sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Leandro Fortes: Nota de falecimento



publicado em 25 de janeiro de 2013 às 13:04
por Leandro Fortes, em CartaCapital

A reação formal do PSDB ao pronunciamento da presidenta Dilma Rousseff sobre a redução nos preços das tarifas de energia elétrica, em todo o país, é o momento mais lamentável do processo de ruptura histórica dos tucanos desde a fundação do partido, em junho de 1988.

A nota, assinada pelo presidente da sigla, deputado Sérgio Guerra, de Pernambuco, não vale sequer ser considerada pelo que contém, mas pelo que significa. Trata-se de um amontoado de ilações primárias baseadas quase que exclusivamente no ressentimento político e no desespero antecipado pelos danos eleitorais inevitáveis por conta da inacreditável opção por combater uma medida que vai aliviar o orçamento da população e estimular o setor produtivo nacional.

Neste aspecto, o deputado Guerra, despachante contumaz dessas virulentas notas oficiais do PSDB, apenas personaliza o ambiente de decadência instalado na oposição, para o qual contribuem lideranças do quilate do senador Agripino Maia, presidente do DEM, e o deputado Roberto Freire, do PPS. Sobre Maia, expoente de uma das mais tristes oligarquias políticas nordestinas, não é preciso dizer muito. É uma dessas tristes figuras gestadas na ditadura militar que sobreviveram às mudanças de ventos pulando de conchavo em conchavo, no melhor estilo sarneysista. Freire, ex-PCB, transformou a si mesmo e ao PPS num simulacro cuja fachada política serve apenas de linha auxiliar ao pior da direita brasileira.

O PSDB surgiu como dissidência do PMDB que já na Assembleia Constituinte de 1986 caminhava para se tornar nisto que aí está, um conglomerado de políticos paroquiais vinculados a interesses difusos cujo protagonismo reside no volume, a despeito da qualidade de muitos que lá estão. A revoada dos tucanos parecia ser uma lufada de ar puro na prematuramente intoxicada Nova República de José Sarney. À frente do processo, um grande político brasileiro, Mário Covas, que não deixou herdeiros no partido. De certa forma, aquele PSDB nascido sob o signo da social democracia europeia, morreu junto com Covas, em 2001. Restaram espectros do nível de José Serra, Geraldo Alckmin e Álvaro Dias.

Aliás, o sonho tucano só não morreu próximo ao nascedouro, em 1992, porque Covas impediu, sabiamente, que o PSDB se agregasse ao moribundo governo de Fernando Collor de Mello, às vésperas do processo de impeachment. A mídia, em geral, nunca toca nesse assunto, mas foi o bom senso de Covas que barrou o movimento desastrado liderado por Fernando Henrique Cardoso, que pretendia jogar o PSDB na fossa sanitária do governo Collor em troca de assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores. FHC, mais tarde chanceler e ministro da Fazenda de Itamar Franco, e presidente da República por dois mandatos, nunca teria chegado a subprefeito de Higienópolis se Covas não o tivesse impedido de aderir a Collor.

Fala-se muito da extinção do DEM, apesar do suspiro do carlismo em Salvador, mas essa agremiação dita “democrata” é um cadáver insepulto há muito tempo, sobre o qual se debruçam uns poucos reacionários leais. É no PSDB que as forças de direita e os conservadores em geral apostam suas fichas: há quadros melhores e, apesar de ser uma força política decadente, ainda se mantém firme em dois dos mais importantes estados da federação, São Paulo e Minas Gerais.

E é justamente por isso que a nota de Sérgio Guerra, um texto que parece ter sido escrito por um adolescente do ensino médio em pleno ataque hormonal de rebeldia, é, antes de tudo, um documento emblemático sobre o desespero político do PSDB e, por extensão, das forças de oposição.

Essas mesmas forças que acreditam na fantasia pura e simples do antipetismo, do antilulismo e em outros venenos que a mídia lhes dá como antídoto ao obsoletismo em que vivem, sem perceber que o mundo se estende muito além das vontades dos jornalões e da opinião de penas de aluguel que, na ânsia de reproduzir os humores do patrão, revelam apenas o inacreditável grau de descolamento da realidade em que vivem.

Fonte: VIOMUNDO

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Krupp: duas ou três lições sobre capitalismo


Celso Furtado dizia que o carrasco das nações no mundo globalizado era a perda dos instrumentos endógenos de decisão.

Sem eles tornar-se-ia virtualmente impossível subordinar os interesses do dinheiro aos da sociedade.

