quinta-feira, 22 de maio de 2014

Como usar o jornal para alimentar a “trollagem” da direita

Por Fernando Brito

Mencionei o tema no final do artigo abaixo, mas acho que merece destaque maior.
É a matéría de que a Polícia Federal investigou filho de Lula por enriquecimento ilícito, publicada em O Globo.
É apenas um exercício de sordidez do jornal para servir de combustível para as redes sociais, ampla – e comercialmente – dominadas pela direita espalhem o título.
Que houve uma investigação, a partir de boatos divulgados nos jornais, não é novidade.
Foi, aliás, objeto de um inquérito conduzido pela Procuradoria Geral da República -no próprio Governo Lula.
Que foi arquivado por falta de qualquer prova em agosto de 2012, e que deveria ter terminado ainda em 2010, na opinião do promotor do caso, que foi mantido aberto por decisão da cúpula da PGR.
A matéria de  O Globo não diz nada, senão que a polícia política da oposição, digo, a Polícia Federal, seguiu o filho do ex-presidente e anotou até mesmo o horário em que ele tomava banho.
O resultado de toda a arapongagem não foi além de saber que o filho de Lula visitou a Usina de Itaipu e que comeu carnes num restaurante.
Mas que ninguém pense que a reportagem foi feita para denunciar o abuso que isso significa.
Foi feita para produzir um título desonesto para ser reproduzido pela direita hidrófoba na internet.
Não escreveram Polícia Federal seguiu filho de Lula e não achou prova de enriquecimento ou, muito menos, PF espionou filho de Lula mas não viu enriquecimento ilícito.
Escreveram que ele foi investigado por enriquecimento ilícito e não havia isso.
Coisa de gente que transformou o jornalismo em uma atividade de propaganda política e, por si, de um caráter abjeto.

Fonte: TIJOLAÇO

quarta-feira, 21 de maio de 2014

MAIS DIÁLOGO, MENOS REPRESSÃO!

Brasília-DF, 20 de maio de 2014.
As entidades e lideranças signatárias deste manifesto vêm a público expressar a mais alta preocupação e contrariedade ao Projeto de Lei do Senado nº. 508/2013, de autoria do senador Armando Monteiro (PTB-PE) e relatoria do senador Pedro Taques (PDT-MT), determinando que os crimes de homicídio, lesão corporal e dano ao patrimônio cometido na esfera de mobilizações, concentrações de pessoas, ou qualquer encontro de multidões se tornem qualificadoras para aumento de penas. Também determina que o uso de máscara, capacetes e afins seja sempre uma causa de agravamento de pena. 
Com pretexto de combater os “excessos” praticados em mobilizações sociais, parlamentares de vários partidos arquitetaram uma ofensiva conservadora com o objetivo de emplacar medidas que reprimam ou dificultem protestos. Tentaram com a lei antiterrorismo, e agora depositam suas fichas nesta proposição legislativa.
O seu conteúdo está eivado de distorções, pois, além de aumentar de maneira injustificada as penas e ser totalmente desnecessário, tendo em vista que já existe legislação suficiente para coibir os excessos ocorridos em protestos, a proposta vai na contramão do que hoje é aplicado por juízes e tribunais, que consideram o contexto de multidão e forte emoção como atenuantes de pena.
Destaca-se ainda, que o substitutivo do relator, senador Pedro Taques, imputa penas ao dano de patrimônio, aumentada em quatro vezes do que hoje é praticado na versão qualificada e nada menos que 24 vezes a pena mínima da forma simples, se comparado a pena de lesão corporal. Ou seja, no seu conceito penal, o patrimônio está sendo mais valorizado que a vida.
Conscientes de que este projeto faz parte de mais uma tentativa conservadora, que caso aprovado, se tornará um instrumento a serviço daqueles que tratam manifestações com repressão e violência, os quais são avessos à pressão popular, ao povo organizado, conclamamos a todas as organizações sociais e partidárias democráticas a se mobilizarem, pressionarem e derrotarem mais esta ameaça à democracia, uma verdadeira tentativa de retrocesso social e político presente no Congresso Nacional.
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ASSINAM ESTE MANIFESTO:

Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA; Movimento de Mulheres Camponesas – MMC; Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST; Federação dos estudantes de Agronomia do Brasil-FEAB; Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas-IBASE; Rede Justiça nos Trilhos; Instituto de Estudos Sócioeconômicos-INESC; Conselho Indigenista Missionário-CIMI; Consulta Popular; Juventude do Partido dos Trabalhadores – JPT; Levante Popular da Juventude – DF; Movimento dos Atingidos por Barragens-MAB; Movimento Nacional pela Soberania Popular Frente à Mineração – MAM; Mídia Ninja; Associação de Mulheres Organizadas do Norte de Minas (ACMONM); Movimento Gerazeiros; Coletivo Antônia Flor – Piauí; Comissão Paroquial de Meio Ambiente - CPMA – Bahia; Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Pardo de Minas – MG; Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Porteirinha – MG; Juventude Atingida pela Mineração - MA/PA/TO; CETA – BA; Associação Vale Rio das Contas – BA; Movimento Negro Unificado Associação de Conservação Ambiental e Orgânica - ACAÓ – MG; ACEBEU – MG; Associação de Pequenos Produtores Rurais do Gangorra – MG; Rede Inter-Franciscana de Justiça, Paz e Ecologia – SINFRAJUPE; Grupo Urucongo – CE; Movimento Debate e Ação – PA; Universidade Federal do Maranhão – UFMA; Associação de Moradores da Ilha do Gravatá – BA; Associação Quilombola de Santa Rosa dos Pretos – MA; Associação Yanomami Hutukara – RR.

BHTRANS sem Move e sem rumo

A implantação do BRT em Beagá é fruto dos investimentos do governo federal com o PAC 2 e PAC da Copa do Mundo. A BHTRANS, enquanto as obras transcorriam, teve todo o tempo do mundo para fazer o planejamento para implantar o sistema. Mas, parece que o planejamento está sendo feito com o "bonde andando"; ora, deveriam já estar planfetando a população com bastante antecedência, antes do MOVE entrar em funcionamento e com todas as linhas que serão extintas já sendo informadas à população.
Linhas de ônibus voltando a circular disputando espaço com os carros nos corredores da Antonio Carlos e Cristiano Machado é sinal de falta de planejamento.

Infelizmente a BHTRANS está sem rumo!

Superlotação de ônibus faz BHTrans rever Move na Antônio Carlos

Danilo Emerich - Hoje em Dia


Wesley Rodrigues/Hoje em Dia


Pressionada pelas queixas dos passageiros sobre a superlotação das linhas do Move Antônio Carlos, a BHTrans resolveu redimensionar a oferta de viagens das linhas troncais. Desde a última terça-feira (20), há 20% mais partidas da Estação Pampulha. Mesmo assim, no segundo dia útil de operação do sistema, muita gente ficou espremida nos coletivos, o que fará com que novas adequações sejam implementadas durante a semana. 
O problema aconteceu mesmo fora do horário de pico. Às 9h25, a vendedora Tamires Moraes, de 27 anos, tentava, em vão, embarcar em um ônibus do Move. Dez minutos depois, conseguiu seguir viagem em um ônibus lotado. “Moro no bairro Copacabana e trabalho no shopping Ponteio. Antes, pegava dois ônibus. Agora, são três e tenho que sair uma hora mais cedo para trabalhar. Não aprovei a mudança”.
Como ela, outros usuários do sistema criticam as filas para comprar bilhetes, a baldeação obrigatória e a falta de organização para entrar no ônibus. “Não há controle e todos se espremem. O intervalo entre as partidas dos veículos deveria ser menor”, disse o funcionário público Leonardo Hissa, de 31 anos.
No corredor viário, circulam 50 veículos articulados, divididos em três linhas (50, 51 e 52), para atender a uma demanda estimada em 40 mil passageiros por dia. 
Natural
A empresa que gerencia o transporte e o trânsito na capital não apresentou um balanço da demanda reprimida do Move Antônio Carlos. Mas afirmou considerar “natural” que haja um período de adaptação. Sobre as filas para compra de bilhetes, informou que estão sendo monitoradas.
O que mudou
As mudanças feitas pela BHTrans atingiram as linhas troncais 50 e 51. O trajeto da 50 (Estação Pampulha/Centro-Direta) passou de 117 para 146 viagens/ dia. Já a 51 (Estação Pampulha/Hospitais – Paradora) passou de 88 para 109 viagens/dia. Não houve informação sobre reforços na linha 52 (Estação Pampulha/Lagoinha – Paradora).
Quando todo o sistema estiver implementado, 181 ônibus irão operar no corredor do Move Antônio Carlos.

Fonte: HOJE EM DIA

terça-feira, 20 de maio de 2014

Só reforma política pode tirar força da bancada ruralista, diz Gilberto Carvalho

Valter Campanato / Agência Brasil

Ministro da Secretaria Geral da Presidência afirma que poder econômico é proeminente no Congresso. E admite que reforma agrária ficou aquém do esperado no governo Dilma

por Mariana Melo

De Juazeiro (BA)*

Em Juazeiro (BA), o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência da República, deixou clara a dificuldade do governo federal em lidar com a chamada bancada ruralista, formada por parlamentares ligados ao agronegócio. Na segunda-feira 19, durante o III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), Carvalho recebeu demandas dos movimentos sociais do campo em relação às demarcações tardias ou inconclusivas de terras e ameaças do agronegócio às áreas que já contam com assentamentos. Quilombolas, indígenas e outras minorias entregaram carta a Carvalho, endereçada à presidenta Dilma Rousseff, mas o ministro admitiu a dificuldade de fazer andar no Congresso as demandas deste tipo.

