sentimento de humilhação e opressão.

O poder público a tudo assistia inerte, atado à camisa de força da passividade fiscal do liberalismo, a endossar a derrota bélica com a eutanásia econômica.

O conjunto arrastaria a sociedade a um rodamoinho de radicalização e sobressaltos que se prolongaria por mais de uma década, culminando em 1931 com a ‘moratória Hoover’ que suspendeu os pagamentos.

Tarde demais.

O desemprego havia queimado todas os disjuntores de estabilidade na vida alemã.

Em 1929 o país registrava 2,8 milhões de desempregados; em 1932 esse contingente saltaria para quase seis milhões --o Partido Nacional Socialista conquistaria então 13,5 milhões de votos (37,4%), tornando-se o maior do Parlamento, com 230 cadeiras.

O crash na Bolsa de Nova Iorque (1929) seccionou o último balão de oxigênio da economia, representado por investimentos diretos de capitais norte-americanos, que paradoxalmente serviram de correia de transmissão da crise de Wall Street no mercado germânico.

A escalada de desamparo e descrédito nas instituições parecia corroborar a incapacidade do Estado liberal  de devolver algum chão firme à produção e à democracia .

A humilhação, o medo e a revolta falavam alto em cada esquina.

A extrema-direita fazia campanha política nas rádios apenas lendo a lista de imposições trazida pelos negociadores de Versalhes.

Que não eram poucas.

Nem menos que devastadoras.

Na verdade, ainda hoje soam quase inacreditáveis em se tratando de um acordo para paz -- assim como soam desconcertantes as imposições decretadas aqui em nome da ‘eficiência dos mercados’.

Keynes, em sua obra sobre Versalhes, lista alguns  exemplo:

1)  O sistema econômico alemão existente antes da guerra dependia de três fatores principais: I) o comércio ultramarino representado pela sua marinha mercante --suas colônias, seus investimentos estrangeiros, suas exportações e os encadeamentos de seu mercado com o exterior; II) a exploração do seu ferro e carvão, e as indústrias baseadas nesses produtos; III) seu sistema de transporte e suas tarifas.  O Tratado de Versalhes induziu à destruição sistemática desses três pilares.

2) A Alemanha cedeu aos aliados todos os navios da sua marinha mercante com mais de 1.600 toneladas brutas; metade dos navios entre 1.000 e 1.600 toneladas e um quarto das suas traineiras e outros barcos de pesca. Mais que isso: o confisco atingia todos os barcos de bandeira alemã no exterior e  todos aqueles de propriedade de  alemães, mesmo que sob outras bandeiras, assim como todos os barcos em construção. Ainda: os estaleiros alemães, quando solicitados, deveriam construir para os aliados todos os tipos de navios, num total de 200.000 toneladas/ ano,  durante cinco anos. Ou seja, a marinha mercante alemã foi varrida dos mares. Para que o país transportasse suas mercadorias, o tratado previa que pagasse pelo frete em cascos de sua antiga frota  --ao preço que os vitoriosos arbitrassem.

3) Todos os direitos, terras e títulos das possessões e colônias alemãs no ultramar foram confiscados definitivamente pelos aliados. Diferentemente da prática adotada na maioria dos acordos bélicos da história, as propriedades privadas de alemães também foram confiscadas. Seus detentores originais poderiam ou não ser autorizados a residir, ter propriedade, exercer o comércio ou uma profissão nesse território.

4) Todos os contratos de empresas alemãs para a construção ou exploração de obras públicas foram transferidos para os governos das nações vitoriosas.

5) A expropriação em massa de propriedade privada e contratos seria feita sem qualquer compensação dos indivíduos ou grupos penalizados.

6) O parque fabril alemão na Alsácia- Lorena poderia ser expropriado sem compensação, a critério do governo francês, a qualquer momento.

7)À França, igualmente, caberia a posse plena e absoluta, sem ônus, livre de todas as dívidas de qualquer espécie, das minas de carvão situadas na bacia do Sarre.

8)O sistema ferroviário alemão, um dos pilares do dinamismo comercial germânico, foi fatiado e redistribuído entre os vencedores com o confisco de 150 mil vagões e cinco mil locomotivas.

9)Por fim, a soma de reparações em dinheiro e o pagamento de pensões aos mutilados ou familiares de mortos na guerra, dos países vitoriosos, impuseram à Alemanha transferências anuais –sujeitas a juros arbitrados unilateralmente em caso de atrasos— de uma soma quatro vezes superior à que Keynes, por exemplo, considerava factível sem a destruição do país.

10)Pelo menos 80% do saldo do comércio exterior alemão teria que ser destinado à finalidade dos pagamentos em dinheiro previstos por Versalhes.

O não cumprimento das cláusulas, punido com juros, perpetuaria a condição devedora do país, impondo-se novas penalizações, como foi o caso da ocupação do polo industrial do Ruhr pelos vitoriosos, em 1923.

A reação dos negociadores alemães em Versalhes diante da lista leonina, apropriadamente tratada por Keynes de ‘as consequências econômicas da paz’, foi de choque.

Em um primeiro comunicado, antes de ser coagida a anuir sob risco de uma ocupação militar violenta, a comissão de representantes de Berlim desabafou:

‘A democracia alemã é aniquilada justamente no momento em que o povo alemão se dispunha a erigi-la –e pelas mesmas pessoas que durante toda a guerra não se cansaram de afirmar que pretendiam trazer-nos a democracia... A Alemanha deixa de ser um povo e um Estado; passa a ser um simples empreendimento comercial, colocada pelos seus credores nas mãos de um administrador de massa falida, sem ter sequer a oportunidade de demonstrar o desejo de cumprir por conta própria as suas obrigações. A comissão, sediada em caráter permanente fora do território alemão, terá nesse território direitos incomparavelmente maiores do que os do Imperador; (tal política reduzirá) a  Alemanha à servidão por toda uma geração (...) Alguns a pregam em nome da justiça (...) a justiça nunca é tão simples. Se fosse, a religião ou a moral natural não autoriza as nações a fazer recair sobre os filhos dos seus inimigos as perversidades dos seus pais ou governantes’.

Depois de resumir as principais disposições do Tratado de Paz, o relatório concluía:

‘ (...) com a sua produção diminuída, depois da depressão resultante da perda das colônias, da frota mercante e dos investimentos no exterior, dentro de muito pouco tempo o país não terá condições de fornecer pão e emprego a seus numerosos milhões de habitantes, impedidos de ganhar a vida. Para implementar as condições do Tratado de Paz seria necessário, logicamente, reduzir a população alemã em vários milhões. Uma catástrofe que poderia não tardar, considerando que a saúde do povo alemão foi muito prejudicada - pelo bloqueio, durante a guerra, e pelo agravamento da fome, durante o armistício’.

Trechos do desabafo germânico poderiam ser evocados na apreciação da política de terra arrasada em curso hoje no Brasil.

À  semelhança de Versalhes, ela reserva um tratamento de tropa de ocupação a direitos sociais, salários, riquezas nacionais, como o pré-sal, ademais da promover a dizimação do estoque de expertise e capacidade produtiva condensado em grandes corporações empresariais  --esfaceladas pela ação grosseira ou deliberada dos responsáveis pela Lava Jato, que objetivamente serviram como lubrificante à derrubada do governo Dilma Rousseff.

A história fará esse relatório minucioso em algum momento no futuro.

Por ora, cumpre observar que o repto à virulência em curso é inexorável.

Ele virá na chave de uma arregimentação estatal de forças e recursos que poderá obedecer à democracia fortalecida, ou ao autoritarismo violento.

Ilude-se quem confunde a perplexidade com resignação.

Sim, há prostração intensa em alguns segmentos.

Ele decorre, em boa parte, do largo período de avanços incrementais no consumo, na renda e nos direitos, sem a contrapartida de uma armadura política, organizacional e midiática capaz de defende-los na hora do confronto que viria.

Como veio, antecedido, astutamente, de uma caçada à corrupção.

Nesse ambiente deliberadamente turvado pelo descrédito paralisante na política, a regressão anunciada reveste-se de imposições insuportáveis em uma nação marmorizada por carências e urgências apenas proteláveis sob o abrigo da esperança.

A esperança agoniza dentro dos lares, nas ruas, nas escolas, nas fábricas, nas grandes metrópoles e nos campos distantes, nesta sombria despedida de 2016.

A atmosfera de um rolo compressor sob o qual nada se mantem de pé reflete, no entanto, a força de um martelete midiático que ecoa mais do que pode de fato.

A dissolução antissocial e antinacional do golpe carrega o seu limite e vulnerabilidade na própria ferocidade que ordena o seu escopo, assim como as imposições do ‘Tigre’ de Versalhes.

A rota bruta de colisão com pleitos, bandeiras e projetos torna inevitável a emergência de uma nova  referência de desenvolvimento e de futuro para a nação, a economia, a sua gente e o seu sonho.

