segunda-feira, 23 de maio de 2016

FHC: Embaixador do golpe no Brasil, por João Feres Jr

JOÃO FERES JÚNIOR
SEG, 23/05/2016 - 09:07



RESUMO: O colunista analisa os artigos de opinião de FHC desde as eleições de 2014. Sem se preocupar com a existência de crime de responsabilidade, o ex-presidente move desde então campanha aberta de difamação de Lula, do PT e pela remoção da presidente eleita Dilma Rousseff.

A Latin American Studies Association (LASA) convidou para a mesa principal de seu próximo encontro, que ocorrerá de 26 a 31 maio, em Nova York, Fernando Henrique Cardoso e Ricardo Lagos, ex-presidente do Chile, para falarem sobre os caminhos da democracia na América Latina. O evento foi organizado por Maurício Font, amigo pessoal de FHC e organizador do livro “Charting a New Course”, uma coleção de textos mais ou menos acadêmicos antigos e muitos discursos políticos do senador e presidente, proferidos durante seus mandatos. O apresentador da sessão é nada menos que o próprio presidente da LASA, Gilbert Joseph. Em suma, o evento foi desenhado para ser a joia do congresso da associação.

Logo que a programação do congresso foi anunciada, começou a reação de acadêmicos filiados à LASA, brasileiros, norte-americanos e de outros países, que viam na participação de FHC em sessão tão importante do congresso para falar de democracia uma ofensa e um grave erro, pois ele e seu partido, o PSDB, lideram o movimento de ataque às instituições democráticas brasileiras com o objetivo de remover Dilma Rousseff da presidência conquistada nas urnas em 2014. Organizou-se um abaixo-assinado para pedir o cancelamento do convite, que obteve centenas de assinaturas. Os amigos de FHC, quase nenhum filiado à associação, revidaram com um outro abaixo-assinado que acusava o primeiro de promover a censura à liberdade de expressão. Perante tamanha grita, a LASA reagiu com uma solução de compromisso: trocaram o nome da sessão para “Fifty Years of Latin American Public Life: A Dialogue about the Challenges of Politics, Scholarship, and History”, e criaram uma mesa para acomodar gente crítica ao impeachment em outro slot da conferência, bem longe da Presidential Session.

Plus ça change plus c'est la même chose, diria a gente cheirosa de Higienópolis, pois, a despeito do novo nome da sessão, FHC terá garantido para si um microfone aberto para falar o que quiser sem qualquer contraditório, a não ser eventuais perguntas da audiência ao final, que ele pode responder se e como quiser. Será tratado como acadêmico e estadista, ainda que é na verdade seja ex-acadêmico e ex-estadista. Não produz texto verdadeiramente acadêmico há décadas e deixou a presidência há 14 anos.

Latin American public life! É exatamente a “vida pública” de FHC que o coloca em suspeição para desempenhar tal papel no encontro da LASA. Para provar o que estou dizendo, faço aqui uma análise rápida das colunas mensais publicadas pelo ex-presidente no jornal O Estado de S. Paulo e, eventualmente, replicadas em O Globo desde a campanha eleitoral de 2014. A seleção não tem nada de aleatória: compreende todos os textos do ex-sociólogo publicados durante este período nos jornais, listados na página do Instituto FHC.

Desde a derrota eleitoral, o PSDB e a grande mídia brasileira (principalmente Grupo Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e Grupo Abril) tentaram por vários canais reverter o resultado eleitoral: rejeição de contas de campanha no TSE, rejeição das contas do governo no TCU, mobilização de grupos de direita e extrema direita, aliança com os setores mais corruptos e reacionários do sistema político brasileiro, etc. O espetáculo da votação do impeachment da Câmara, que assombrou o mundo e cobriu a todos nós brasileiros de vergonha, foi só o ápice de um sem número de ações não menos vexatórias.

FHC foi protagonista neste processo. Presidente de honra do PSDB, ele usou seus artigos de jornal para dar o tom do ataque ao governo Dilma, feito pela via do esgarçamento das instituições democráticas do país: Judiciário, MP e PF manipulados politicamente e Câmara sob a batuta de um facínora, cooperando para que um processo sem base substantiva lograsse o feito de cancelar o resultado do voto popular. Vergonha é o termo aqui, ou decoro, seu sinônimo. Isso faltou a muita gente durante o processo: ao juiz Sergio Moro, cabeça da operação Lava Jato e violador contumaz do Estado de Direito, a ministros do Supremo como Gilmar Mendes e Celso Mello, que atacaram publicamente Lula e o Partido dos Trabalhadores, a Teori Zavascki que sentou em cima do processo contra Cunha até o último minuto, ao Procurador Geral da República, que também atacou publicamente o PT e permitiu que seus comandados cometessem todo tipo de abuso durantes as investigações da Lava Jato, e entre outros, a FHC, ex-Presidente da República, pelo conteúdo do que escreve e fala.