Segundo Caravalho, somente com uma reforma política é possível combater as bancadas que agem de acordo com os interesses econômicos de determinados setores da economia. "Enquanto houver bancada no Congresso de interesse de latifundiários e industriais, e uma bancada de trabalhadores e movimentos populares tão resumida quanto nós temos, nós não vamos conseguir avançar", afirmou Carvalho. "Os princípios que estão nessa carta não representam, infelizmente, a opinião da maioria da população. (...) Sem realizarmos a reforma política, essa carta não será aceita. Não há correlação de forças para que as questões essenciais que estão dadas nesta carta possam se tornar realidade."

Para o ministro, a atual formação do Congresso não representa a maioria dos brasileiros. "Temos de mudar a estrutura política e eleitoral do Brasil, é preciso estabelecer mecanismos de participação social deliberativos", afirmou. Carvalho manifestou preocupação com o uso do poder econômico no regime democrático. "Nós temos de ter um Congresso Nacional que represente a maioria dos brasileiros e não apenas minoria com poder econômico e isso não se fará sem alteração da legislação eleitoral e o fim do financiamento empresarial de campanha, porque hoje se elege quem tem mais dinheiro, o que estabelece uma dependência do setor econômico."

Manifestações

Na manhã de segunda-feira, antes da fala de Carvalho no evento, cerca de 1200 pessoas ocuparam a ponte Presidente Dutra, entre Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), para protestar contra o tratamento dado aos pequenos produtores no Brasil. Sob gritos como "O agronegócio só é bom pro empresário" e "Agricultura é vida, agronegócio é morte", os manifestantes impediram por meia hora o fluxo de carros nas duas faixas da ponte.

Carvalho negou que esse tipo de manifestação assuste o governo. Segundo ele, as manifestações representam um processo adiantado de democracia. "Se tem uma coisa que não assusta o governo são as mobilizações. Acabou aquele Brasil das pessoas votarem e irem pra casa. Tudo que nós sonhamos na nossa geração foi justamente isso, uma sociedade mais mobilizada. Seria muito contraditório a gente reclamar disso", afirmou. "É muito melhor a gente dialogar com esses setores que fazem avançar o processo do que você ter uma massa inerte ou você ter aqueles que jogam sem falar na rua mais fazendo pressão em outros meios, pedindo medidas não populares, que não interessam ao povo. Esse tipo de manifestação interessa pra nós."

Carvalho manteve o discurso sobre os protestos contra a Copa do Mundo. "Na Copa do Mundo, a gente tem certeza que terá manifestações. Qual a nossa preocupação? É que tudo ocorra dentro da normalidade democrática, que cada um fale o que quiser, onde quiser, mas respeitando o direito do outro e evitando a violência. Manifestações como a de hoje são saudáveis e fazem parte dessa democracia pulsante que queremos construir no País, e que a sociedade está construindo." Durante o ato dos agricultores em Juazeiro, não houve prisões ou qualquer atuação violenta da polícia e dos manifestantes.

Reforma Agrária

Carvalho admitiu no evento que o governo Dilma ficou aquém do esperado no desenvolvimento da reforma agrária. A demora para oficializar assentamentos e atender às demandas por demarcações foi constantemente levantada e diretamente levada a Carvalho pelos agricultores. Segundo o ministro, isso ocorreu porque não foi feita uma qualificação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para resolver o atraso nessa questão.

"Fundamentalmente, não foi feito um processo adequado e agilizado da aquisição de terras. Nós nos demos conta de que muitos assentamentos que nosso governo tinha feito, e que outros governos também tinham feito, formavam um processo de antirreforma agrária, na medida em que não permitiu a sobrevivência do agricultor. Tenha certeza de que essa questão [reforma agrária] é muito incômoda para a gente."

Ainda assim, o ministro destacou alguns investimentos que foram feitos à agroindústria e à agricultura familiar, para compensar de alguma forma, o tratamento ineficaz dado ao problema agrário. "De uma maneira geral, a situação do campo, em relação há 10 anos, é diferente. Temos uma agricultura familiar estruturada, temos o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), as cooperativas, uma política de renegociação de dívidas, enfim, acredito que conseguimos dar uma outra estrutura para a agricultura familiar. Agora, acho que alguns aspectos não andaram conforme o governo esperava, como a ampliação da aquisição de terras, o que eu acentuaria como o mais importante."