A chance de as forças progressistas liderarem a iniciativa política depende da sua capacidade de prover escala e consistência à demanda por coordenação e planejamento públicos que esse repto requer.

A determinação e o desassombro para se enxergar o esgotamento de um ciclo histórico terá peso decisivo.

A resistência socialista e democrática alemã não conseguiu construir a unidade de forças necessária à modelagem desse repto crível nos anos 20.

Hitler e Hjalmar Schacht o fizeram ao modo sabido.

No caso brasileiro, o que se requisita é a articulação de um protagonista social com força e consentimento para acionar novos motores do Estado e do desenvolvimento, alternativos ao desmanche dos direitos sociais e à entrega do patrimônio público preconizados pelo golpe.

Antes que um Hitler sinalize  a rota alternativa no totalitarismo de um Estado policial, as forças democráticas e progressistas devem erguer as linhas de passagem de uma travessia crível e desassombrada de repactuação do desenvolvimento com a democracia social, no ambiente saturado da desordem neoliberal em nosso tempo.

Resgatar o espaço dessa travessia nas ruas do Brasil é a tarefa que empresta frescor e esperança a 2017.

São os desejos de Carta Maior.

Fonte: CARTA MAIOR

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Plenária pelo Congresso do PT - 07 DE NOVEMBRO DE 2016



No rastro do impeachment da presidenta Dilma, um governo ilegítimo promove uma ofensiva sem precedentes contra direitos fundamentais do povo brasileiro, expressa em iniciativas como a PEC 241 e a reforma da previdência. Como contraponto, surgem manifestações de protesto e o movimento popular busca organizar a resistência.

Em tal contexto, quando mais seria necessária a sua atuação, o PT atravessa a maior crise de sua história, que se refletiu em uma derrota de grandes proporções nas recentes eleições municipais.

Neste grave quadro, é imperativo que o Diretório Nacional do PT convoque, de imediato, o VI Congresso, para discutir e aprovar um novo programa e novas diretrizes de atuação política e partidária, colocando o partido na linha de frente contra o golpe e contra a revogação de direitos do povo brasileiro. Um Congresso com delegados eleitos pela base, com legitimidade para eleger uma nova direção.

Convidamos os militantes e simpatizantes do PT que compartilham desta opinião para um ato pela convocação imediata do VI Congresso, dia 07/11, às 18h30, no Sindieletro, situado na Rua Mucuri, 271, Floresta.

À DIREÇÃO NACIONAL DO PT

MANIFESTO PELA CONVOCAÇÃO IMEDIATA DO VI CONGRESSO

Desde o último Congresso do Partido dos Trabalhadores, realizado em junho de 2015, na cidade de Salvador, a situação política e econômica no Brasil se alterou profundamente. A crise econômica se agravou, cortando milhões de empregos, e, no seu rastro, a situação fiscal de estados e municípios se deteriorou, comprometendo a prestação de serviços públicos essenciais e inviabilizando investimentos. O golpe de Estado levado a cabo com o impeachment da presidenta Dilma abriu caminho para uma ofensiva contra direitos fundamentais do povo brasileiro, expressa em iniciativas como a PEC 241, as reformas da previdência e da CLT, e a entrega do Pré Sal ao capital internacional.

O PT assistiu ao desmoronamento da coalizão governista no Congresso e à falência de um modelo de governabilidade. Foi e tem sido objeto de uma intensa campanha de desmoralização e de criminalização, baseada na instrumentalização política e na manipulação facciosa da Operação Lava Jato – às quais não conseguiu se opor. Em tal contexto, e atravessando a maior crise de sua história, o PT acabou por sofrer uma derrota de grandes proporções nas recentes eleições municipais.

Neste grave quadro, é imperativo que o Diretório Nacional do PT convoque, de imediato, o VI Congresso. Um Congresso que estabeleça um novo programa e novas diretrizes de atuação política e partidária, refletindo sobre os acertos e os erros no Partido nos últimos anos, sobre a nova conjuntura, sobre os desafios postos às forças progressistas para a construção de um novo projeto de desenvolvimento soberano, democrático e popular. Um Congresso que incorpore no seu processo de debates todos os que se opuseram ao golpe parlamentar e têm se oposto às medidas retrógradas de restauração do projeto neoliberal em nosso país: movimentos sociais, lideranças democráticas, organizações da juventude e de mulheres, intelectuais e partidos de esquerda. Um Congresso a partir das bases, que eleja delegados com legitimidade para eleger uma nova direção. Um Congresso que, acima das disputas entre tendências partidárias, mobilize as energias e os sonhos dos filiados do partido, de seus simpatizantes e de seus aliados. Um Congresso que nos ponha à altura do desafio que a vida nos impõe: colocar o partido na linha de frente do povo brasileiro contra o golpe e o programa neoliberal de destruição da democracia brasileira.


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Vergonha: Câmara aprova por 292 votos a 101 entrega do pré-sal às multinacionais

para a FUP, é mais um golpe contra o povo brasileiro; veja a lista de votação

Aprovado fim da participação obrigatória da Petrobras na exploração do pré-sal

  da Agência Câmara

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou, por 292 votos a 101, o projeto de lei que desobriga a Petrobras de ser a operadora de todos os blocos de exploração do pré-sal no regime de partilha de produção (PL 4567/16, do Senado). Faltam ser analisados destaques ao texto, o que deve ocorrer na semana que vem.

Por horas, a oposição obstruiu os trabalhos por ser contra a flexibilização da regra com o argumento de que isso abrirá caminho para a futura privatização da Petrobras e perda de arrecadação da União.

A Lei 12.351/10 institui o regime de partilha e prevê a participação da Petrobras em todos os consórcios de exploração de blocos licitados na área do pré-sal com um mínimo de 30% e na qualidade de operadora.

O operador é o responsável pela condução da execução direta ou indireta de todas as atividades de exploração, avaliação, desenvolvimento, produção e desativação das instalações.

Mais um golpe contra o povo brasileiro: deputados entregam o pré-Sal às multinacionais

NOTA DA FUP

O povo brasileiro sofreu um duro golpe nesta quarta-feira, quando a Câmara dos Deputados Federais aprovou o PL 4567/16, que entrega a operação do Pré-Sal às multinacionais. Foram 292 votos a favor do projeto e apenas 101 contrários.

Além de um crime contra a soberania, o que aconteceu hoje em Brasília é o primeiro passo para acabar com o regime de partilha, que conquistamos a duras penas para que o Estado pudesse utilizar os recursos do petróleo em benefício da população.

Entregar o Pré-Sal às multinacionais significará menos recursos para a saúde e a educação e o fim da política de conteúdo nacional, que gera empregos, renda e tecnologia para o nosso país.

É o pagamento do golpe, que foi articulado em comum acordo com os interesses dos setores empresariais e de mídia, que nunca admitiram que a exploração do Pré-Sal fosse uma prerrogativa do Estado brasileiro.

Apesar da gravidade dos fatos desta quarta-feira, a FUP e seus sindicatos continuarão defendendo a soberania nacional e resistindo ao desmonte da Petrobrás e do regime de partilha.

**********

Veja a lista dos 292 parlamentares golpistas que votaram SIM, favoravelmente à perda da soberania nacional sobre o nosso petróleo, e os 101 parlamentares que defenderam a soberania nacional, votando NÃO!

Parlamentar UF – Voto

DEM
Abel Mesquita Jr. RR Sim
Alberto Fraga DF Sim
Felipe Maia RN Sim
Francisco Floriano RJ Sim
Hélio Leite PA Sim
Jorge Tadeu Mudalen SP Sim
José Carlos Aleluia BA Sim
Juscelino Filho MA Sim
Mandetta MS Sim
Marcelo Aguiar SP Sim
Marcos Soares RJ Sim
Misael Varella MG Sim
Missionário José Olimpio SP Sim
Moroni Torgan CE Sim
Onyx Lorenzoni RS Sim
Pauderney Avelino AM Sim
Professora Dorinha Seabra Rezende TO Sim
Rodrigo Maia RJ Art. 17
Total DEM: 18

PCdoB
Alice Portugal BA Não
Angela Albino SC Não
Chico Lopes CE Não
Daniel Almeida BA Não
Jandira Feghali RJ Não
Jô Moraes MG Não
Luciana Santos PE Não
Orlando Silva SP Não
Professora Marcivania AP Não
Rubens Pereira Júnior MA Não
Total PCdoB: 10

PDT
André Figueiredo CE Não
Assis do Couto PR Não
Carlos Eduardo Cadoca PE Sim
Dagoberto MS Não
Félix Mendonça Júnior BA Não
Flávia Morais GO Não
Hissa Abrahão AM Não
Leônidas Cristino CE Não
Pompeo de Mattos RS Não
Subtenente Gonzaga MG Não
Vicente Arruda CE Não
Total PDT: 11