Comecemos pelos meios escolhidos pelo ex-presidente para se expressar. Os jornais O Globo e Estadão são dois dos órgãos de imprensa mais reacionários do Brasil, em toda sua história. Apoiaram com empenho o Golpe Militar de 1964 e depois o regime autoritário que se instaurou. Mais tarde, no período de redemocratização, aderiram de maneira recalcitrante à mudança política. Já no período democrático, eleição após eleição, têm apoiado os candidatos do PSDB à presidência da República, fazendo uma cobertura eleitoral escandalosamente tendenciosa, contra os candidatos da esquerda, mormente do PT. Para quem não conhece os níveis absurdos de viés da cobertura eleitoral feita por O Globo, Estadão e Folha de S. Paulo, visitem o site Manchetômetro (www.manchetometro.com). Em uma palavra, são jornais de direita. Até aí, o PSDB é um partido que nasceu na centro-esquerda e foi migrando para a direita à medida que o PT ocupou a centro esquerda. Hoje é, sem sombra de dúvida, um partido de direita. Assim, é natural que seu presidente de honra publique nessas mídias, marcadamente neoliberais e avessas aos movimentos sociais, pois ideologicamente ele está em seu elemento.

Claro que é triste para quem é da esquerda democrática ver um herói da teoria da dependência, como foi FHC, que ajudou a desmascarar a mente colonialista das teses da teoria da modernização e inspirou um sem número de cientistas sociais progressistas, particularmente nos EUA, se transformar em um publicista reacionário. Mas o ex-presidente foi muito além. Ele assumiu o papel de arauto de um golpe contra a democracia brasileira.

Vejamos. De maio de 2014 até o presente são 22 artigos escritos por ele e publicados nos jornais citados, segundo as informações fornecidas por seu próprio Instituto. Já no primeiro artigo FHC começa diz que a corrupção política chegou a níveis alarmantes no Brasil porque o PT tem “vocação de hegemonia”, expressão que viria a repetir neste mesmo texto e em outros artigos inúmeras vezes. De passagem, alfineta o ex-presidente Lula, sugerindo que ele é responsável por esse “desvio de personalidade” do partido. O raciocínio é que para obter a hegemonia, o PT corrompeu o sistema político. A solução propugnada por nosso publicista, que aparecerá em quase todos os textos, é uma reforma política que redunde na diminuição do número de partidos e em maior fidelidade partidária. A solução faz sentido dentro do argumento, mas FHC termina o artigo em tom de ameaça: se o sistema político não for reformado por via democrática, o será pela “vontade férrea de um Salvador da Pátria”.

No artigo do mês seguinte, o ex-sociólogo volta à carga contra o PT, agora utilizando um bordão que reaparecerá em quase todos seus artigos subsequentes: lulopetismo. Trata-se não de um termo analítico, mas depreciativo, um tipo de xingamento, tão comum nas arengas públicas mas que cientistas sociais de verdade e estadistas devem evitar. Foi cunhado provavelmente por Demétrio Magnoli, publicista de direita que frequenta as páginas dos mesmos jornais. É também intensamente empregado por Merval Pereira, jornalista que é feroz detrator de Lula e do PT e porta-voz informal das organizações Globo, e pela editoria do jornal O Estado de São Paulo. Significa basicamente uma organização partidária encastelada no poder e manipulada por uma figura carismática, no caso Lula, que a utiliza para fins sempre viciosos e deletérios. Perfaz, ao mesmo tempo, ataque duplo: ao partido e à figura de Lula.

Até o final da eleição os artigos se resumem a ataques ferozes a Lula e ao PT. FHC trata o petista como um gênio do mal, que é “mestre” em agir como se “a melhor defesa fosse o ataque”. Vai além, e comete a extrema deselegância de escrever que Lula pronuncia “zelite”, ao invés de “as elites”, caricaturando o falar do político nordestino de origem popular. E além de outras tiradas preconceituosas e racistas que se permite publicar, como dizer que o PT no governo promove o “capitalismo da companheirada”, conclama seus leitores a “tirar o País do labirinto lulopetista”.

Em outubro, às vésperas do segundo turno publica outro artigo, talvez já pressentindo a derrota, no qual retoma a retórica a ameça, dizendo que que a reeleição de Dilma representaria risco à economia e ao regime político.

Da derrota eleitoral em diante, as colunas de FHC tornam-se uma vitriólica campanha para deslegitimar o governo Dilma, o PT e Lula, e clamar para que as oposições, o Judiciário e o MP não sosseguem enquanto não a destituírem da presidência. Seus artigos adquirem aspecto ainda mais formulaico e inflamado; tornam-se verdadeiros panfletos de agitação golpista.