Evento

Com o intuito de responder à pergunta "Por que interessa à sociedade apoiar à agroecologia?", o III ENA reuniu, na cidade de Juazeiro, cerca de 2100 pessoas entre agricultores, pesquisadores, autoridades e representantes de movimentos sociais. Nos quatro dias de eventos foram realizadas discussões, palestras, feiras de troca de sementes, shows com artistas locais, entre outras ações. O evento foi organizado pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

*A repórter viajou a convite da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA).

Fonte: CARTA CAPITAL

O silêncio ao redor

Intelectuais que sempre fizeram o contraponto progressista reagem agora entre a indiferença e a prostração. Jorge Furtado, pergunta: quando o Brasil foi melhor?

por: Saul Leblon

A impressão de que o governo fala sozinho, cercado por um jogral ensurdecedor, ora raivoso, ora repetitivo, mas de qualquer forma  onipresente,  não é  fortuita.
É isso mesmo,  se a percepção se basear  apenas na emissão veiculada pelos jornais, tevês e emissoras de rádio que  ecoam o monólogo  do ‘Brasil aos cacos’.

Mas já foi diferente?  Em 1989, talvez, quando o Jornal Nacional editou o famoso debate final da campanha, às  vésperas do voto? Ou em 2002, quando  George Soros assegurava, com exclusividade para a Folha,  que era  Serra  ou o caos?

Talvez em 2006, sob o cerco do ‘mensalão’? Ou então em 2010, quando a Folha se lambuzou na ficha falsa da Dilma e Serra convocou  Malafaia como procônsul para assuntos relativos a moral e aos bons costumes?

Então o que mudou para que o ar pareça tão mais carregado, a ponto de ser necessário, às vezes, cortar com faca o noticiário para  enxergar  além da derrocada iminente que se anuncia?

Algumas coisas.

Vivemos uma transição de ciclo econômico.

Em parte pela reversão do quadro internacional, em parte pelo esgotamento de suas dinâmicas  internas, o desenvolvimento brasileiro  terá que se repensar para retomar uma trajetória de longo curso.

Trata-se de recompor  as condições de financiamento da economia. E  depurar  prioridades  em direção à maior eficiência logística e melhor qualidade de vida.

Não é café pequeno.

A expectativa provoca arrepios nas  carteiras graúdas.

Não será  mais possível, por exemplo,  prosseguir apenas com o impulso das exportações de commodities, cujos preços triplicaram  no mundo desde 2003  --os do petróleo quadruplicaram, mas  os agrícolas cresceram mais de 50%.

Tampouco a liquidez internacional promete ser tão generosa  a ponto de dissipar as contradições internas  em um jorro de  crédito apaziguador que tudo sanciona.

Os donos do dinheiro precificam as ameaças incrustradas nesse  duplo esgotamento, que escancara a natureza paralisante da hegemonia rentista sobre  o país.

Dispostos a não ceder, operam a plenos decibéis para sufocar a evidência de que seu privilégio entrou na alça de mira de uma encruzilhada histórica.

Aconteceu antes, em 32 e 53 – quase como uma revolução burguesa à revelia das elites; foi resolvido com o patrocínio do capital estrangeiro em 55; reprimido em 64; ordenado ditatorialmente  nos anos 70 e terceirizado aos livres mercados nos anos 90.

A seta do tempo ensaia  um novo estirão.

O desafio, antes  de mais  nada,  é de natureza política.

A coerência macroeconômica da  travessia será  dada por quem reunir  força e consentimento para assumir a hegemonia do processo.

Não por acaso, na abertura do 14º Encontro dos Blogueiros e Ativistas Digitais, nesta 6ª feira, Lula  resumiu tudo isso em uma frase:

‘Sem reforma política não faremos nada neste país’. 

E ela terá que ser construída pela rua.  ‘Por uma Constituinte exclusiva’, adicionou o ex-presidente da República:  ‘Porque o Congresso que está aí pode mudar uma vírgula aqui, outra ali. Mas não a fará’.

Não é um capricho ideológico.

Trata-se de dar  consequência institucional às demandas e protagonistas que iniciaram a longa viagem à procura de um outro país, a partir das greves metalúrgicas do ABC paulista, nos anos 70/80.

 E que agregaram mais 60 milhões de brasileiros pobres a esse percurso desde 2003.

Um passaporte da travessia consiste em regenerar a base industrial brasileira.

E tampouco aqui  é contabilidade.