PEN
Erivelton Santana BA Sim
Walney Rocha RJ Não
Total PEN: 2

PHS
Carlos Andrade RR Sim
Diego Garcia PR Sim
Dr. Jorge Silva ES Não
Marcelo Aro MG Sim
Marcelo Matos RJ Sim
Pastor Eurico PE Sim
Total PHS: 6

PMB
Weliton Prado MG Não
Total PMB: 1

PMDB
Alceu Moreira RS Sim
Alexandre Serfiotis RJ Sim
Altineu Côrtes RJ Sim
André Amaral PB Sim
Aníbal Gomes CE Sim
Baleia Rossi SP Sim
Cabuçu Borges AP Sim
Carlos Bezerra MT Sim
Carlos Marun MS Sim
Celso Jacob RJ Sim
Celso Maldaner SC Sim
Celso Pansera RJ Não
Daniel Vilela GO Sim
Darcísio Perondi RS Sim
Dulce Miranda TO Sim
Edinho Araújo SP Sim
Edinho Bez SC Sim
Elcione Barbalho PA Sim
Fábio Ramalho MG Sim
Fabio Reis SE Sim
Flaviano Melo AC Sim
Hermes Parcianello PR Sim
Hildo Rocha MA Sim
Hugo Motta PB Não
Jarbas Vasconcelos PE Sim
João Arruda PR Não
Jones Martins RS Sim
José Fogaça RS Sim
José Priante PA Sim
Josi Nunes TO Sim
Kaio Maniçoba PE Sim
Laura Carneiro RJ Sim
Lelo Coimbra ES Sim
Lucio Vieira Lima BA Sim
Manoel Junior PB Sim
Marcelo Castro PI Sim
Marcos Rotta AM Sim
Marinha Raupp RO Sim
Mauro Lopes MG Sim
Mauro Mariani SC Sim
Mauro Pereira RS Sim
Moses Rodrigues CE Sim
Osmar Serraglio PR Sim
Pedro Chaves GO Sim
Rodrigo Pacheco MG Sim
Rogério Peninha Mendonça SC Sim
Ronaldo Benedet SC Sim
Saraiva Felipe MG Sim
Sergio Souza PR Sim
Simone Morgado PA Sim
Soraya Santos RJ Sim
Valdir Colatto SC Sim
Valtenir Pereira MT Sim
Walter Alves RN Sim
Zé Augusto Nalin RJ Sim
Total PMDB: 55

PP
Afonso Hamm RS Sim
André Abdon AP Sim
Arthur Lira AL Sim
Beto Rosado RN Sim
Beto Salame PA Não
Cacá Leão BA Sim
Conceição Sampaio AM Sim
Covatti Filho RS Sim
Dimas Fabiano MG Abstenção
Eduardo da Fonte PE Sim
Esperidião Amin SC Sim
Ezequiel Fonseca MT Sim
Fausto Pinato SP Sim
Fernando Monteiro PE Sim
Franklin Lima MG Sim
Guilherme Mussi SP Sim
Hiran Gonçalves RR Sim
Jorge Boeira SC Não
Julio Lopes RJ Sim
Lázaro Botelho TO Sim
Luis Carlos Heinze RS Sim
Luiz Fernando Faria MG Sim
Maia Filho PI Sim
Marcelo Belinati PR Não
Marcus Vicente ES Sim
Mário Negromonte Jr. BA Sim
Nelson Meurer PR Sim
Paulo Maluf SP Sim
Ricardo Izar SP Sim
Roberto Britto BA Sim
Rôney Nemer DF Sim
Sandes Júnior GO Sim
Toninho Pinheiro MG Sim
Total PP: 33

PPS
Arnaldo Jordy PA Sim
Arthur Oliveira Maia BA Sim
Carmen Zanotto SC Sim
Marcos Abrão GO Sim
Rubens Bueno PR Sim
Total PPS: 5

PR
Adelson Barreto SE Não
Aelton Freitas MG Sim
Alexandre Valle RJ Sim
Alfredo Nascimento AM Sim
Bilac Pinto MG Sim
Brunny MG Sim
Cabo Sabino CE Sim
Cajar Nardes RS Sim
Capitão Augusto SP Sim
Clarissa Garotinho RJ Sim
Davi Alves Silva Júnior MA Sim
Delegado Edson Moreira MG Sim
Delegado Waldir GO Sim
Dr. João RJ Sim
Giovani Cherini RS Sim
Gorete Pereira CE Sim
Jorginho Mello SC Sim
José Carlos Araújo BA Sim
José Rocha BA Sim
Laerte Bessa DF Sim
Lúcio Vale PA Sim
Luiz Cláudio RO Sim
Luiz Nishimori PR Sim
Marcelo Álvaro Antônio MG Sim
Marcio Alvino SP Sim
Miguel Lombardi SP Sim
Milton Monti SP Sim
Paulo Feijó RJ Sim
Paulo Freire SP Sim
Remídio Monai RR Sim
Silas Freire PI Não
Tiririca SP Sim
Vicentinho Júnior TO Sim
Zenaide Maia RN Não
Total PR: 34

PRB
Alan Rick AC Sim
Antonio Bulhões SP Sim
Beto Mansur SP Sim
Celso Russomanno SP Sim
César Halum TO Sim
Cleber Verde MA Sim
Jhonatan de Jesus RR Sim
João Campos GO Sim
Lindomar Garçon RO Sim
Marcelo Squassoni SP Sim
Márcio Marinho BA Sim
Ricardo Bentinho SP Sim
Rosangela Gomes RJ Sim
Silas Câmara AM Sim
Tia Eron BA Sim
Vinicius Carvalho SP Sim
Total PRB: 16

PROS
Bosco Costa SE Sim
Eros Biondini MG Sim
Odorico Monteiro CE Não
Ronaldo Fonseca DF Sim
Total PROS: 4

PRP
Nivaldo Albuquerque AL Sim
Total PRP: 1

PSB
Adilton Sachetti MT Sim
Átila Lira PI Sim
Bebeto BA Sim
Creuza Pereira PE Sim
Danilo Cabral PE Não
Danilo Forte CE Sim
Fabio Garcia MT Sim
Flavinho SP Sim
Gonzaga Patriota PE Sim
Heitor Schuch RS Não
Heráclito Fortes PI Sim
Hugo Leal RJ Sim
Ildon Marques MA Sim
Janete Capiberibe AP Não
JHC AL Sim
João Fernando Coutinho PE Sim
José Reinaldo MA Sim
Jose Stédile RS Sim
Júlio Delgado MG Não
Keiko Ota SP Sim
Leopoldo Meyer PR Sim
Luciano Ducci PR Sim
Luiz Lauro Filho SP Sim
Maria Helena RR Sim
Marinaldo Rosendo PE Sim
Paulo Foletto ES Sim
Rafael Motta RN Sim
Rodrigo Martins PI Sim
Severino Ninho PE Não
Tadeu Alencar PE Sim
Tenente Lúcio MG Sim
Tereza Cristina MS Sim
Total PSB: 32

PSC
Andre Moura SE Sim
Eduardo Bolsonaro SP Sim
Gilberto Nascimento SP Sim
Jair Bolsonaro RJ Sim
Júlia Marinho PA Sim
Pr. Marco Feliciano SP Sim
Total PSC: 6

PSD
André de Paula PE Sim
Átila Lins AM Sim
Danrlei de Deus Hinterholz RS Sim
Diego Andrade MG Sim
Domingos Neto CE Sim
Evandro Roman PR Sim
Expedito Netto RO Sim
Fábio Faria RN Sim
Fábio Mitidieri SE Não
Goulart SP Sim
Herculano Passos SP Sim
Jaime Martins MG Sim
Jefferson Campos SP Sim
Joaquim Passarinho PA Sim
José Nunes BA Sim
Júlio Cesar PI Sim
Marcos Montes MG Sim
Marcos Reategui AP Sim
Paulo Magalhães BA Sim
Raquel Muniz MG Sim
Rogério Rosso DF Sim
Sandro Alex PR Sim
Sérgio Brito BA Sim
Stefano Aguiar MG Sim
Thiago Peixoto GO Sim

Total PSD: 25

PSDB
Antonio Imbassahy BA Sim
Arthur Virgílio Bisneto AM Sim
Betinho Gomes PE Sim
Bruno Covas SP Sim
Caio Narcio MG Sim
Carlos Sampaio SP Sim
Célio Silveira GO Sim
Daniel Coelho PE Sim
Domingos Sávio MG Sim
Duarte Nogueira SP Sim
Eduardo Barbosa MG Sim
Eduardo Cury SP Sim
Fábio Sousa GO Sim
Geovania de Sá SC Sim
Geraldo Resende MS Sim
Izalci DF Sim
João Gualberto BA Sim
João Paulo Papa SP Sim
Jutahy Junior BA Sim
Lobbe Neto SP Sim
Luiz Carlos Hauly PR Sim
Marco Tebaldi SC Sim
Marcus Pestana MG Sim
Mariana Carvalho RO Sim
Miguel Haddad SP Sim
Nilson Leitão MT Sim
Nilson Pinto PA Sim
Otavio Leite RJ Sim
Paulo Abi-Ackel MG Sim
Paulo Martins PR Sim
Pedro Cunha Lima PB Sim
Pedro Vilela AL Sim
Raimundo Gomes de Matos CE Sim
Ricardo Tripoli SP Sim
Rodrigo de Castro MG Sim
Rogério Marinho RN Sim
Shéridan RR Sim
Silvio Torres SP Sim
Vanderlei Macris SP Sim
Vitor Lippi SP Sim
Total PSDB: 40