A fórmula é repetida à exaustão, com algumas variações de ênfase: começa com a leitura economicista da situação nacional, culpa Lula, o PT e Dilma, tratando-os de maneira extremamente violenta, sugere como remédio a reforma política, e às vezes outras reformas, como previdência, leis trabalhistas e impostos, e fecha conclamando as oposições, o Judiciário e o Ministério Público a apearem Dilma do cargo.

O ressentimento contra Lula que transpira nestas colunas é assustador. O ex-professor dedica textos inteiros para atacar o ex-metalúrgico, como o de agosto de 2015 e o de fevereiro de 2016. Chama-o de “língua solta”, entre outros impropérios e utiliza o termo ofensivo lulopetismo abundantemente.

Como bom publicista conservador, as reformas propugnadas são ou neoliberais (flexibilização das leis trabalhistas, diminuição do gasto público) ou focadas na diminuição da influência popular por meio do voto (sistema semiparlamentarista e voto distrital misto).

Em meados de 2015, o colunista introduz uma inovação: passa a cobrar de Dilma a renúncia, para que o impeachment seja evitado. As palavras escolhidas são dramáticas: ou Dilma “abre mão voluntariamente do poder pela renúncia” ou só “sobra o remédio do impedimento, uma espécie de morte assistida”. Essa chantagem será repetida em praticamente todos seus textos, até a votação do impeachment em abril de 2016. Na coluna publicada às vésperas da votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados, ele, depois de malhar o PT e o “lulopetismo” por vários parágrafos, declara que uma vez que Dilma não aceitou a renúncia, só lhe sobrará o impeachment.

FHC é tratado por muita gente, inclusive por instituições como a LASA, como se fosse um grande acadêmico, coisa que deixou de ser há muito tempo. Logo a LASA, que se consolidou ao final da década de 1960 sob a direção de pesquisadores progressistas. Muitos deles foram críticos acerbos do intervencionismo norte-americano na América Latina durante a Guerra Fria, que patrocinou tantos golpes militares, inclusive o nosso. Essa geração de latino-americanistas progressistas foi influenciada pela teoria da dependência, que lhes dava uma narrativa contra a lógica intervencionista. E Fernando Henrique Cardoso foi o autor que mais teve sucesso no “consumo da teoria da independência nos EUA”, título de um artigo de sua própria lavra. Mas assim como o professor da década de 60 não era o presidente entusiasta do neoliberalismo privatizante dos anos 90, que uma vez declarou ser o Estado incapaz de diminuir a desigualdade social – coisa que Lula provou ser uma falácia --, o publicista que hoje prega o golpe contra Dilma Rousseff não é o presidente de ontem. O PSDB caminhou muito para a direita e FHC o liderou por esse caminho. Nessa marcha para a direita acabou por cruzar os limites do decoro que se espera de um ex-presidente e do que é aceitável dentro do jogo democrático.

Não há um pingo de sociologia no que escreve FHC, quanto mais rigor acadêmico, mesmo para o nível intelectual médio dos leitores dos jornais nos quais publica seus textos. Há sim uma sanha de atingir seus inimigos políticos a cada parágrafo com todo tipo de imprecações. Há sim uma tentativa de propagandear mais reformas neoliberais e uma reforma política que mistura boas medidas, como o fim da coligação para eleições proporcionais, com medidas que vão em detrimento do poder do voto popular, como a volta do financiamento privado de campanha e a adoção do parlamentarismo no país. Há sim um ódio profundo de Lula: dos 22 artigos, somente três não destilam tal sentimento. Se não bastasse essa campanha de difamação que move contra Lula, ao saber da nomeação deste para o Ministério da Casa Civil de Dilma, FHC reagiu ferozmente chamando-o de “analfabeto” e conclamando a sociedade a reagir energicamente contra sua nomeação. E por fim, há sim uma devoção de cristão novo à causa da derrubada da Presidente Dilma Rousseff. FHC sequer se dedica a discutir em qualquer dos artigos se houve ou não crime de responsabilidade de Dilma.

A partir da derrota eleitoral de seu candidato, o ex-presidente começou uma campanha renhida. Dos dezessete artigos publicados desde então, somente quatro não tratam do assunto. Em setembro de 2015, ele inovou o argumento, adicionando uma retórica que mistura ameaça e chantagem: ou renúncia ou “morte assistida”, isto é, impeachment.

Aliado a empresas de mídia de tradição antidemocrática e elitista, que defende repetidamente em seus textos, Fernando Henrique Cardoso tem exercido desde a eleição passada o papel vexatório de arauto de um golpe político que fragilizou as instituições da democracia brasileira a ponto de tornar incerto o futuro do regime inaugurado pela Nova República com a Constituição de 1988. Agora, de arauto quer se converter em embaixador do golpe e usar o encontro da Latin America Studies Association para tal. Pela sua tradição de apoio incondicional à democracia e em respeito aos milhares de associados brasileiros, norte-americanos e estrangeiros que estão profundamente preocupados com o golpe nas instituições democráticas ora em curso no Brasil, a LASA não pode tomar o partido de FHC, permitindo que ele faça do Congresso mais um palanque na sua sombria campanha política.