Para a economia gerar empregos e salários de qualidade, ademais de receita fiscal compatível com as urgências sociais e logísticas, é vital recuperar o  principal polo irradiador de produtividade em um sistema econômico.

O pressuposto  para um aggiornamento  industrial é  juro baixo,  câmbio desvalorizado e controle de capitais.

Grosso modo, esse é o  tripé que afronta o outro, da  alta finança, baseado em arrocho fiscal, câmbio livre e juro alto.

Todo o círculo de interesses que orbita em torno do cassino  está  mergulhado até o pescoço na guerra preventiva contra o risco de uma reciclagem subjacente à eleição de outubro.

Essa é uma singularidade  que distingue e radicaliza a presente disputa sucessória  --feita em condições internacionais adversas--  a ponto de tornar o ar quase irrespirável.

Por trás dos ganidos emitidos pelo colunismo isento (ideológicos são os blogueiros)  há um cachorro grande a soprar seu bafo sobre o cangote da sociedade.

O capital rentista.

Ele lucrou,  limpo, acima da inflação, 18,5% em média, ao ano, no segundo governo FHC.

Faturou  11,5%, em média, no segundo governo Lula.

E, já impaciente, entre 3,5% e 5% agora, sob a gestão Dilma.

Estamos falando de massas de forças nada modestas.

Diferentes modalidades de  fundos  financeiros  somaram  um giro acumulado de R$ 2,4 trilhões no Brasil em 2012.

O valor equivale a mais da metade do PIB em direitos sobre a riqueza real  --sem triscar o pé no chão da fábrica.

Não é um país à parte. Mas se avoca   mordomias  equivalentes às desfrutadas pelas tropas de ocupação.

Entre elas, rendimentos sempre superiores  à variação do PIB, portanto, em detrimento de fatias alheias. E taxas de retorno inexcedíveis  -- dividendos  permanentes de dois dígitos, por exemplo--   a impor um padrão de retorno incompatível com a urgência do novo ciclo de investimento que o Brasil reclama.

Não se mantém uma tensão desse calibre sem legiões armadas.

Pelotões de estrategistas, exércitos de consultores, artilharias  acadêmicas, bancadas legislativas, cavalarias midiáticas  e aliados  internacionais  operam  a  seu serviço. 

O conjunto  entrou  em prontidão máxima.

Um pedaço da hegemonia que vai ditar  o novo  arranjo macroeconômico  será decidido nas eleições de outubro.

O embate  escorre do noticiário especializado (isento como uma nota de três reais)  para os espaços onde os cifrões são traduzidos em duelos entre o bem e o mal, entre  corruptos e salvadores da pátria,  intervencionistas e liberais, desgoverno  e eficiência.

Daí  são mastigados para o varejo do martelete conservador.

Nesse ambiente de beligerância em que o governo  parece falar sozinho, a explosão de demandas  que buscam  carona na  visibilidade  da Copa do Mundo, apenas reafirma uma transição de ciclo, incapaz de ser equacionado por impulsos corporativos ou bandeiras avulsas, ainda que justas  (leia mais sobre esse tema no blog do Emir).

‘Não vai ter Copa’  figura como o arremedo de uma unidade tão frágil quanto a aritmética subjacente à ideia de que os males do país se resolvem com os  R$ 8 bilhões financiados às arenas do torneio  --que serão pagos, ressalte-se.

No evento da sexta-feira, em São Paulo, Lula lembrou aos blogueiros que desde que começaram as obras  da Copa, em 2010, o governo investiu  R$ 825 bi em saúde e educação.

E, todavia, a escola pública e o SUS persistem com as lacunas sabidas.

O buraco  é mais amplo.

O Brasil se confronta com o desafio de realizar  grandes reformas  que lhe permitam  erguer as linhas de passagem entre o inadiável  e o viável  num novo ciclo de crescimento.

Menos que isso é  dar  à edição conservadora  suprimentos  para martelar  a ideia de uma sociedade  em decomposição.

Durante muito tempo a percolação desse veneno  teve na comunicação do governo um filtro complacente.

Agora se sabe que essa inércia escavou também um corredor contagioso no ambiente cultural, a ponto de tornar adicionalmente  opressivo  o ar desta sucessão presidencial.

Um pequeno exemplo ilustra  os demais.

Em entrevista recente à televisão portuguesa, o cantor Ney Matogrosso esboçou um cenário de terra arrasada  para descrever o Brasil. https://www.youtube.com/watch?v=DqJ0kF1_oL0. De sobremesa, soltou agudos de visceral rejeição à política, aos políticos e  ao PT.

O problema não é um  cantor  deblaterar contra o governo.

O problema é a ausência de contraponto  ao redor, num momento em que interesses graúdos se empenham em vender a tese de que a melhor saída para o Brasil é andar para trás.