PSL
Alfredo Kaefer PR Sim
Dâmina Pereira MG Sim
Total PSL: 2

PSOL
Chico Alencar RJ Não
Glauber Braga RJ Não
Ivan Valente SP Não
Jean Wyllys RJ Não
Luiza Erundina SP Não
Total PSOL: 5

PT
Adelmo Carneiro Leão MG Não
Afonso Florence BA Não
Andres Sanchez SP Não
Angelim AC Não
Assis Carvalho PI Não
Beto Faro PA Não
Bohn Gass RS Não
Carlos Zarattini SP Não
Chico D Angelo RJ Não
Décio Lima SC Não
Enio Verri PR Não
Erika Kokay DF Não
Fabiano Horta RJ Não
Gabriel Guimarães MG Não
Givaldo Vieira ES Não
Helder Salomão ES Não
Henrique Fontana RS Não
João Daniel SE Não
Jorge Solla BA Não
José Airton Cirilo CE Não
José Guimarães CE Não
José Mentor SP Não
Leo de Brito AC Não
Leonardo Monteiro MG Não
Luiz Couto PB Não
Luiz Sérgio RJ Não
Luizianne Lins CE Não
Marco Maia RS Não
Marcon RS Não
Moema Gramacho BA Não
Nelson Pellegrino BA Não
Nilto Tatto SP Não
Padre João MG Não
Paulão AL Não
Paulo Pimenta RS Não
Paulo Teixeira SP Não
Pedro Uczai SC Não
Pepe Vargas RS Não
Reginaldo Lopes MG Não
Rubens Otoni GO Não
Ságuas Moraes MT Não
Valmir Assunção BA Não
Vander Loubet MS Não
Vicente Candido SP Não
Vicentinho SP Não
Waldenor Pereira BA Não
Zé Geraldo PA Não
Zeca do Pt MS Não
Total PT: 48

PTB
Alex Canziani PR Sim
Arnaldo Faria de Sá SP Não
Arnon Bezerra CE Não
Benito Gama BA Sim
Deley RJ Sim
Josué Bengtson PA Sim
Nelson Marquezelli SP Sim
Paes Landim PI Sim
Pedro Fernandes MA Sim
Sérgio Moraes RS Sim
Wilson Filho PB Não
Zeca Cavalcanti PE Sim
Total PTB: 12

PTdoB
Cabo Daciolo RJ Não
Luis Tibé MG Sim
Silvio Costa PE Não
Total PTdoB: 3

PTN
Ademir Camilo MG Sim
Alexandre Baldy GO Sim
Aluisio Mendes MA Sim
Bacelar BA Não
Carlos Henrique Gaguim TO Sim
Dr. Sinval Malheiros SP Sim
Ezequiel Teixeira RJ Sim
Francisco Chapadinha PA Sim
Jozi Araújo AP Sim
Luiz Carlos Ramos RJ Sim
Ricardo Teobaldo PE Sim
Total PTN: 11

PV
Evair Vieira de Melo ES Sim
Evandro Gussi SP Sim
Total PV: 2

REDE
Alessandro Molon RJ Não
João Derly RS Não
Miro Teixeira RJ Não
Total REDE: 3

Solidariedade
Augusto Carvalho DF Sim
Aureo RJ Sim
Benjamin Maranhão PB Sim
Carlos Manato ES Sim
Fernando Francischini PR Sim
Laudivio Carvalho MG Sim
Lucas Vergilio GO Sim
Major Olimpio SP Sim
Paulo Pereira da Silva SP Sim
Zé Silva MG Sim
Total Solidariede: 10

Fonte: VIOMUNDO

Belo Horizonte: nem João Leite, nem Kalil, fora golpistas!

Em Belo Horizonte, o candidato do PT, Reginaldo Lopes, não foi ao segundo turno das eleições municipais, que será disputado por dois candidatos golpistas de direita: João Leite (PSDB) e Alexandre Kalil (PHS). Diante da situação, a direção estadual de Minas Gerais da tendência petista Articulação de Esquerda aprovou resolução sobre seu posicionamento no segundo turno, que Página 13 divulga a seguir.
leite_khalil

 Nem João Leite, nem Kalil, fora golpistas!
Resolução da Direção Estadual da Articulação de Esquerda de Minas Gerais sobre o 2º turno das eleições 2016 em BH
O resultado das eleições de 2016 deve ser encarado como mais um produto da ofensiva conservadora no país. Depois de consumarem o golpe que afastou a presidenta Dilma, a direita tenta a todo custo acabar com o PT, e com isso toda a esquerda, usando o aparato jurídico-midiático e a força do poder econômico.
Em BH, travamos o bom combate com a candidatura do companheiro Reginaldo Lopes e da companheira Jô Moraes. Apresentamos um projeto democrático-popular, a exemplo do que foram os dezesseis anos de governo petista na cidade, e denunciamos o golpe em curso no Brasil. Não tivemos êxito eleitoral, mas saímos do primeiro turno com a cabeça erguida pela coerência e a certeza de estarmos do lado certo da história.
No segundo turno, irão se enfrentar João Leite do PSDB e Alexandre Kalil do PHS. João Leite representa nitidamente o projeto neoliberal que governou Minas por 12 anos e esteve ao lado de Márcio Lacerda nos últimos 8 anos de desgoverno na prefeitura. Kalil, com seu discurso fascista de negação da política, sempre esteve ao lado do que há de mais retrógado na política do estado, se aliando aos tucanos e a Márcio Lacerda. Em comum, ambos são golpistas e estão do mesmo lado na luta de classes, que não é o nosso.
As esquerdas de Belo Horizonte, os movimentos populares, culturais e sindicais que resistem bravamente ao governo anti-popular de Márcio Lacerda e seguem resistindo ao golpe contra a democracia brasileira não têm outra alternativa daqui pra frente que não seja continuar fazendo oposição na Câmara Municipal – a começar pelos companheiros petistas Arnaldo Godoy e Pedro Patrus – e também na luta cotidiana.
A conjuntura que enfrentamos a duras penas hoje encontra parte da explicação na ofensiva conservadora, mas se quisermos alterar a correlação de forças daqui pra frente a nosso favor devemos começar por reconhecer nossos erros. A estratégia que nos levou por inúmeras vezes a preferir os maus acordos à boa luta está falida, prova disso é o próprio golpe em curso no Brasil ou mesmo o resultado da aliança que elegeu Márcio Lacerda em 2008. A história não vai perdoar os golpistas como também não perdoará os moderados da esquerda que insistirem na política de conciliação de classes.
As urnas do dia 30 de outubro não comportam nossos sonhos de reconstruir em BH um governo democrático e popular. Por isso, afirmamos em alto e bom som: nem João Leite nem Kalil, fora golpistas!

Belo Horizonte, 04 de setembro de 2016

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Estrella: o pré-sal é nosso



Líder da equipe que chegou às reservas do pre-sal, alvo de um projeto de abertura ao capital estrangeiro em discussão no Congresso, o geólogo Guilherme Estrella afirma que o fator político foi decisivo para uma descoberta com impacto relevante para o país e as novas gerações." Lula rompeu com as políticas neoliberais que estavam em vigor e reconstruiu o lugar Petrobras em nosso desenvolvimento. A partir daí, estávamos a um passo do pré-sal," diz ele, na primeira parte de uma entrevista exclusiva ao 247. Estrella também acusa o governo Fernando Henrique de "reduzir em 40% a presença da Petrobras na procura de novos campos de petróleo, limitando as pesquisas da empresa e favorecendo a entrada das multinacionais."

BRASIL 247 – Como explicar a descoberta de pré-sal brasileiro?

GUILHERME ESTRELLA – Há fatores econômicos, pois envolve investimentos pesados. Também é preciso ter um bom conhecimento da área a ser explorada, com uma pesquisa geológica de qualidade. Mas o fator político foi decisivo.

247 - Por que?

GUILHERME ESTRELLA – No período que transcorreu entre a reforma neoliberal da Constituição de 1988, com a consequente quebra do monopólio e a instalação do regime de concessão internacional, havia uma política não escrita mas praticada pelos governos do PSDB. Consistia em reduzir em 40% a presença da Petrobras nos trabalhos de  engenharia e pesquisa. A razão disso era clara: pretendia-se estimular empresas estrangeiras a investir no Brasil. Estou convencido de que não era um comportamento casual, fruto de uma decisão de momento, mas uma decisão de caráter estratégico.