João Feres Júnior

Instituto de Estudos Sociais e Políticos - IESP

Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

Fonte: JORNAL GGN

Em diálogos gravados, Jucá fala em pacto para deter avanço da Lava Jato


Pedro Ladeira - 5.abr.16/Folhapress



RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA


Em conversas ocorridas em março passado, o ministro do Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR), sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos.

Gravados de forma oculta, os diálogos entre Machado e Jucá ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. As conversas somam 1h15min e estão em poder da PGR (Procuradoria-Geral da República).

O advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que seu cliente "jamais pensaria em fazer qualquer interferência" na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.

Machado passou a procurar líderes do PMDB porque temia que as apurações contra ele fossem enviadas de Brasília, onde tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), para a vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba (PR).

Em um dos trechos, Machado disse a Jucá: "O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...] Ele acha que eu sou o caixa de vocês".

Na visão de Machado, o envio do seu caso para Curitiba seria uma estratégia para que ele fizesse uma delação e incriminasse líderes do PMDB.

Machado fez uma ameaça velada e pediu que fosse montada uma "estrutura" para protegê-lo: "Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu 'descer'...".
O atual ministro concordou que o envio do processo para o juiz Moro não seria uma boa opção. "Não é um desastre porque não tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar exposto de uma forma sem necessidade."

E chamou Moro de "uma 'Torre de Londres'", em referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execuções entre os séculos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram enviados para lá "para o cara confessar".

Jucá acrescentou que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Machado disse: "aí parava tudo". "É. Delimitava onde está, pronto", respondeu Jucá, a respeito das investigações.

O senador relatou ainda que havia mantido conversas com "ministros do Supremo", os quais não nominou. Na versão de Jucá ao aliado, eles teriam relacionado a saída de Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato.

Jucá afirmou que tem "poucos caras ali [no STF]" ao quais não tem acesso e um deles seria o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no tribunal, a quem classificou de "um cara fechado".

Machado presidiu a Transpetro, subsidiária da Petrobras, por mais de dez anos (2003-2014), e foi indicado "pelo PMDB nacional", como admitiu em depoimento à Polícia Federal. No STF, é alvo de inquérito ao lado de Renan Calheiros.

Dois delatores relacionaram Machado a um esquema de pagamentos que teria Renan "remotamente, como destinatário" dos valores, segundo a PF. Um dos colaboradores, Paulo Roberto Costa disse que recebeu R$ 500 mil das mãos de Machado.

Jucá é alvo de um inquérito no STF derivado da Lava Jato por suposto recebimento de propina. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou em delação que o peemedebista o procurou para ajudar na campanha de seu filho, candidato a vice-governador de Roraima, e que por isso doou R$ 1,5 milhão.

O valor foi considerado contrapartida à obtenção da obra de Angra 3. Jucá diz que os repasses foram legais.

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LEIA TRECHOS DOS DIÁLOGOS

Data das conversas não foi especificada

SÉRGIO MACHADO - Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.

ROMERO JUCÁ - Eu ontem fui muito claro. [...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?

MACHADO - Agora, ele acordou a militância do PT.

JUCÁ - Sim.

MACHADO - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.

JUCÁ - Eu acho que...

MACHADO - Tem que ter um impeachment.

JUCÁ - Tem que ter impeachment. Não tem saída.

MACHADO - E quem segurar, segura.

JUCÁ - Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.

MACHADO - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.

JUCÁ - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.

MACHADO - Odebrecht vai fazer.

JUCÁ - Seletiva, mas vai fazer.

MACHADO - Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.

[...]

JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

[...]

MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].

JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.

MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.

JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.

[...]

MACHADO - O Renan [Calheiros] é totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.

JUCÁ - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

*

MACHADO - A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...

JUCÁ - Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...

MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

JUCÁ - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].

MACHADO - Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

JUCÁ - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

[...]

MACHADO - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

JUCÁ - Todos, porra. E vão pegando e vão...

MACHADO - [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.

JUCÁ - Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.

MACHADO - Porque se a gente não tiver saída... Porque não tem muito tempo.

JUCÁ - Não, o tempo é emergencial.

MACHADO - É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.

JUCÁ - Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.

MACHADO - Acha que não pode ter reunião a três?

JUCÁ - Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é... Depois a gente conversa os três sem você.

MACHADO - Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.

*

MACHADO - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...

JUCÁ - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

MACHADO - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...

JUCÁ - É, a gente viveu tudo.