Em diferentes capítulos  da história do país,  o prestígio de seus  intelectuais e artistas  foi decisivo no repto ao cerco asfixiante  com o qual o conservadorismo  tentava, como  agora, legitimar, ou impor,  a receita de arrocho subjacente as suas propostas para os impasses nacionais.

Antes tarde do que nunca, o PT e suas maiores lideranças correm contra o tempo para corrigir o gigantesco erro político que foi subestimar  o papel  de uma mídia  plural na luta pela ampliação da democracia  brasileira .

Passa da hora de acordar também para a necessidade de reativar o diálogo com círculos intelectuais e artísticos, cujo protagonismo  foi  igualmente subestimado por uma concepção   mecânica e economicista de desenvolvimento.

O sequestro  da opinião pública pelo denuncismo conservador   --que radicalizou um clima de indiferença e prostração semeado pelo próprio recuo do PT no ambiente intelectual -- evidencia o  tamanho do equívoco cometido.

Leia, abaixo, a manifestação do cineasta Jorge Furtado (diretor do recém  lançado ‘Mercado de Notícias’ e Urso de Prata em Berlim, em 1990, com ‘Ilha das Flores’)  sobre  esses acontecimentos, que marcam e vão marcar o ar pesado da disputa eleitoral de 2014.

'A mim não enrolam' , diz o diretor gaúcho que questiona em  seu blog a tese de que o Brasil  nunca esteve tão mal: pior em relação a quando e, sobretudo, para quem, argui. http://casacinepoa.com.br/)

O desafio do campo progressista é expandir essa argúcia solitária. 

A íntegra do texto de Jorge Furtado:

"Fico triste ao ver artistas brasileiros, meus colegas, tão mal informados.

Imagino que, com suas agendas cheias, não tenham muito tempo para procurar diferentes fontes para a mesma informação, tempo para ouvir e ler outras versões dos acontecimentos, isso antes de falar sobre eles em entrevistas, amplificando equívocos com leituras rasas e impressionistas das manchetes de telejornais e revistas ou, pior, reproduzindo comentários de colunistas que escrevem suas manchetes em caixa alta, seguidas de ponto de exclamação.

Fico triste ao ler artistas dizendo que não dá mais para viver no Brasil, como se as coisas estivessem piorando, e muito, para a maioria. Dizer que não dá mais para viver no Brasil logo agora, agora que milhões de pessoas conquistaram alguns direitos mínimos, emprego, casa própria, luz elétrica, acesso às universidades e até, muitas vezes, a um prato de comida, não fica bem na boca de um artista, menos ainda de um artista popular, artista que este mesmo povo ama e admira. 
 
Em que as coisas estão piorando? E piorando para quem? Quem disse? Qual a fonte da sua informação?

Fico triste ao ouvir artistas que parecem sentir orgulho em dizer que odeiam política, que julgam as mudanças que aconteceram no Brasil nos últimos 12 anos insignificantes, ou ainda, ruins, acham que o país mudou sim, mas foi para pior. 
 
Artistas dizendo que pioramos tanto que não há mais jeito da coisa "voltar ao 'normal '", como se normal talvez fosse ter os pobres desempregados ou abrindo portas pelo salário mínimo de 60 dólares, pobres longe dos aeroportos, das lojas de automóvel e das universidades, se "normal" fosse a casa grande e a senzala, ou a ditadura militar. Quando o Brasil foi normal? Quando o Brasil foi melhor? E melhor para quem?

A mim, não enrolam. Desde que eu nasci (1959) o Brasil não foi melhor do que é que hoje. Há quem fale muito bem dos anos 50, antes da inflação explodir com a construção de Brasília, antes que o golpe civil-militar, adiado em 1954 pelo revólver de Getúlio, se desse em 1964 e nos mergulhasse na mais longa ditadura militar das américas. Pode ser, mas nos anos 50 a população era muito menor, muito mais rural e a pobreza era extrema em muitos lugares. Vivia-se bem na zona sul carioca e nos jardins paulistas, gaúchos e mineiros. No sertão, nas favelas, nos cortiços, vivia-se muito mal.

A desigualdade social brasileira continua um escândalo, a violência é um terror diário, 50 mil mortos a tiros por ano, somos campeões mundiais de assassinatos, sendo a maioria de meninos negros das periferias, nossos hospitais e escolas públicos são para lá de carentes, o Brasil nos dá motivos diários de vergonha e tristeza, quem não sabe? Mas, estamos piorando? Tem certeza? Quem lhe disse? Qual sua fonte? E piorando para quem?"


quinta-feira, 15 de maio de 2014

A promoção da mídia “salva” os protestos de hoje?