247 – E como se fazia isso?

GUILHERME ESTRELLA – Essa decisão impunha duas condicionantes a Petrobras. A primeira, era diminuir a participação da empresa nas licitações de blocos exploratórios promovidas pela Agencia Nacional do Petróleo, ANP. Disputando menos blocos, a empresa tinha áreas menores para pesquisar e explorar. A segunda consequência é que, na prática, essa situação obrigava a Petrobras a atuar apenas na bacia de Campos, então responsável por 80% da produção brasileira. Eram condicionantes gravíssimas para a empresa e para o Brasil.

247 – E por que?

GUILHERME ESTRELLA – Vamos lembrar o que acontecia em 2002, último ano do governo Fernando Henrique Cardoso. Naquele momento, os blocos exploratórios da Petrobras eram suficientes para companhia manter sua atividade apenas até 2008. Pensando aonde estaríamos, se essa visão fosse mantida sem mudanças, é difícil imaginar o destino da companhia. Com certeza, seria uma empresa menor e mais fragilidade. Só para dar uma ideia. Em 2002,  investimentos em pesquisa ficavam em US$ 110 milhões. Hoje, se encontram em US$ 1,1 bilhão. O lucro líquido foi de R$ 8,1 bilhões em 2002.  Em 2013, passava de US$ 23 bilhões. Nós tínhamos 11 bilhões  de barris em reservas. Hoje, são 16,5 bilhões. Se aquelas condicionantes fossem atendidas, e era natural que tivesse sido assim, vários blocos já sob domínio da Petrobras já teriam sido a ANP em agosto de 2003.

247 – Qual era o outro efeito grave dessas condicionantes?

GUILHERME ESTRELLA – Um fato elementar do setor de E & P da nossa indústria , os campos de petróleo e ou gás natural perdem produção de modo acentuado após cinco anos. Em média, a perda pode chegar a 10% ao ano. Podemos imaginar o que isso iria significar para a Petrobras: uma situação, absolutamente fora de controle, da perda de sustentabilidade nos dez anos seguintes. Era um quadro de risco que estava começando em 2002.

247 – O que aconteceu então?

GUILHERME ESTRELLA – Logo depois da posse, o presidente Lula rompeu com a política neoliberal que estava em vigor, e que gerava uma relação perigosa de dependência externa. Numa decisão impecável, do ponto de estratégico, que foi ficando clara em inúmeros pronunciamentos, ele mudou a mensagem que vinha do governo. Mais uma vez de forma não escrita, dizia que a Petrobras iria reassumir  sua posição de principal condutora do setor petrolífero, voltando a participar de forma concreta na retomada do desenvolvimento industrial brasileira.

247 – Sabemos que essa postura foi muito bem recebida dentro da empresa. Por que?

GUILHERME ESTRELA – Não poderia ser de outra forma. Estávamos falando em investir fortemente nos blocos que, na situação anterior, deveriam ser devolvidos a ANP já em agosto. Foi assim que descobrimos os Santos os campos de Uruguá e Tambaú, de petróleo. Também encontramos o campo de gás de Mexilhão.

247 – Não era Mexilhinho?

GUILHERME ESTRELA – Nunca foi. Esse termo  depreciativo em relação a Petrobras e seus funcionários, foi uma fruto de uma crítica precipitada, de quem estava impaciente para condenar a nova orientação de qualquer maneira. Na verdade, era uma avaliação em cima  primeiros resultados da exploração, quando se colhe uma amostra parcial, incerta, que deve ser confirmada ou desmentida mais adiante. Estava totalmente errada. Com o tempo, revelou-se que Mexilhão  era, simplesmente, maior campo de gás natural já descoberto em território brasileiro.

247 – O efeito da nova postura do governo Lula foi imediato, então?

GUILHERME ESTRELLA – Sim. Com essas três descobertas foi possível confirmar a existência de um  "sistema petrolífero" na bacia de Santos. Até então, ela ficara relegada ao segundo plano nas prioridades exploratórias da Petrobras. Isso porque, sem investimentos em novas pesquisas, parecia conter,   numa área de extensão gigantesca, um único e pequeno campo de gás natural, descoberto pela Shell, ainda no período dos contratos de risco da década de 1970. Na bacia do Espírito Santo foi descoberto o Campo de Golfinho, de óleo leve (de menor custo de refino) e muito gás. Foram abertas, assim, perspectivas exploratórias muito interessantes naquela bacia sedimentar, logo acima de Campos. Até então, ela era considerada não atrativa para as atividades da empresa. Tanto assim que a decisão de fechar a unidade de E&P, em Vitória, já estava tomada.

247 – Qual a importância dessa nova postura para a descoberta do pré-sal?

GUILHERME ESTRELLA – A partir desse momento, estávamos a um passo do pré-sal. Não vamos nos enganar. A base de qualquer avanço de envergadura   consiste em aproveitar oportunidades exploratórias criadas pela competência técnica e geocientífica de uma companhia. Por essa razão é correto dizer que tudo o que veio depois significou o coroamento das decisões estratégicas de 2003. Seguindo nesta direção, na licitação da ANP daquele ano a Petrobras foi bastante agressiva. Arrematou inúmeros blocos, dentro e fora da bacia de Campos, persistindo na tendência que permitiu recompor a forte posição exploratória da companhia a longo prazo.  

247 – Como as concorrentes estrangeiras reagiram a essa postura?

GUILHERME ESTRELLA – Um fato importante da licitação de 2003, que marcou uma virada estratégica, é que a área  corporativa da Petrobras havia costurado alianças  de participação com empresas estatais e também privadas estrangeiras. Mas, num ato conjunto, totalmente inesperado, elas simplesmente nos comunicaram, às vésperas da licitação, que não estavam mais interessadas nas alianças anteriores.

247 – O que isso queria dizer?

GUILHERME ESTRELLA – Em meu entendimento, foi uma clara reação contra o governo Lula. Elas demonstraram que as decisões já tomadas não atendiam seus interesses.  Diante disso, a reação da Petrobras foi a de aumentar a agressividade na licitação. Isso permitiu a recomposição de nossa carteira exploratória, agora 100% Petrobras, para os anos vindouros.

(Amanhã, na segunda parte da entrevista, Guilherme Estrella discute por que a Shell interrompeu perfurações no meio do caminho,  na área onde mais tarde a Petrobras encontrou o pré-sal. Também explica porque a pesquisa e exploração de petróleo "não são coisa para banqueiros").

terça-feira, 12 de julho de 2016

Xadrez da crise da imprensa e do jornalismo



Nos últimos anos, a convergência digital aproximou grupos jornalísticos, mídia, telecomunicações e Internet. A Amazon se tornou um grande datacenter e um grande especialista em vendas virtuais e acabou engolindo o Washington Post; antes, Rupert Murdock avançou sobre redes sociais e canais de televisão; empresas de telefonia montaram portais, fabricantes de televisores passaram a explorar o acesso dos aparelhos à Internet. No Brasil, da Folha nasceu a UOL que se tornou um grande provedor de serviços e um shopping digital.

Depois da fase inicial de multiplicação de iniciativas na Internet e nas telecomunicações, ingressou-se em um processo crescente de concentração global. E as novas tecnologias, revolucionando as formas de produção, criaram o espaço para o surgimento das megacorporações globais.

Tudo isto se refletiu no Brasil, através dos seguintes eventos:

Peça 1 - A desnacionalização do setor

A cadeia produtiva da mídia é composta por anunciantes, agências de publicidade, assessorias de comunicação e os veículos.

Nos últimos anos observaram-se os seguintes fenômenos:

1.Desnacionalização de empresas anunciantes.

O curto período de boom da economia brasileira trouxe para cá mais empresas estrangeiras e, no seu rastro, conglomerados de agências de publicidade e de relações públicas adquirindo as empresas brasileiras do setor.

Não se tratou apenas da desnacionalização dos diversos setores, mas da transferência dos sistemas de decisão para o exterior. Mesmo nas teles privatizadas, houve um período tocado por executivos brasileiros, muitos egressos do antigo sistema Telebrás, com redes de relações e foco no país. Esse quadro mudou. Hoje em dia há uma troca constante de executivos que têm como foco apenas a matriz.

Teve impacto grande no setor. Além da afinidade de negócios, essas empresas tinham papel central no mercado publicitário, como grandes anunciantes.

2.     Desnacionalização das agências de publicidade e de relações públicas.

Nos anos 90 era comum grandes publicitários em conselhos de empresas jornalísticas. Havia pactos tácitos, com a mídia glamourizando publicitários ou clientes e estes garantindo as verbas dos clientes nos veículos. Agora, os contatos se tornam cada vez mais impessoais.