A reinvenção dessa prerrogativa seria quase uma pré-condição para regenerar a agenda do desenvolvimento no século 21.

O fato de o Ministério do Planejamento no Brasil ter se reduzido a uma sigla ornamental, ilustra o quanto a sociedade ainda se ressente desse difícil processo de reconstrução.

O fiasco do projeto siderúrgico da Krupp (Tyssenkrupp) no país é mais uma evidência da visão arguta de Furtado, cuja pertinência histórica a ortodoxia nativa desdenha e inveja.

Fundada em Essen, há 201 anos, a lendária siderúrgica alemã, anexada por Hitler ao esforço de guerra nazista, está se desfazendo de uma unidade no Rio de Janeiro.

A Companhia Siderúrgica do Atlântico começou a ser planejada pela Tyssenkrupp em 2005; entrou em operação em 2010 e custou US$ 15 bi.

A previsão de produzir cinco milhões de toneladas de placas de aço por ano revelou-se um fracasso.

Não um fracasso qualquer.

O tropeço da gigante alemã no país condensa algumas coisas que os crédulos dos mercados racionais e autorreguláveis precisam aprender sobre o capitalismo.

A CSA nasceu como uma perfeita obra da globalização do capital.

Nela, como se sabe, nações e povos figuram como mero substrato logístico ou entreposto de insumos baratos.

Arcam com as externalidades do projeto e participam de forma lateral dos lucros.

Mas são coagidos a engolir o grosso dos prejuízos quando ele ocorre.

É o caso.

Num país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados, a CSA foi erguida sobre um solo pantanoso, ao lado de um mangue, na Baia de Sepetiba, zona oeste do Rio de Janeiro.

A escolha singular elevou em cerca de 60% o custo de implantação.

Exigiu um exército de bate-estacas para as fundações que mobilizariam quase um terço da oferta desses equipamentos na região.

Havia lógica, a do dinheiro, por trás da aparente excentricidade.

Ocupar um terreno próximo à fonte de matéria-prima, trazida do Espírito Santo pela Vale do Rio Doce (sócia com 23% do capital), era uma motivação.

A disponibilidade de um porto exclusivo para intenso movimento de embarques rumo aos EUA, outra.

Uma siderúrgica complementar à CSA foi erguida pela Krupp no Alabama. As placas brutas enviadas de Sepetiba seriam laminadas nessa unidade para abastecer o parque automobilístico norte-americano.

A indústria automotiva dos EUA entrou em coma com o colapso da ordem neoliberal em 2008.

A espiral recessiva desligou seus altos-fornos e criou um elefante branco no Alabama.

A mesma condição foi estendida à siderúrgica gêmea brasileira.

Os impactos sociais e ambientais do projeto, porém, permanecem ativos.

Reportagem de Carta Maior durante a Rio+ 20, no ano passado, revelou que, entre outras 'externalidades', a localização inadequada contaminou o mangue e o mar com resíduos de metais despejados pela usina.

A vida marinha, a pesca e o turismo local foram golpeados.

Em novembro último, a CSA foi multada em R$ 10,5 milhões de reais pela secretaria estadual de meio ambiente do Rio.

Motivo: ter proporcionado aos moradores locais e à vida aquática um evento tóxico conhecido pelo nome poético emprestado aos fogos de artifício: 'chuva de prata'.

Nem a população de Sepetiba, nem o Brasil, tampouco os metalúrgicos do Alabama tem motivos para estourar fogos diante do fiasco global da Tyssenkrupp.

O stop lost no monitor da empresa na Alemanha já decidiu como resolver o seu problema específico no Brasil.

A Krupp resolveu vender o elefante branco a um grupo local e pressiona o BNDES a financiar o negócio da hora: uma planta ociosa num mundo que convive com um excedente de 500 milhões de toneladas de aço. O equivalente a um ano de produção da siderurgia chinesa.

Colosso de planejamento dos mercados racionais

Quando o conservadorismo ataca o governo por 'eleger vencedores', grupos financiados com empréstimos favorecidos pela TJLP, o juro real negativo do BNDES, certamente não se refere a esses casos ilustrativos.

Neles, os vencedores são os capitais globalizados cantados em verso e prosa pelos críticos do 'intervencionismo da Dilma' .

O grande perdedor, menos lembrado, é justamente a nação, desprovida --ainda-- de planejamento público, bem como de salvaguardas estatais demonizadas pelos sacerdotes dos livres mercados.