Embora O Globo e a Folha estejam à frente do “departamento de agitação e propaganda”, não se espere, a princípio, que estes sejam sequer a sombra das manifestações do ano passado.
Porque o que se tem hoje é muito mais a mobilização dos movimentos organizados de sindicatos, sem-teto e outros grupos de interesse do que o movimento de setores da classe-média – coxinhas à frente – que marcou aqueles momentos.
A página de eventos promovida pelos “black blocs” do Rio, convocando para a manifestação da Central do Brasil – onde vão tentar pegar “carona” no movimento dos rodoviários, tem magras 300 confirmações de presença, contra as dezenas de milhares dos “áureos tempos”.
Os governos estaduais parecem menos propensos à reações brutais e descabidas que tiveram no ano passado. Seja porque, em São Paulo, Geraldo Alckmin esteja com seca pelo pescoço, seja porque, no Rio, Luis Fernando Pezão não seja homem dado aos “chiliques” que caracterizam Sérgio Cabral.
Quanto aos movimentos grevistas, não devem ser encarados jamais com hostilidade, mesmo que aqui e ali possa haver certo oportunismo irresponsável.
Como é que categorias profissionais não vão aproveitar o destaque e a simpatia da mídia por suas greves e manifestações, sempre abafadas e combatidas pela grande imprensa?
O Brasil não deve, jamais, confundir a exibição de nossos progressos com a ocultação de nossas misérias.
Afinal, durante 512 anos de nossa história não teve Copa, mas também não houve moradia, nem salário justo, nem escolas e saúde “padrão Fifa”.
Outro dia, num acesso de ódio político, o cantor Ney Matogrosso disse que saúde e educação no Brasil eram “exemplares” nos anos 50.
Como assim, Ney, se morriam 128 em cada mil crianças nascidas vivas, dez vezes mais do que hoje e só um quarto das crianças e jovens iam à escola?
Mas já que querem “padrão Fifa”, agora, seria bom que o Governo aprofundasse mais os programas sociais.
Afinal, esta é “a voz das ruas”.
Não há nada que deva ser combatido em ir às ruas pedir um Brasil melhor.
Desde que se abra o olho para isso não ajudar a volta do Brasil pior.

Fonte: TIJOLAÇO

terça-feira, 6 de maio de 2014

A tarefa de Lula

Aécio preconiza processo de desenvolvimento flutuante. Uma montanha russa ordenada pelo livre fluxo dos capitais, com seu carrossel de arrocho e desemprego.

por: Saul Leblon 



A decisão tomada no Encontro Nacional do PT de dar à reforma política e à democracia a centralidade  que lhes cabe na luta pelo desenvolvimento não pode  ser subestimada.

É mais que uma inflexão de método.

Vem  rejuvenescer a meta histórica –esgarçada sob o peso da responsabilidade institucional e da correlação de forças, mas também pelo estiolamento  ideológico de alguns setores do partido-- de construir neste país uma verdadeira democracia social.

Aquela que se ergue a contrapelo da lógica capitalista, e propicia às grandes massas que não detém a riqueza, mesmo assim,  um poder de  voz e peso na ordenação da sociedade e da economia.

Há consequências.

E elas não são desprezíveis.

Dilma sintetizou a principal delas em uma frase de contundente antagonismo com aquilo que tem sido dito de forma cifrada ou explícita pelos candidatos do dinheiro grosso:

‘Não fomos eleitos para promover o arrocho contra o trabalhador’.

O arrocho é a operação  intrínseca à agenda ortodoxa que,  na opinião do próprio presidenciável Aécio Neves,  interliga a sua candidatura à de Campos e assemelhados.

É tudo a mesma sopa.

No fundo foi  isso que disse o tucano na semana passada, em  ato falho,  num cenário propício: o  clube dos endinheirados, em Comandatuba, onde ele e Campos se exibiram aos donos do país, sob a batuta do animador Dória Jr.

Não foi uma agenda de exceção.

Dias antes, conforme o cada vez mais  insuspeito jornal Valor Econômico, o ex-governador mineiro e seu fiador  no mercado, Armínio Fraga, estiveram na sede do Itaú, em São Paulo, para falar a clientes milionários do banco .

Membros de uma confraria que, segundo o mesmo Valor, tem R$ 577 bilhões empoçados no sistema bancário, os rentistas  do Itaú estão se lixando para as urgências do investimento brasileiro.

Seu país  é a taxa de juro.

Essa linha de frente daquilo que Keynes definia como ‘a obsessão mórbida pela liquidez’, ouviu Aécio e Armínio com atenção prestativa.

Ao final,  aplaudiu-os de pé.