3.O fim da era do papel.

Os últimos dados do IVC (Instituto Verificador de Circulação) são elucidativos da agonia dos grupos de mídia. A cada dia que passa minguam as edições impressas, sem serem compensadas pelas edições nacionais. As impressas ainda têm um modelo de faturamento tradicional, residual, e custos elevados; as digitais não conseguiram desenvolver seu modelo de negócios.

A rigor, o único grupo brasileiro de fôlego que se mantém são as Organizações Globo.

Peça 2 - A crise da imprensa

A decadência dos modelos de negócios tradicionais foi acelerada pela entrada do Google no mercado brasileiro, O Google já se tornou o segundo veículo em faturamento publicitário no Brasil e aprendeu rapidamente a se valer dos BVs (Bônus de Veiculação) dos grandes grupos. Nos últimos tempos, têm ocorrido o crescimento vertiginoso do Facebook, com um modelo ainda mais consistente que o do Google, pela interação direta com o usuário, através do preenchimento de dados de seu perfil e do acesso direto às suas opiniões.

Ao longo de décadas a publicidade consolidou-se em torno de duas estratégias centrais: a publicidade nacional, para bens de consumo de massa; a publicidade segmentada.

A publicidade de massa buscava as redes de televisão. A segmentada disponibilizava um naco importante para jornais e revistas, que ofereciam um público relativamente homogêneo e qualificado nos hábitos de consumo de produtos e de ideias.

Com a proliferação da Internet e das redes sociais, grandes grupos, como Google e Facebook, conseguiram montar modelos muito mais focados, com segmentação garantida por bancos de dados amplos e bem trabalhados.

Peça 3 – a crise do jornalismo
Em tese, jornalismo é serviço público. Desde que se formaram as sociedades democráticas, deveria ter papel essencial na organização das informações, na organização do mercado de ideias, inclusive captando tendências e mudanças, na fiscalização do Estado etc.

A crise do negócio da imprensa atingiu em cheio o jornalismo. E aqui se trata de separar a imprensa (os grupos jornalísticos) do jornalismo, duas atividades distintas que, vez por outra, se complementam.

Há um conflito histórico entre os objetivos públicos do jornalismo e os interesses comerciais dos grupos de imprensa. No caso do Brasil, nas últimas décadas houve um desvirtuamento amplo do papel do jornalismo, subordinando-o inteiramente aos interesses dos grupos de mídia, atingidos em cheio pelas novas mídias.

A busca de alternativas comerciais tem promovido um completo desvirtuamento do jornalismo.

·      A instrumentalização política, na qual os jornais abriram mão das ideias e da isenção.

·      Nas TVs fechadas, o loteamento de espaço para o desenvolvimento sustentável dos tempos evangélicos.

·      Nos últimos tempos, publieditoriais (publicidade disfarçada de matéria) cada vez menos identificados como tal. Alguns canais de TV por assinatura têm produzido programas supostamente jornalísticos de divulgação de produtos ou empresas.

Peça 4:  os novos tempos digitais
Há dois tipos de mídia: as mídias nacionais que falam diretamente aos centros de poder; e a mídia sensacionalista, que se destina ao chamado leitor comum. Nos anos 20, H.L.Mencken, o grande cronista dos insultos, dizia que preferia a imprensa marrom sensacionalista, por ser menos hipócrita que a supostamente séria.

No recente plebiscito inglês sobre a saída da União Europeia, os tabloides conseguiram um peso maior do que os jornais dito sérios sobre a opinião pública inglesa.

É mais um sinal da completa desarticulação do mercado de ideias. Além da crise dos partidos políticos, não se tem mais a chamada mídia de opinião como articuladora. A pulverização das opiniões, nas redes sociais, vitimou partidos políticos e mídia.

No caso brasileiro, não se pode dizer que a perda de protagonismo da grande imprensa seja negativa. Mesmo nos anos de ouro, na década de 90, a imprensa pouco disseminou as grandes discussões nacionais, os temas centrais da nacionalidade, da competitividade. Hoje, menos ainda.

No entanto, para que se tenha esperança de, em um ponto qualquer do futuro, haver o renascimento de um projeto de nação, de alguma maneira haverá a necessidade de se buscar canais capazes de aglutinar as alianças em torno dos macrotemas.

Fonte: JORNAL GGN

quinta-feira, 7 de julho de 2016

A notícia do dia não é a renúncia de Cunha!

Neste 07 de julho de 2016, a notícia do dia não é a renúncia de Eduardo Cunha!

A notícia do dia é aquela que pode alterar duramente os investimentos em saúde e educação através dos ganhos do pré-sal brasileiro!

AVANÇA NA CÂMARA PROJETO DE ABERTURA DO PRÉ-SAL


Avançou na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira 7 o projeto de abertura do pré-sal, de autoria do senador José Serra. Sob forte resistência de parlamentares da oposição, o texto-base do Projeto de Lei 4.567/16, que retira a obrigatoriedade da Petrobras de participar da extração de petróleo da camada pré-sal, foi aprovado.

A proposta é alvo de duras críticas e de protestos por parte de parlamentares da oposição e dos petroleiros, que chamam o tucano de “entreguista” por abrir o pré-sal a empresas estrangeiras. A pauta foi defendida também pelo novo presidente da Petrobras, nomeado pelo governo interino, Pedro Parente, em seu primeiro discurso na estatal.

Em vídeo feito na comissão minutos antes do fim da votação, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) chamou a votação de “o primeiro grande ato de entrega do pré-sal para exploração de empresas estrangeiras”, um “crime lesa-pátria contra os interesses do país” e “um passo para entregar” a Petrobras.

“Ao retirar da Petrobras o direito de ser a operadora única do pré-sal, nós vamos perder milhões de empregos, vamos perder muito dinheiro que estaria no fundo soberano e que seria investigado em saúde e educação, ou seja, o governo interino, temporário, ilegítimo e golpista de Michel Temer está aqui na comissão especial dando o primeiro passo para entregar esta que é um dos negócios mais lucrativos do mundo do petróleo”, disse o parlamentar.

O petista anunciou que os deputados da oposição continuarão “obstruindo para tentar impedir a votação no plenário da Câmara”. Assista e leia mais na reportagem da Agência Brasil:



Comissão aprova projeto que altera regras para exploração e produção no pré-sal

Carolina Gonçalves – Sob forte resistência de parlamentares da oposição, foi aprovado hoje (7) o Projeto de Lei 4.567/16 que retira a obrigatoriedade da Petrobras participar da extração de petróleo da camada pré-sal. O placar ficou em 22 votos favoráveis e 5 contrários.

Com o resultado na comissão especial que analisa o assunto desde março, a proposta segue para o plenário da Câmara. O colegiado ainda analisa destaques apresentados ao projeto.

O parecer do deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) altera as regras atuais que determinam que a estatal brasileira é a única operadora da exploração nesta camada, garantindo exclusividade sobre decisões como a definição de critérios para avaliação de poços, equipamentos de produção e compras.

A proposta, que foi costurada ainda no Senado pelo atual ministro das Relações Exteriores, José Serra, também restringe a obrigação de a Petrobras participar, com no mínimo de 30% dos investimentos, de consórcios para exploração do pré-sal apenas para áreas estratégicas.

Oposição

"Pelo bem do Brasil, por um futuro de investimentos fortes, para manter o papel estratégico que tem a Petrobras no desenvolvimento de um setor industrial fundamental, temos que fazer o oposto do que está propondo a base golpista de Temer", protestou Henrique Fontana (PT-RS).

Segundo o petista, o interesse das empresas na operação do pré-sal reflete a lucratividade da camada. "Temos aqui, como Parlamento, o dever de manter esta exploração nas mãos da Petrobras. Agora que o filet mignon está na mesa para ser servido, vossas excelências querem retirar esta lucratividade da mão da Petrobras", completou.

Glauber Rocha (PSOL-RJ) engrossou o coro contrário ao parecer, ao alertar que a produção passará a ser computada "por interesses privados", caso a matéria avance.

Base aliada

Por outro lado, tucanos e peemedebistas defenderam a iniciativa. Para o grupo favorável ao texto, a mudança das regras do atual sistema de partilha vai ampliar os investimentos no setor.

Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA) afirmou que a Petrobras não será retirada do jogo. "Estamos dando oportunidade", afirmou ao destacar que a estatal precisa "recuperar sua imagem".

Segundo ele, a Petrobras continuará sendo "a grande empresa" neste setor mas não tem condições, neste momento, de manter as atuais competências. "É fundamental para os estados, como o meu, ter investimentos", completou.

Confira aqui a íntegra do parecer.