A Krupp seguir a mais essa aventura do capital, como já aconteceu em outras oportunidades.

A pioneira da siderurgia alemã não sobreviveria por dois séculos se não encarnasse a própria essência mutante do capitalismo.

Escrúpulo não é um ingrediente da receita.

A mesma empresa que inventou o aro inteiriço das rodas de trens em meados do século IXX, distinguiu-se na fundição de canhões, que abasteceriam os exércitos alemães derrotados na Primeira Guerra.

Sob o nazismo, o complexo Krupp não desperdiçaria oportunidades e sinergias.

Anexado ao esforço de guerra de Hitler, exibiria notável poder de adaptação.

A contabilidade da empresa registra então um momento de virtuosa produtividade, vitaminada pela mais valia absoluta de dezenas de milhares de trabalhadores gratuitos.

Escravos, recrutados diretamente dos campos de concentração nazistas.
Postado por Saul Leblon às 05:16

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Uma semana para não esquecer


O jornalismo praticado pelo dispositivo conservador tem cada vez mais o prazo de validade de um pote de iogurte vencido. A 'grave denúncia' da noite azeda no contato com o oxigênio da manhã.

A manchete garrafal e assertiva da hora desaba ao primeiro sopro dos fatos. Como um frango desossado da Sadia, não se sustenta sem os ganchos de uma desconcertante indiferença à realidade.

Não raro, a afronta à opinião pública balança sua indignidade por dias seguidos nas páginas e sites, como a carcaça putrefata da credibilidade conservadora.

A insistência do vetusto 'Estadão' em manter uma 'barrigada' histórica na manchete --a 'decisão' do Ministério Público de pedir a investigação de Lula'-- é o exemplo arrematado da carnificina da notícia no cepo conservador.

No futuro, quando o historiador autopsiar esse açougue onde cortes especiais redesenham o país ao gosto de interesses pantagruélicos, será possível avaliar melhor as consequências da injeção sistemática de semi-informação, meias verdades, semi-cultura, mentiras e vulgaridade no imaginário social.

Não se trata apenas de aferir votos. A cidadania plena é inseparável da consciência histórica adquirida através da razão argumentativa que politiza os fatos e materializa os valores que sustentam a convivência compartilhada.

Por ora, trata-se de resistir à matéria tóxica.

Poucas tarefas terão maior importância do que essa nos dias que correm.

A capacidade de entorpecer o discernimento social é o principal trunfo político de um feixe de interesses cada vez mais dissociado dos anseios da população. Cada vez mais disfuncional em relação à agenda do desenvolvimento. Cada vez mais avesso ao aggiornamento que a democracia requer em nosso tempo. (Leia também o blog do Emir; nesta pág.)

Sites e blogs progressistas devem redobrar esforços na tarefa de oferecer um contrapeso de equilíbrio ao aluvião beligerante embutido nessa asfixia narrativa.

Não ceder ao discurso panfletário já encerra em si um contraponto.

Mas ele somente será eficaz se adquirir a abrangência capaz de romper os torniquetes da infantilização da opinião pública promovida pelo monopólio midiático.

Discutir alternativas críveis a uma crise igual ou pior que a vivida pelo capitalismo em 1929 é o que de mais importante deveria fazer um sistema de comunicação plural e democrático.

A dimensão política dos impasses em jogo, rusticamente condensados na incompatibilidade entre a supremacia financeira e as necessidades vitais da sociedade, convoca a imaginação a erguer linhas de passagem não usuais ao passo seguinte da história.

Quando as coisas atingem o ponto a que chegamos a resistência concentrada nas questões convencionais da sobrevivência não basta.

Urge uma disposição mudancista desassombrada para redefinir o papel do Estado e da democracia na retomada do crescimento, em meio à desordem neoliberal.

O conjunto requer um salto de discernimento, organização e engajamento que não se materializará sem a mobilização de ideias e agendas que um jornalismo isento teria obrigação de espelhar .

Não é esse o presente imediato, tampouco o horizonte visível da chamada grande mídia no Brasil.

A sofreguidão das machetes nos últimos dias colecionou provas suficientes de um empenho que avança na contramão desse imperativo.

Foi uma semana para não esquecer.

Um apagão midiático, uma investigação contra Lula, salvas ao 'candidato anti-intervencionista' das gerais, a concentração de vapor golpista contra o regime venezuelano e um alarmismo inflacionário improcedente compuseram o repertório da isenção informativa aspergida insistentemente nos corações e mentes da sociedade.