*

JUCÁ - [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

MACHADO - Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava jato]

JUCÁ - Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento...

MACHADO -...E burro [...] Tem que ter uma paz, um...

JUCÁ - Eu acho que tem que ter um pacto.

[...]

MACHADO - Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.

JUCÁ - Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].
Mais adiante, ele voltou a dizer: "Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída".

Machado disse que novas delações na Lava Jato não deixariam "pedra sobre pedra". Jucá concordou que o caso de Machado "não pode ficar na mão desse [Moro]".

O atual ministro afirmou que seria necessária uma resposta política para evitar que o caso caísse nas mãos de Moro. "Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", diz Jucá, um dos articuladores do impeachment de Dilma. Machado respondeu que era necessária "uma coisa política e rápida".

"Eu acho que a gente precisa articular uma ação política", concordou Jucá, que orientou Machado a se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).
Machado quis saber se não poderia ser feita reunião conjunta. "Não pode", disse Jucá, acrescentando que a ideia poderia ser mal interpretada.


Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO

terça-feira, 17 de maio de 2016

Óleo leve da Petrobras em Sergipe deve ser primeiro “ofertão do golpe”

POR FERNANDO BRITO




A informação é de quem sabe tudo e algo mais sobre a exploração de petróleo no Brasil.

Há fortes rumores dentro da Petrobras de que já está pronta a primeira “entrega” das nossas jazidas de petróleo.

É a imensa jazida nas estimativas atuais, acima de 2 bilhões de barris, dos campos de águas ultraprofundas da Bacia Sergipe-Alagoas, já já confirmaram, em diversas perfurações,óleo de altíssima qualidade: até 40°API, a classificação internacional, contra uma média em trono de 25° API.

Há também muito gás, não apenas para a geração de energia mas indispensável  matéria prima para fertilizantes, pois dele se extrai a amônia para a adubos químicos. E enxofre, necessário nas  lavouras de cana, algodão e milho.

Justamente onde a Petrobras tem uma fábrica de fertilizantes, a Fafen, em Sergipe.

São três blocos – BM-SEAL- 4, 10 e 11 – dos quais um deles é totalmente da Petrobras e os outros dois em sociedade (25 e 45%) com empresas indianas.

Os técnicos da Petrobras insistiram durante uma década, porque as jazidas são muito profundas: 2,5 km de lâmina d’água e mais 3 km dentro do leito marinho.

Agora, nos corredores da Petrobras, os bem-informados dão como certo que a multinacional francesa Total será a brindada com o “mimo” de bilhões de dólares.

Com tudo pronto, mapeado, delimitado, sondado e com os poços-guia já perfurados.

Investimento quase zero.

É chegar e levar.

Fonte: TIJOLAÇO

Greve é suspensa e metrô volta a funcionar nesta terça

Na próxima quinta-feira (19), metroviários terão novo encontro para decidir pela continuidade da greve

Foto: Alex de jesus - O Tempo


AILTON DO VALE
JOSÉ VITOR CAMILO

A greve dos metroviários está suspensa. Em assembleia realizada na praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte, na noite desta segunda-feira (16), a categoria decidiu que vai cumprir a escala integral de trabalho nos próximos três dias. Na quinta (19), os trabalhadores terão uma nova reunião. No encontro, eles decidirão pela continuidade ou não da greve que pode voltar na sexta.

"Definimos que o metrô vai funcionar normalmente na terça, na quarta e na quinta. Na sexta, teremos uma nova assembleia para definir os rumos da paralisação", afirmou Élcio Pedrosa Morais, diretor do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (Sindimetro-MG).

A categoria quer aumento real de 10% e cobertura da inflação que é de 10,7%. O salário-base dos metroviários é de R$ 1.383,34. A CBTU enviou, por e-mail, uma proposta de reajuste de 9,28%.

"Vamos continuar negociando com a empresa e, caso não ocorra nenhum avanço, na sexta devemos trabalhar com a escala mínima em alguns horários. O funcionamento será normal nos horários de pico", garantiu Morais.

Nesta segunda, os metroviários contrariaram a decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para operar em escala escala mínima de 80% e paralisaram completamente o serviço durante todo o dia. Os portões das estações ficaram fechados e, em algumas delas, como a do Eldorado, em Contagem, na região metropolitana da capital, militares acompanharam a movimentação.

Segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), a paralisação dos grevistas afetou mais de 215 mil usuários do metrô. Em nota, a empresa informou que na manhã desta segunda foi realizada uma reunião em Brasília entre a CBTU e o Sindicato dos Metroviários. No encontro, os representantes assinaram uma nova proposta de negociação que busca chegar a um consenso para a assinatura do Acordo Coletivo de Trabalho 2016/2017.