A razão da empatia não foi revelada pelo igualmente prestativo Valor.

Mas uma coisa é certa: se foi pronunciada, dificilmente a palavra arrocho teve ali a mesma conotação empregada por Dilma no encontro do PT.

O antagonismo  retórico, de qualquer forma, não basta.

A luta pela reeleição desta vez se dá em  condições de beligerância que prometem suplantar as de 2002 e a do cerco de 2006 ensejado pela farsa do ‘mensalão’.

O combate  à  quase insurgência conservadora  --que outro nome dar a isso que figura como uma convocação diária  ao extermínio do PT e de seu governo?—precisa ir além dos enunciados.

Aécio e assemelhados preconizam um processo de desenvolvimento flutuante.

Uma montanha russa ordenada  pelo livre fluxo dos capitais, portanto, entregue à inconstância da especulação  financeira, com seu  carrossel de bolhas, colapso e  desemprego.  

A isso dá-se  o nome  de mercados autorreguláveis.

A resposta à cosmologia da incerteza só pode ser política.

Mas,  sobretudo, deve ser imediatamente palpável  para ser crível e relevante nas condições de vale tudo impostas à disputa pelo campo  conservador.

Significa dizer que um segundo governo Dilma precisa se tornar perceptível desde já, na campanha eleitoral.

Significa, ademais, que as resoluções anunciadas no Encontro do PT desenham um caminho sem volta que requer imediata transposição das palavras para os atos.
 
Entre eles, a imediata deflagração de um processo de negociações por  um pacto  pelo desenvolvimento, capaz de selar  a nova identidade da agenda progressista –e de seu método de luta.

Trata-se de dar consequências ao propósito de  deslocar a  correlação de forças do país para uma democracia social,  ancorada em  ganhos de produtividade, crescimento, distribuição de renda e melhor qualidade de vida.

Um requisito crucial dessa travessia é a credibilidade de seu negociador .

Ademais da legitimidade própria, é imperativo que guarde sintonia estreita com a candidata-presidenta , que dificilmente poderia exercer esse papel de forma direta e imediata, por força de  sua dupla função.

Esse personagem-ponte  existe.

Chama-se Lula.

Tem tudo para ser o porta-voz  de um compromisso claro de Dilma  e do PT com a  emancipação das  grandes massas  que  saíram da miséria e as que ascenderam na pirâmide de renda  nos últimos anos.

O conservadorismo  fez  do ‘centro da meta da inflação’ uma espécie de leilão público para escrutinar  qual, dentre os seus candidatos,  estaria  disposto a ir mais fundo no arrocho monetário  calibrado pela alta dos   juros.

A mesma  gincana pode ser observada em relação ao superávit  primário. Ou à desregulação trabalhista.

Há ofertas cada vez mais explícitas de arrocho no mercado. E o dinheiro ensaia um levante da república argentária rumo a outubro, em intercurso obsceno com a mídia isenta (ideológicos são os blogs progressistas).

Sua bandeira-mestra é ampliar a fatia rentista na divisão da renda nacional.

A resposta de um pacto pelo desenvolvimento deve ser distinta em sua hierarquia de prioridades.

A fatia dos salários no PIB  figura desde logo como sua espinha estruturante.

Muito se avançou em 12 anos de valorização do salário mínimo, formalização do mercado de trabalho e expansão do emprego.

Mas o fato é que a fatia do trabalhador  na renda no país ainda está aquém do que foi no início dos anos 90.

No ciclo do tucano FHC,  1995 e 2002,  essa participação decresceu.

Caiu de 48% para 42,4% do PIB, empurrada pelas políticas antipopulares conhecidas –entre elas o rebaixamento virulento do poder de compra do salário mínimo, a informalidade galopante e a depressão instalada no mercado de trabalho.

No período seguinte, 2002 até meados de 2010, a fatia do salário na renda brasileira  cresceu de 42,4% para 43,4% . Mantém-se em torno disso na média dos últimos anos.

Qual a meta para esse decisivo guarda-chuva  da justiça social num segundo governo Dilma?

Em Comandatuba ou no Itaú a pergunta não faz sentido.

Ela só faz sentido quando passa a existir um portador disposto a respondê-la afirmativamente.

É isso que cabe a um pacto pelo desenvolvimento a ser deflagrado desde já.

Trata-se de dar à deliberação do encontro do PT a sua dimensão de um caminho distinto e sem volta em relação à ganância rentista.

Mais que nunca, as mudanças requeridas pelo desenvolvimento brasileiro exigem a participação  direta de seus interessados  para serem efetivadas.

O 14º Encontro do PT resgatou essa convicção.

Trata-se agora de exercê-la – com a celeridade que a hora exige.