O saldo distorce os fatos, mas informa o que vem pela frente.

O incompreensível desdém do governo em relação aos meios de comunicação progressistas --a ponto de discriminá-los no agendamento da publicidade oficial de interesse público-- assume assim contornos de um erro político de consequências desestabilizadoras.

Sempre se poderá alegar em defesa da inércia que o limite do abuso é o contrapeso implacável da realidade objetiva. Esta favoreceria o discernimento político da sociedade.

Em termos.

O economicismo que se acredita autossuficiente na disputa pela hegemonia é tão equivocado quanto o laissez-faire, que dispensa ao Estado o menosprezo de um estorvo burocrático.

No fundo, ambos entregam o destino da Nação às forças de mercado. Com as consequências conhecidas, quando o conflito de interesses atinge a polarização prenunciada nas manchetes da semana que passou.

Postado por Saul Leblon às 17:35

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Faca na boca contra o desenvolvimento

O empenho das manchetes alarmistas em equiparar o horizonte elétrico atual ao desastre construído pelo tucanato no apagão de 2001 é compreensível.

Aquele foi o episódio-síntese de um erro histórico clamoroso ungido em doutrina política pelo PSDB e assemelhados.

Seu nome é dissociação entre Estado e agenda do desenvolvimento .

Doze anos e um colapso mundial do capitalismo desregulado se passaram.

Inútil.

Diga planejamento público da economia. Ou comando estatal do crescimento. Um exército tucano sairá em revoada de faca na boca.

Estão na praça, de novo, desbastando pescoços e goelas para abrir caminho ao Adam Smith das gerais.

O apagão de 2001 machuca e atrapalha esse labor: o iluminismo tropical colonizado pelos livres mercados revelou-se então puro obscurantismo conservador.

Uma contradição nos seus próprios termos dói mais que pancada.

Prescindir do planejamento estatal na área de energia é algo só concebível em uma época em que a mentalidade política foi esfericamente colonizada pelo espírito imediatista e predador dos ditos mercados autossuficientes.

O dispositivo midiático e o PSDB foram os sujeitos históricos dessa aventura no Brasil.

Livre da mão pesada do 'intervencionismo' estatal,os mercados alocariam os investimentos da forma mais eficiente, ao menor custo e da maneira mais rápida possível. Era a promessa.
Em meados de maio de 2001, esse conto de fadas midiático-ortodoxo havia cavado uma diferença de robustos 20% entre a oferta e a demanda de eletricidade no mercado nacional.

Um período de chuvas de baixa pluviosidade pôs a nu a fraude.

O país se viu diante de uma contabilidade crítica: duas horas de apagão para cada dez de consumo.

Colosso.

O governo Dilma, ao contrário, projeta uma queda de 20% no custo da tarifa elétrica impondo às concessionárias corte de preços proporcionais ao valor dos investimentos amortizados.

A relação antagônica entre os 20% do PSDB e os 20% de Dilma --sabotado por governadores tucanos-- é intolerável numa disputa sangrenta como promete ser a de 2014.

A necessidade de criar uma vacina ao 'apagão' emplumado explica o empenho das manchetes nos dias que correm.

Exemplos desta terça-feira, 08-01:

'Grandes indústrias já planejam racionar energia' (Globo); 'Falta de chuvas pode tolher 5 pontos do desconto na energia' (Valor);'Governo já vê risco de racionamento de energia' (Estadão)

Fatos:

a) os reservatórios do sistema hidrelétrico nacional realmente encontram-se em níveis críticos. Próximos ou até um pouco abaixo dos níveis registrados nos anos de 2000 e 2001, quando o governo tucano acordou de seu sonho mercadista, sem contrapesos de planejamento para enfrentar a escassez;

b) sábios que voltaram a borrifar seu 'iluminismo' peculiar contra os 'obscurantistas estatizantes' haviam contratado uma escuridão estrutural em pleno século 21;

c) o apagão tucano custou 3 pontos do PIB; mais um salário mínimo per capita em impostos emergenciais adicionados à conta de luz de cada brasileiro. Investimentos foram engavetados. O desemprego em São Paulo, em abril do ano seguinte, bateu em 20,4% (no auge da Depressão nos EUA, em 1937, chegou a 27%);

d) justiça seja feita: foi apenas o tiro de misericórdia numa economia já desidratada pela ortodoxia monetária, asfixiada pelo endividamento interno e externo, escalpelada pela fuga de capitais. O oposto do que ocorre hoje;

