Flávia Ayer
Mateus Parreiras
'Formigueiro`
humano e milhares de carros e ônibus deixam o Hipercentro de belo
horizonte a cada dia mais estressante e insuportável
O dito popular indica que todos os caminhos levam a Roma. No caso de Belo Horizonte todas as rotas levam ao Centro. Levantamento da BHTrans, a pedido do Estado de Minas, mostra que 53% das linhas de ônibus da região metropolitana têm itinerário passando pelo Hipercentro. Mais de 2,6 mil ônibus de 544 linhas municipais e metropolitanas cortam diariamente o caldeirão marcado pelo cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas, que também recebe todos os dias cerca de meio milhão de veículos, o equivalente a um terço da frota, e 2 milhões de pessoas – 37% da população da Grande BH. Com essa pressão, a velocidade do trânsito no pico da manhã fica em torno de 16 km/h, mais ou menos o que um ciclista consegue pedalar em média.
Com o caos instalado, a prefeitura busca soluções para desafogar o Hipercentro com projetos como o transporte rápido por ônibus (BRT) e novos polos de comércio e serviço nas outras regiões da capital. Ainda assim, o prognóstico não é dos melhores. “Se não fizermos nada, em 2020, a velocidade do tráfego cairá para 9km/h. A intenção com os investimentos é manter esses 16 km/h”, afirma o diretor de Planejamento da BHTrans, Célio Freitas. Para ter uma ideia, das 298 linhas de ônibus da BHTrans, 167 passam pelo Centro, o que equivale a 56% do total. Da mesma forma, 377 das 727 linhas metropolitanas (52%) atravessam a região.
O consultor em trânsito e transporte Paulo Rogério Monteiro explica a razão do problema: “A cidade foi construída a partir de uma lógica radial. As pessoas só vão ao Centro porque existe uma demanda de emprego e serviços e porque são jogadas lá pelo sistema de transporte. O ideal seria que fossem ali apenas por necessidade”. Segundo ele, “a solução é ter outros níveis de baldeação fora do Centro, não incentivar o transporte individual e fazer a descentralização das atividades produtivas, para as pessoas trabalharem mais perto de casa”, afirma.
Mas o cenário está longe disso. Estudo da BHTrans, de 2009, mostra que em oito vias do Hipercentro passavam 400 mil veículos por dia, o que representa 35% da frota da época, de 1.145.210. Quatro anos depois, houve aumento de 34% no volume de veículos emplacados, chegando a 1.537.871. A diferença de 392.661 veículos representa o ingresso de mais um hipercentro, em apenas quatro anos. Respeitada essa projeção, seriam hoje 536 mil veículos cruzando a área central a cada dia.
“Não tem como escapar do Centro. Se você, por exemplo, precisa sair da Região Centro-Sul para a Pampulha, tem de passar no Hipercentro. A outra opção é o Anel Rodoviário, que é até 10 quilômetros mais longo e também trava”, compara o taxista Marlon Fernandes, de 47 anos, há 13 na praça. “Por causa dos engarrafamentos, já perdi clientes. O passageiro pede desculpas e desce no meio do engarrafamento, deixando a gente na mão”, lamenta.
Reflexos em cascata
A concentração no Centro se reflete na cidade inteira. “Se a Afonso Pena para, as demais vias ficam bloqueadas começa uma reação em cadeia para outras regiões”, avalia o especialista em transporte e trânsito Silvestre de Andrade Puty Filho. Horário de pico ou não, a quantidade de veículos na Avenida Bias Fortes é tão intensa que cruzamentos são constantemente fechados. Os pontos com gargalos mais significativos são os cruzamentos com as ruas Curitiba, Goitacazes e Timbiras. Ontem, a confusão extrapolou o horário de pico e ainda no início da tarde, das três pistas, pelo menos uma e meia acabava ocupadas por carros e ônibus que não conseguiam concluir sua travessia. “Acabei de passar por isso. Os motoristas não conseguirão passar pelo sinal amarelo, mas insistem e, quando o sinal fica verde para nós, não tem como circular. Aí, quem ficou parado acha que pode fazer o mesmo”, protesta o manobrista Wagner Rodrigues, de 25, que mora no Barreiro e precisa passar pela via para trabalhar no Barro Preto. “Não tem outro caminho. Então, a gente vai afunilando. Faltam educação e fiscalização”, disse.
A Rua Padre Belchior tem só um quarteirão, mas se transforma ao longo do dia. Fica vazia fora do horário de pico, entre a Rua Curitiba e a Avenida Augusto de Lima. Nas horas intensas da manhã e do fim de tarde, no entanto, o fluxo de ônibus despejados pela Augusto de Lima e pela Rua São Paulo para os dois pontos ali transforma a Padre Belchior num funil. Ônibus vão se enfileirando. “O ponto vira empurra-empurra. Todo mundo numa correria, porque os motoristas acabam parando muito atrás e a gente pode perder a viagem. Pior é quando os motoristas veem as filas e passam direto deixando a gente na mão”, protesta a dona de casa Vânia Moreira, que precisa ir a Lourdes e o ônibus 2256A, que a leva do Santa Mônica e tem de parar no Hipercentro.
Fonte: ESTADO DE MINAS