Em junho, o chanceler interino, senador José Serra (PSDB-SP), autor do projeto, foi à comissão defender a proposta. Leia mais na reportagem da Agência Câmara na ocasião:

José Serra defende projeto que desobriga Petrobras de participar de leilões do pré-sal

A Comissão Especial da Petrobras e da Exploração do Pré-Sal ouviu em audiência pública nesta terça-feira (7) o ministro das Relações Exteriores, José Serra, autor de projeto em análise na comissão. A proposta (PL 4567/16), apresentada por Serra durante o exercício do mandato de senador, desobriga a Petrobras de participar dos leilões para a exploração do petróleo do pré-sal.

Serra explicou que, atualmente, a empresa não tem condições de arcar com a exploração em todos os campos do pré-sal. Para o ministro, a desobrigação não significa que a Petrobras será afastada dos processos de licitação, apenas permite que a empresa escolha os campos de seu interesse.

"Se a Petrobras tiver condições e disser: 'eu quero', o Conselho Nacional de Política Energética aloca para a Petrobras. Eu me sinto plenamente confortável com o projeto. É do interesse nacional eu não vejo que isso deve ser alterado pelo fato de que a Petrobras cresceu mais ou cresceu menos", disse Serra.

O ministro citou fatores que indicam a situação ruim da empresa. "Foram cinco refinarias mal feitas, ou mau investimento; e congelamento ou atraso dos preços dos derivados de petróleo. Esse é um número objetivo, provocou na Petrobras uma perda de R$ 140 bilhões", declarou.

Deputado diverge

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) rebateu as afirmações de José Serra. Para o deputado, a empresa está sofrendo com a flutuação do mercado mundial de petróleo e tem condições de continuar explorando o petróleo no Brasil. "A Petrobras tem condição de ter o controle das áreas do pré-sal e isso é uma coisa boa para o povo brasileiro, nós vamos lutar para preservar", afirmou.

Zarattini também rejeitou a afirmação de que a Petrobras está quebrada. "Ora, uma empresa que tem R$ 100 bilhões no caixa, que daqui a dois anos vai ter aumentado sua produção em 1 milhão de barris por dia, chegando quase a 3 milhões de barris, é uma empresa quebrada? Isso é um verdadeira absurdo", declarou.

Retomada da indústria

O relator da comissão, deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), afirmou que é favorável ao projeto porque ele representa a retomada do crescimento dos empregos ligados ao petróleo nesta época de crise.

"A indústria de petróleo no mundo teve, em média, em razão da queda do preço do petróleo e da queda dos preços do combustível no mundo todo, uma redução da ordem de 20% dos investimentos de exploração. No Brasil, essa redução é da ordem de 60%, estão desaparecendo os investimentos", disse Aleluia.

Fonte: BRASIL247

terça-feira, 5 de julho de 2016

O parafuso de R$ 10 mil e o navio que parou a 100 m de explodir no Rio

POR FERNANDO BRITO · 04/07/2016



Conta uma antiga história que, diante da pane do “mainframe” , o computador central de uma grande empresa, o técnico chamado olhou, olhou, olhou durante cinco minutos para a máquina, pegou uma pequena chave de fenda, tirou e recolocou uma placa.

E a máquina voltou a operar perfeitamente.

Em seguida, o técnico foi ao setor competente e emitiu uma nota de R$ 10 mil.

O burocrata estrilou: você olhou por cinco minutos, tirou e botou um parafuso e vai cobrar R$ 10 mil!?! Que absurdo!

O técnico recolheu a nota , rasgou e fez duas outras.

A primeira: desaperto de parafuso, recolocação de placa e reaperto de parafuso. R$ 5,00.

O burocrata deu um sorriso.

Mas veio a segunda nota: Saber qual parafuso, de qual placa, desapertar e reapertar. Preço: R$ 9,995.

Lembrei desta história ao ler hoje que o prático Diogo Weberszpil evitou, na quinta-feira passada, o que poderia ter sido o maior desastre ambiental da Baía da Guanabara.

Depois de embarcar para comandar a entrada no porto do Rio e a atracação do navio tanqueiro de gás Golar Spirit no Terminal de Gás da Petrobras, o leme do navio, de fabricação antiga, travou em rota de colisão com a Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói.

Weberszpil, que tem preparo e treinamento para agir em emergências soube o que fazer, atirando âncoras para reduzir a velocidade e corrigir o rumo do navio.

Que parou a 100 metros das muralhas da Fortaleza.

Neymar pode ganhar uma fortuna. Wesley Safadão pode cobrar os tubos por um show de gosto, vá lá, discutível.

Certo que os práticos precisam de regulamentação profissional. Mas vivem sendo apontados como “marajás” dos portos, com a responsabilidade de conduzirem navios de 100, 200, 300 ou até 400 mil toneladas de carga.

Mas é um trabalhador, e trabalhador não pode ganhar muito.

Pode haver distorções? Lógico, há muitas. Devem ser corrigidas. Mas não há categorias que mais sofram (e resistam) que os marítimos e os portuários com  este ataque permanente.

Conheço vários. Nenhum mora na Vieira Souto.

Fonte: TIJOLAÇO

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Janio de Freitas, sobre o encontro sorrateiro do protetor e protegido: E viva a nova (i)moralidade!

Ponto de encontro



por Janio de Freitas, na Folha de S. Paulo

Michel Temer e seu governo agem para salvar Eduardo Cunha na Câmara. Talvez não fosse preciso dizer mais nada sobre a atitude de Temer. Afinal, apesar de todo o esforço da Lava Jato e dos pró-impeachment para incriminar petistas, na opinião nacional ninguém simboliza mais a calamidade política do que Eduardo Cunha. Está dito quase tudo sobre protetor e protegido. Mas Temer leva a algumas observações adicionais.

Descoberto por jornalistas o encontro sorrateiro de Cunha e Temer na noite de domingo (26), o primeiro fez o que mais faz: negou. Não falava com Temer desde a semana anterior. Com a mentira, comprovou que a combinação era de encontro oculto. O segundo deu esta explicação: “Converso com todo mundo. Embora afastado, ele é um deputado no exercício do seu mandato”.

A frase é uma medida da lucidez de Temer ou da honestidade de sua resposta ao flagrante: “afastado” mas “no exercício do mandato”. Nada de muito novo. Mas a pretensa justificativa de que “conversa com todo mundo” excede o aspecto pessoal. Se é isso mesmo, em quase seis anos de convívio com o Poder ainda não o compreendeu. À parte a liturgia do cargo, de que Sarney tanto falou, o Poder requer cuidados com sua respeitabilidade. Ao menos no sentido, tão do agrado de jornalistas brasileiros, cobrado às aparências da mulher de César.

O sítio de alto luxo não combina, mas não tira o título do Palácio do Jaburu, nem, muito menos, a sua condição de uma das sedes do mais alto poder governamental. O recepcionado aí para a barganha de espertezas não é, porém, como “todo mundo”. É um múltiplo réu no Supremo Tribunal Federal, tão excluído do exercício de mandato que está proibido até de simplesmente entrar na Câmara dos Deputados, Casa aberta a todos. Proibição, ao que consta, sem precedente. Não no conceito, de moralidade ao menos duvidosa, que o atual morador aplica ao uso do palácio de governo.

Eduardo Cunha viu-se necessitado de reforço em duas instâncias. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, à qual encaminhou recurso contra a decisão do Conselho de Ética, que o considerou passível de perda do mandato. E também na substituição de Waldir Maranhão, em exercício na presidência da Casa, por alguém de sua confiança, para assegurar-lhe decisões favoráveis nas manobras de defesa ao ser julgado em plenário.

Já na segunda-feira (27), Temer fazia iniciar a ação do seu pessoal em favor da eleição de Rogério Rosso para presidir a Câmara. É o preferido por Eduardo Cunha. E viva a nova (i)moralidade.

POR DENTRO DO FORA

A ordem de Michel Temer para suspender a cobertura oficial de sua presença fora de Brasília não é, como alegado, para reduzir gastos. É nenhum o custo de um fotógrafo ou cameraman já integrante da comunicação oficial. O problema está na impossibilidade de eliminar, nas gravações, o frequente “Fora, Temer”, dito ou escrito. Sem encontrar outra solução, foi considerado preferível eliminar os registros.

Apesar de imprensa e TV não o noticiarem, coros de “Fora, Temer” estão pelo país todo. No espetáculo do Prêmio da Música Brasileira, por exemplo, o Teatro Municipal do Rio explodiu em repentino “Fora, Temer”. Coisas assim acontecem todos os dias, numerosas.

ACHADO PERDIDO

Por falar no mal ou não noticiado, a Lava Jato encontrou nas ligações de celulares de Léo Pinheiro, presidente da OAS, troca de mensagens com Fernando Bittar tratando das obras no sítio de Atibaia, como proprietário associado a Jonas Suassuna Filho. Não foi um bom achado para a tese da Lava Jato e da imprensa/TV sobre a propriedade.

Fonte: VIOMUNDO

quarta-feira, 29 de junho de 2016

70 anos de Alceu Valença

Nestes tempos de confusão, uma pausa para  curtir a cultura brasileira . . .