e) entre 2001 e 2012 a capacidade instalada de geração de energia no Brasil cresceu 75%;

f) o estoque de emergência formado por termelétricas aumentou 150% no mesmo período;

g) a capacidade de realocação de energia entre as regiões (os linhões de integração do sistema), cresceu 68%;

h) em setembro de 2011, a Presidenta sintetizou a guinada indo à jugular do iluminismo às avessas: "Tivemos que reconstruir esse setor";

i) a reconstrução inclui um Plano Decenal que prevê 71 novas usinas até 2017, com potencial de geração de 29.000 MW ( o equivalente a duas Itaipus). As hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio entram em operação este ano, gradualmente (adicionam o equivalente a cerca de 35% de uma Itaipu)

Em resumo: encerrou-se o hiato de três décadas sem o planejamento público de grandes obras no país.

O êxito desse resgate --o comando de Estado sobre um setor estratégico-- vitaminado ademais por um redução no custo tarifário, é incompatível com os planos do conservadorismo para 2014.

O próprio FHC tem advertido aos mais entusiasmados com a aliança entre togas & tucanos.

Não adianta ganhar na narrativa midiática se o 'povão', a gente diferenciada, como dizem seus vizinhos de Higienópolis, 'percebe' avanços sociais e econômicos como conquistas carimbadas com o selo de Lula e Dilma.

É indispensável desautorizar o modelo que lastreia esse sentimento.
É crucial provar que o comando de Estado sobre os mercados é ineficiente.

Se possível, desastroso.

Será preciso chover muito para afogar essa sede incontida. Do contrário, as manchetes prosseguirão na faina de antecipar o colapso --' que só não foi hoje porque virá amanhã'.

Uma última observação:

o dispositivo midiático conservador está tão entretido nessa labuta, que descuidou dos destaques internacionais deste início de semana.

Compare-se, por exemplo, o espaço destinado à grita gerada pelo ajuste contábil nas contas fiscais de 2012, com o tratamento respeitoso dispensado a outro arranjo ,mutatis mutandis, este sim temerário e escandaloso. 

O prazo para o sistema bancário mundial lastrear empréstimos em ativos de qualidade superior à montanha tóxica esfarelada com a implosão da ordem neoliberal, foi protelado por mais quatro anos.

Só deve vigorar plenamente em 2019. Ou seja, 11 anos depois de iniciada a crise decorrente justamente dessa falta de cobertura.

Originalmente, a banca deveria ingressar em 2015 já municiada de "ativos líquidos de alta qualidade" para enfrentar 30 dias de crise.

Isto é, para não exigir que os cofres estatais e os fundos públicos tenham que ser drenados outra vez na salvação de banqueiros irresponsáveis e rentistas gulosos.

A torre de vigia do orçamento fiscal brasileiro, formada como se sabe por argutos jornalistas do ramo, não expressou sua indignação diante da manobra contábil, que mantém o sistema financeiro global vulnerável por mais sete longos anos.

Não se diga que o legado da desordem financeira justifique o comedimento.

A taxa de desemprego nos 17 países da zona do euro atingiu um novo recorde: foi a quase 12% no final de 2012.

Ao todo, 26 milhões de pessoas estão sem trabalho na União Europeia. A taxa vai a 24,4% entre os jovens.

Na Espanha direitista e zelosa da ortodoxia que gerou a crise, o desastre atinge seu cume: 26,6% dos espanhóis vivem à deriva sem trabalho.

Tudo em nome da austeridade fiscal, cujo padrão os sabichões tucanos reclamam de volta para o Brasil. (Leia a análise de Paul Krugman sobre o tema fiscal, nesta pág.)

Afrontá-los não implica, naturalmente, aderir a uma leitura rasteira do keynesianismo, nivelando-o a um vale tudo fiscal. (Leia a análise do economista J. Carlos de Assis, nesta pág)

Trata-se, porém, de rejeitar no plano financeiro, também, a dissociação entre Estado e desenvolvimento, cujo equívoco ficou escancarado no episódio do apagão tucano.

Quando a sirene ortodoxa faz soar o seu apito porque o Brasil não cumpriu a meta cheia do superávit em 2012 --e o governo acode em atendê-la contabilmente-- é o subtexto desse interdito que está gritando a sua saturação também.