De acordo com a CBTU, os pontos comuns debatidos na nova proposta de acordo são os seguintes:

1)   A CBTU ampliará o fornecimento de Vale Alimentação, que passará de 28 para 30 tickets/mês. Em contrapartida, o Vale Cultura deixa de ser concedido;

2) No lugar de toalhas higienizadas, serão disponibilizadas quatro toalhas individuais, sendo duas por semestre, aos empregados das oficinas que fazem uso dos vestiários;

3)   A CBTU ajuizará até a próxima sexta-feira (20/5), juntamente aos sindicatos, dissídio coletivo, para tratar, exclusivamente, do reajuste de 9,28% aplicado às cláusulas econômicas do Acordo de trabalho.

Fonte: Jornal O TEMPO

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Metroviários em greve nesta segunda







Metroviários cumprem promessa e metrô para totalmente nesta segunda

CAROLINA CAETANO / NATHÁLIA LACERDA

Contrariando a decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para operar em escala escala mínima de 80%, a categoria dos metroviários cumpriu a promessa e paralisou totalmente as viagens na manhã desta segunda-feira (16).

Os portões e as bilheterias das estações estão fechadas e, em algumas delas, como a do Eldorado, em Contagem, na regão metropolitana da capital, militares acompanham a movimentação. A empresa Saritur disponibilizou ônibus que estão fazendo a rota Estação Eldorado/Estação Central. A linha começou a rodar 5h30 e vai fazer a rota até o fim do dia.

"No sábado, os motoristas foram avisados que íamos ter essa linha. Se a greve continuar, o serviço deve permanecer", disse o motorista Mauro Lúcio de Araújo, 48 anos, que estava na estação gritando o trajeto para os passageiros desavisados.

E não são poucos os usuários que chegaram às estações e afirmaram que não sabiam da paralisação. "Eu não fazia ideia dessa greve, estava indo trabalhar no Horto. Eu não tenho nem crédito no celular para avisar meu chefe que vou me atrasar", disse a costureira Ereny Pereira, 47.

Na estação Vilarinho, segundo os despachantes que atuam no terminal, as linhas do Move 518R e 512H tiveram atrasos de 12 minutos. "Nós colocamos mais 4 veículos para rodar, sendo três articulados e um padrão. Já estou acostumado a trabalhar quando tem greve. Já vim sabendo que hoje ia precisar de reforço", comentou Hélio Alves Cardoso, despachante do grupo Turilessa, composto por cinco empresas de ônibus.

"Eu acredito que essa greve é legítima sim. O juiz precisa entender que os metroviarios merecem o aumento, assim como as outras categorias conseguiram. Imagina se mexem no salário do juiz? Por isso que eu acho que eles estão no direito deles", completou.

"Os ônibus estão lotados. Está bem acima da média, mas não teve nenhuma confusão", declarou Ailton Ribeiro, motorista da linha 518 Terminal Vilarinho/Cidade Industrial.

A paralisação total dos grevistas afetará mais de 215 mil usuários do metrô, segundo a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Já conforme o Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro-MG), o número de passageiros afetados pode chegar a 240 mil.

De acordo com a companhia, com o protesto da categoria, 275 viagens por dia não serão feitas. Os metroviários pedem aumento real de 10% e cobertura da inflação que é de 10,7%. De acordo com a presidente do sindicato, Alda Lúcia Fernandes dos Santos, a greve é por tempo indeterminado. No entanto, a categoria vai se reunir nesta tarde com o TRT para discutir a situação. Após a reunião, haverá uma assembléia. Dos 1167 sindicalizados, 90% aderiram a greve. O salário-base dos metroviários é de R$ 1.383,34.




"A nossa intenção não é peitar o TRT, mas sim a CBTU", disse a presidente.

Nesse domingo (15), por meio da assessoria, a BHTrans informou que recebeu um pedido da CBTU para reforçar o número de ônibus nas estações de integração com o metrô. A empresa confirmou a ampliação, mas não soube dizer quantos coletivos a mais circularão.




Multa

O TRT determinou que de segunda a sexta, os trens devem rodar nos seguintes horários: entre 05h30 às 10h e 16h às 20h. Nos demais horários e no fim de semana, pelo menos 50% dos trens devem circular na capital. Caso a medida seja descumprida, uma multa no valor de R$ 100 mil será aplicada.

Fonte: Jornal O Tempo

Aécio não deporá, decide Gilmar Mendes



Jornal GGN – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, quando suspendeu as investigações do inquérito envolvendo o senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais e candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2014, também cancelou todos os depoimentos. Nem Aécio, nem as testemunhas irão prestar depoimentos, marcados de início para acontecerem em 90 dias, e as investigações, ou coleta de evidências na documentação e arquivos apreendidos pela Operação Lava Jato, também não entrarão no pacote de denúncias.