Alceu Valença: a força da cabeleira

Às vésperas dos 70 anos, ele reafirma a pujança da música que canta a própria terra



A prosa caudalosa e eloquente de Alceu Valença

No Agreste prateado pela Lua, cama a ranger enquanto o galo anuncia o sol cristalino e abrasador, de cantoria sem precisão de motivo e de aboio dolente a conduzir a manada, Alceu Valença cresceu com os pés fincados nas raízes pernambucanas e a alma inundada de poesia. Quando perdeu para um garoto que interpretou Granada um concurso no qual defendeu uma música nordestina, a vontade de cantar a terra se adensou. Aprendeu os cantos, conheceu os emboladores e os cegos de feira, viu tocar o berimbau de bacia, sorveu com sofreguidão cada verso encantado dos cordelistas. 

Dos avôs veio parte da formação a combinar dois mundos. Na fazenda de produção leiteira em São Bento do Una, as histórias da saga dos cangaceiros, o piar das codornizes, o tropel dos cavalos. Nos saraus na casa do tio, o vocal afinado dos primos, os versos de improviso e a vitrola a revelar Noel Rosa, Ary Barroso e Orlando Silva.

A Rádio Nacional trazia para perto Cauby Peixoto e Vicente Celestino. “Um tio tocava sanfona, outro violino, piano, bandolim. O avô Orestes, violão, bombardino, viola e fazia cordel. Tudo de brincadeira, ninguém era profissional. Tio Geraldo era poeta da geração de Carlos Penna Filho e Ariano Suassuna. Mamãe sabia francês e papai, Décio, foi promotor e deputado. Exerceu só um mandato por não gostar de fechar questões, como eu”, conta Valença, a prosa caudalosa e eloquente a revisitar com brandura e energia os escaninhos da memória. 

A mítica São Bento do Una compensava a diminuta população com diversidade cultural. As 5 mil almas da região contavam com dois grupos teatrais, dois cinemas e uma banda musical. Na comunidade de portas abertas, pobres quase não havia, idílio tragado pelo galope cruel da modernidade. 
Quando Valença tem 10 anos, a família se muda para o Recife. O temor de ver o filho adolescente sem curso universitário se perder na boemia leva o patriarca a mantê-lo longe de toda referência musical. Sem radiola na casa, o jeito era se contentar com o rádio. A vizinhança intelectualizada foi providencial. “O poeta Carlos Penna Filho morava na frente de casa e fazia muitas festas. Do outro lado tinha Maria Parísio, cantora de clássicos e irmã da vedete Salomé Parísio. Do lado direito vivia o maestro Nelson Ferreira, compositor e dono de gravadora.” A rua era passagem obrigatória dos blocos rumo ao centro. Maracatu do baque virado, caboclinhos, frevo. “Isso tudo entrou na minha cabeça.” 
A vontade doida de tocar e cantar do filho amoleceu o coração materno. Aos 16 anos, Valença deixa a contragosto uma partida de futebol para acompanhar a mãe às compras. Na frente da loja de instrumentos ouve a frase ansiada: “Escolhe”. Opta por um cavaquinho, mais barato. “Você merece um violão.” 
Aprende sozinho a dedilhar e enfrenta a invasão musical estrangeira com galhardia. “Todos os meninos da minha rua só tocavam Diana (sucesso de Paul Anka). Por preferir coisas da minha terra eu era chamado de velho.” A primeira letra, feita para um chorinho trazido pelo tio, sai de chofre. “Revejo o terraço de minha casa”, diz ao relembrar o momento no qual compõe os versos como se psicografasse. Eram os primeiros passos da carreira iniciada oficialmente nos anos 1970, após colocar de lado o diploma de advogado. 
O tio Lívio, médico letrado, apresenta-o às obras de Fernando Pessoa, “fiquei louco comTabacaria”, e de Rubem Braga. “Eu lia tudo do Braga, sabia tudo dele. Quando fiz Na Primeira Manhã incluí uma referência à crônica O Conde e o Passarinho. Certa vez encontrei o sobrinho dele, que me contou ter ficado o tio comovido e manifestado a vontade de me receber em casa para um jantar. Precisei viajar e telefonei na volta para agradecer, sensibilizado, o convite. Ele friamente monossilábico e eu puxando assunto. ‘Conheço toda sua obra’, insisti, ele nada. ‘Conheço suas crônicas de guerra’. ‘É?’, reagiu. ‘Olhe, sou da família Valença de Pernambuco e lembro de uma coisa que o senhor falou de um soldado parente meu. O senhor se lembra dele?’ ‘Não.’ ‘Não se lembra da crônica?’ ‘Não, faz muito tempo. São muitos traumas.’” 
Se o cronista tinha fraca a memória, por deficiência ou maus bofes, o músico faz dela poderoso emissário rumo a tempos idos. Revê o coroinha que gira no ar o turíbulo, a vaia recebida ao perder um concurso de perguntas sobre a invasão holandesa, a ida aos clubes de dança populares, a festa em que alguém colocou um ácido lisérgico em sua bebida e ele se apavorou quando o chão se abriu num desfiladeiro. Ao lado, o amigo Geraldo Azevedo ria de gosto. “Sou louco, mas sempre fui careta para drogas.” 
Volta aos 16 anos e relembra o adolescente tímido no terreno da conquista amorosa que conhece a redenção quando passam a achá-lo parecido com Jean-Paul Belmondo. “Ia para o cinema e após a sessão ficava no hall, encostado numa coluna, olhar oblíquo, fumando. As garotas olhavam e me achavam a cara do galã francês. Namorei muito.” A semelhança o favoreceu na adolescência e o tempo carrasco trabalhou a seu favor na maturidade. “Agora Belmondo é muito mais feio do que eu. Meu nariz nunca foi quebrado como o dele.”
No fim dos anos 70, os ventos asfixiantes da ditadura e dificuldades com a gravadora conduziram o compositor ao autoexílio. “Quem me levou para Paris foi Paulo Coelho. Ele tinha visto o show Disco Vivo, no Rio de Janeiro, e adorou. A Som Livre adiava o lançamento de Espelho Cristalino, eu queria sair e o João Araújo me enrolava.” Com proposta do mago de integrar o elenco da Polygram, decide pedir rescisão do contrato.  
O dia era aziago. Assim que deixa a sala da direção, Jards Macalé arremessa um copo de café na parede. Valença engata a conversa com o diretor quando um esbravejante Tim Maia adentra a sala, mãos em punho, pronto para esmurrar o empresário acusado de ficar com a parte do leão no contrato. Após enfrentar o olhar fixo de Araújo, Maia cai no choro e sai. Finda a tempestade, a rescisão é concedida e Valença procura Coelho. “Ele chega e diz: ‘vou ao banheiro, me aguarde aqui’. Nunca mais voltou. Hoje acredito que o banheiro da Polygram tinha uma estrada que dava para o Caminho de Santiago.” 
Em Paris, mergulha nos textos de Gilberto Freyre e nas músicas de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Tinha ido danado pra Catende e tinha pressa de voltar para assumir um lugar de destaque no cenário musical nacional. Em 1982 vende em seis meses 1,5 milhão de cópias de Cavalo de Pau. “Nunca olhei para essas coisas de número, mas lembro que o sucesso era  absurdo.” Entre as músicas, Pelas Ruas Que AndeiRima com RimaComo Dois Animais e Morena Tropicana. A famosa dona da pele macia como carne de caju há décadas engana os incautos. “A Morena Tropicana era uma loira que eu namorava.”
O talento de Valença leva-o a outras artes. Às vésperas de completar 70 anos, em 1º de julho, lança projeto cinematográfico acalentado há mais de uma década. O longa A Luneta do Tempo (estreia dia 30 no CineSesc), em torno de Lampião (Irandhir Santos) e Maria Bonita (Hermila Guedes), é um assumido mergulho no passado do diretor.
De delicado lirismo é a trilha sonora da saga escrita em verso. Amigo da Arte, o mais recente CD, chega com 13 faixas, algumas a exortar as diletas Recife e Olinda. O poeta que Valença sempre foi, antes mesmo de eletrificar o Sertão, mostra-se em livro prefaciado por José Eduardo Agualusa. Para o escritor angolano, O Poeta da Madrugada(Chiado Editora), título soprado pela musa Yanê Montenegro, é matéria luminosa e revigorante. 
O versejador que só acredita em vento que assanha a cabeleira lamenta a figura do “investidor dono do artista e da banda, situação que tira a possibilidade dos independentes de fazer arte com o coração”. O seu, encharcado de emoção, zabumba, bumba esquisito batendo dentro do peito. Três décadas após  compor Morena Tropicana, comove-se ao ver garotos da periferia de São Paulo cantar o sucesso durante shows nos Centros Educacionais Unificados. Coração bobo é assim mesmo.