Constituir um Estado democrático que detenha igualmente a iniciativa histórica no plano financeiro é um dos desafios da agenda do desenvolvimento pós-2008.
Em seu artigo desta 3ª feira no jornal Valor, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo dá uma pista de como esse degrau pode ser vencido:

"A estratégia chinesa inclui um forte controle e direcionamento do crédito, cuja oferta está concentrada nos cinco grandes bancos públicos. Depois da crise de 2007/08, a relação crédito/PIB avançou de 200% para 250% (NR no Brasil é da ordem de 51%). Os principais tomadores foram as empresas públicas, privadas e semi-públicas dedicadas à execução dos grandes projetos de infraestrutura, sobretudo ferrovias de alta velocidade e infraestrutura urbana com atenção especial para o transporte coletivo".
 
Postado por Saul Leblon às 20:52

Fonte: AGÊNCIA CARTA MAIOR

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Brasil Sem Miséria localiza mais de 380 mil famílias em 2012


Busca ativa inclui cidadãos no cadastro do Bolsa Família 
Brasil Sem Miséria localiza mais de 380 mil famílias em 2012


A busca ativa do Plano Bralizá-las e incluí-las no cadastro, elas terão acesso não só ao Bolsa Família, como também aos outros sil Sem Miséria localizou e incluiu 380.595 famílias extremamente pobres no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, no ano de 2012. Com o resultado do ano passado, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) encontrou mais de 700 mil famílias nessa situação desde junho de 2011, quando foi lançado o plano de superação da extrema pobreza. “Ao locaprogramas sociais do governo”, disse a ministra Tereza Campello.
Com o Brasil Sem Miséria, o governo está indo atrás dessas pessoas, levando o Bolsa Família e garantindo o acesso a serviços públicos e à inclusão produtiva. Do total de famílias localizadas até agora, mais de 108 mil estão no estado de São Paulo. Em segundo lugar, aparece o estado do Rio de Janeiro com mais de 85 mil famílias.
Equipes Volantes - Dentro da política de busca ativa, que consiste na atuação do Estado para encontrar as famílias que moram nos locais mais distantes ou que, mesmo nos centros urbanos, estão fora do alcance das políticas sociais, o MDS investiu R$ 65 milhões em mais de 1,2 mil equipes volantes que vão à procura dessas pessoas. Elas integram os Centros de Referência da Assistência Social (Cras) e estão presentes em 1.038 municípios de todo o país.
Além disso, 108 lanchas vão possibilitar o transporte das equipes volante que atuam na Amazônia Legal e no Pantanal a partir de 2013, com apoio do ministério. Serão repasses mensais de R$ 7 mil para possibilitar a realização dessas ações.
Alimentação - O Bolsa Família resulta em índices positivos de segurança alimentar e nutricional dos beneficiários, segundo a pesquisa de Juliana Baptistella, mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal de São Carlos, que venceu o 5ª Prêmio da Secretaria de Orçamento Federal do Ministério do Planejamento (SOF/MP) sobre qualidade do gasto público.
A pesquisadora analisou dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008 a 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sobre 49.514 famílias, sendo 8.544 delas beneficiárias do programa. Ela avaliou o status nutricional das famílias, utilizando a análise da distribuição das pessoas por categorias do Índice de Massa Corporal (IMC), e concluiu que o programa melhora a qualidade da alimentação também. Entre as beneficiárias, 63,15% apresentaram IMC normal; 30,34% eram obesas; e 6,51% eram magras. Já entre as famílias não atendidas, a percentagem de pessoas com peso normal foi de 60,28%, enquanto 5,64% foram classificadas como magras e 34,08% como obesas.
Assistência técnica rural atende 180 mil agricultores familiares
Os investimentos em Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) no âmbito do Plano Brasil Sem Miséria beneficiou 180,5 mil agricultores familiares em 2012 - 400% mais do que os 35,5 mil do final de 2011. Para superar a extrema pobreza no campo, a prioridade é aumentar a produção, com a orientação e o acompanhamento técnico e oferta de insumos e água.
Atualmente 15,7 mil famílias recebem R$ 2,4 mil cada para investir na produção. O fomento, pago em parcelas semestrais durante dois anos, serve para que os agricultores familiares possam adquirir insumos como sementes e adubos, e equipamentos.
Até novembro, 20,2 mil famílias que vivem em situação de extrema pobreza na região amazônica e assentamentos de todo o país recebem o Bolsa Verde, de R$ 300 a cada trimestre, por adotar práticas de conservação dos ecossistemas, substituindo queimadas e desmates por atividades de manejo e preservação ambiental.

Fonte: EM QUESTÃO