A decisão barra o avanço do inquérito e manda o pedido de apuração de volta para Janot, procurador-geral da República, para que reavalie. Gilmar considerou não haver elementos novos que justificassem a continuação da investigação.

E tudo aconteceu, da abertura do inquérito para investigar o senador até o cancelamento das diligências, em somente 24 horas. A justiça foi bem rápida.

Janot havia pedido também que a Corte desse autorização para obtenção e juntada aos autos de cópias de documentos da Operação Norbert, de apreensões realizadas na Youssef Câmbio e Turismo, na época do caso Banestado, que foi o escândalo de evesão de cerca de R$ 30 bilhões do Banco do Estado do Paraná na década de 1990. Este pedido também não foi acatado e as diligências foram suspensas.

O pedido de Janot baseou-se na delação de Delcídio Amaral, senador cassado e hoje sem partido, em que faz a ligação de Aécio à "suposta corrupção na estatal de energia em Furnas".

Outra base para o pedido de Janot é a chamada Operação Norbert, deflagrada no rio. Na petição que fez ao Supremo, por meio da qual pede abertura de inquérito contra o senador tucano, Janot diz que a investigação sobre a suspeita de corrupção "merece reavaliação".

O Supremo arquivou em março de 2015, a pedido de Janot, a investigação sobre Aécio, quando o procurador apontou "inexistência de elementos mínimos". Na ocasião, os investigadores tinham as delações do doleiro premiado, Alberto Youssef, personagem central da Lava Jato, citando Aécio.

Delcídio, em sua delação, premiou o tucano que, "sem dúvida", teria recebido propina em um esquema de corrupção em Furnas que seria semelhante ao da Petrobras, envolvendo inclusive as mesmas empreiteiras.

Com experiência no setor elétrico, Delcídio, que foi cassado semana passada, conhece o ex-diretor de Engenharia de Furnas Dimas Toledo, apontado como responsável pelo esquema de corrupção, e disse que ouviu de Lula, em 2005, que Aécio o teria procurado pedindo que Toledo continuasse na estatal.

Janot, de posse desses novos dados, afirmou ao Supremo que, "diante do novo depoimento, colhido no bojo da colaboração celebrada por Delcídio Amaral, no qual trata dos mesmos fatos agora, sob a perspectiva de alguém que ocupava uma posição privilegiada no que diz respeito ao conhecimento dos fatos, o quadro merece reavaliação."

O procurdor-geral disse que a versão apresentada por Delcídio, se agregava ao que havia relatado Alberto Youssef, mostrando-se plausível. Janot ainda sustenta, em sua petição, que "orbitam em torno de ambos os relatos alguns elementos confirmatórios".

Janot afirma que "há menção ao ex-diretor de Furnas, Dimas Fabiano Toledo", que seria o responsável por gerenciar uma espécie de "fundo" de valores ilícitos, disponibilizados aos políticos para financiar suas campanhas.

"Ouvido no Inquérito 1835/2005 perante a Polícia Federal do Rio de Janeiro em 10 de fevereiro de 2006, Dimas Fabiano Toledo afirmou que conhece o então governador de Minas Gerais Aécio Neves e que este último 'costumava procurar o declarante em Furnas para assuntos envolvendo os municípios onde o atual governador tinha base eleitoral' , que 'mantém com o sr. Aécio Cunha [pai de Aécio Neves], conselheiro de Furnas, relação de amizade, já que o avô do declarante já era companheiro de partido do avô de Aécio Cunha."

O procurador-geral citou também a irmã de Aécio Neves. "A irmã de Aécio Neves, mencionada por Delcídio Amaral e Alberto Youssef, possui (ou ao menos possuía) diversas empresas em seu nome e, na época dos fatos, mantinha inclusive empresa de factoring, criada em 1993 e que teve atividades até 2010, conforme pesquisa na Junta Comercial de Minas Gerais."

E, por fim, apontou a Operação Norbert, que tramitou na Justiça Federal do Rio e onde foram apreendidos diversos documentos na casa dos doleiros Christiane Puchmann e Norbert Muller, que revelaram que diversas pessoas mantinham contas no exterior, inclusive Suíça e Principado de Liechtenstein, na Europa.

O inquérito em questão fazia referência à Inês Maria Neves Faria, mãe de Aécio, e foi posteriormente arquivado. Segundo o Ministério Público Federal no Rio, o arquivamento "alude ao fato de os valores dos depósitos no exterior serem inferiores àquele fixado pelo Banco Central como de comunicação obrigatória, além da inviabilidade de colaboração internacional [com Liechtenstein] com o fim de dar prosseguimento às investigações".

Em nota, Aécio Neves disse que tudo é falso.

Fonte: JORNAL GGN

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Momento delicado

Wladimir Pomar
A esquerda em geral, em particular o PT, acaba de sofrer uma nova derrota estratégica, com a votação do Senado decidindo afastar a presidente Dilma, sem que isso signifique o fim ou o amainamento da ofensiva conservadora e reacionária.
Por outro lado, ao invés de um esforço concentrado para disputar o coração e as mentes das grandes camadas populares e médias da população brasileira, setores da esquerda, atacadas pela virose infantil do esquerdismo, preferem realizar ações espalhafatosas que, na prática, isolam a esquerda das camadas que deveriam conquistar. Talvez pensem que a batalha do impeachment seja a batalha decisiva, desconsiderando que os objetivos estratégicos da direita são muito mais amplos e profundos, e que a defensiva estratégica e tática da esquerda precisam ser fortemente rearticuladas, numa perspectiva de longo prazo.
Para empreender com sucesso tal defensiva estratégica e tática é preciso, de início, reconhecer que não se pode desprezar que os governos Lula e Dilma deixaram um legado positivo para grandes camadas da população brasileira. E que a destruição desse legado pela ação da direita financeira e política tende a enfrentar grande resistência.
No entanto, para que tal resistência seja efetiva, será também preciso reconhecer que, apesar de seu esforço positivo, aqueles governos não foram capazes de realizar as reformas econômicas e políticas que permitiriam combinar uma eficaz redistribuição de renda e inclusão social com um processo de desenvolvimento econômico capaz de sustentar tal redistribuição e inclusão. O que demandaria enfrentar, política e economicamente, a hegemonia do capital financeiro estrangeiro e nacional em todos os seus aspectos.
Isto é, teria sido necessário implementar uma estratégia contra a errada política de juros altos e câmbio livre, contra os oligopólios bancários, industriais, agrícolas, comerciais e de serviços, contra o sistema de financiamento empresarial das campanhas eleitorais, e contra a velha e enfermiça corrupção endêmica que corrói há séculos o poder público brasileiro.
Ao invés de adotar esses pontos como estratégia de governo, com variações táticas que permitissem isolar paulatinamente setor por setor da direita, os governos Lula e Dilma preferiram, porém, uma estratégia de não-reformas e de convivência e conciliação com o grande capital, na esperança de que os ventos favoráveis da economia mundial favorecessem a complacência deles com as políticas de inclusão social.
O pior é que, em 2011, mesmo após a crise capitalista mundial indicar que os ventos internacionais haviam mudado de direção, os governos formalmente dirigidos pela esquerda mantiveram a antiga estratégia, incluindo a adoção de “ajustes” que levariam, como alertaram inúmeros economistas e militantes políticos, a desajustes econômicos e políticos de grandes proporções. Nessas condições, a suposição de que estamos no fim de um ciclo é um erro. O ciclo de hegemonia do capital financeiro continua e deve se agravar. O que fracassou foi a suposição de que governos de esquerda democraticamente eleitos podem adotar estratégias que não incluam reformas de ruptura com aquela antiga e perversa hegemonia financeira.
Também é um erro supor que a atual ofensiva da direita econômica e política não inclua dar fim à esquerda e à democracia. É evidente que, se a atual esquerda for liquidada, como pretendem os setores mais radicais da direita, a longo prazo, em algum momento da história, novas esquerdas poderão brotar das cinzas. Mas a longo prazo, todos também estaremos mortos. Nesse sentido, o que interessa agora é impedir que a atual esquerda e a atual democracia, apesar de suas limitações e seus erros, sejam destruídas.
As tentativas escancaradas de prender e condenar Lula e liquidar politicamente o PT são apenas a ponta do iceberg da decisão de liquidar toda a esquerda como agente político. E as “conduções coercitivas” de acusados e testemunhas são apenas os atropelos iniciais da decisão de liquidar com todos os direitos democráticos.
Portanto, diante disso, se a esquerda não for capaz de realizar uma avaliação serena dos erros estratégicos cometidos nos últimos 20 anos, e de adotar uma estratégia que lhe permita não só empreender com sucesso a atual defensiva em que se encontra, barrar a ofensiva da direita, e passar à contraofensiva, a médio ou longo prazo, nosso país talvez tenha que esperar que uma nova geração faça renascer um novo período de lutas que tenham a democracia e o socialismo como bandeiras principais.
Nessas condições, neste momento delicado, o que menos precisamos é de manifestações explícitas da virose infantil do esquerdismo, seja como tática, seja como estratégia. O que precisamos é de estratégias de combate contra a hegemonia financeira, pela preservação da soberania nacional e da integração regional, pela manutenção dos direitos democráticos, pela industrialização, pela reforma agrária, e pela inclusão social. Estratégias que podem incluir táticas que demandem campanhas e ações políticas diversas em relação à luta contra a corrupção, por reformas econômicas e políticas, e em relação a outras demandas sociais e democráticas.

* Wladimir Pomar é escritor e analista político

Fonte: PAGINA13