segunda-feira, 5 de março de 2012

Porteira da verticalização aberta

Pampulha
Prédios podem afetar turismo
"Um prédio pode ser visto de longe. Vai perder o encanto", diz turista curitibano

IANE CHAVES
Especial para O Tempo
FOTO: FOTOS EMMANUEL PINHEIRO
Igreja. Na foto, a igreja da Pampulha, um dos pontos mais visitados da região e de toda a cidade

A autorização do Conselho de Política Urbana de Belo Horizonte (Compur) para a verticalização da Pampulha, um dos principais cartões-postais da capital, pode prejudicar o turismo na região. Na última semana, o órgão ligado à prefeitura deu o aval para a construção de dois hotéis de 40 m de altura. Desde então, moradores e especialistas têm se manifestado contra a liberação, que pode descaracterizar a área e causar impactos ambientais e de mobilidade.
A reportagem de O TEMPO percorreu ontem diversos pontos da orla da lagoa. Turistas vindos de vários cantos do país disseram que é justamente a arquitetura e a disposição paisagística que atraem os visitantes e criticaram a construção dos empreendimentos no local.
A aposentada paulista Roseli Menezes, 56, da cidade de São Caetano do Sul, visita Belo Horizonte pela segunda vez. Para ela, os grandes empreendimentos descaracterizariam um dos últimos pontos livres de prédios e com área verde da cidade. "Como turista, eu sou totalmente contra a verticalização em um lugar que é tão bonito. Viemos aqui buscar justamente natureza e tranquilidade", afirmou.
O bancário Leonardo Lopes, 29, de Curitiba (PR), afirmou que a região perderia o chame com a construção de prédios. "Mesmo sendo um pouco distante da orla da lagoa, um prédio de 13 andares pode ser visto de longe. Com isso, o ponto turístico perderia o encanto", previu Lopes, que estava com a namorada, a publicitária Giovana Canedo, pela primeira vez na lagoa.
Para o membro do Fórum da Área de Diretrizes Especiais (Fade) da Pampulha, João Renato Stehmann, os turistas estão acostumados com o visual predominantemente verde e procuram exatamente pelas características da região como um refúgio do cotidiano caótico das grandes cidades. "Seria muito estranho ter prédios lá. Descaracterizaria o local".
Segundo Stehmann, com esses empreendimentos, o turismo de negócios seria privilegiado em detrimento do cultural e ambiental, que são tradicionais na região. "Apenas um dos hotéis (Bristol Stadium) tem um centro de convenções para 900 pessoas. O que tem que ser feito é a melhora na acessibilidade urbana, com projetos de melhora no trânsito. E não atrair mais pessoas de forma desordenada", contou.
A mudança no clima é outra preocupação dos turistas. Morando em Belo Horizonte há três meses, o casal Luiz Ricardo Tadros, 28, e Judy Monaila Soares, 27, vindo de Manaus, no Norte do país, teme pelo aumento do calor. "Essa é uma área arejada e agradável que atrai muita gente. A construção de prédios altos impediria a circulação dos ventos. Tenho medo de ficar quente demais", disse Tadros.
Sem vozAção. Moradores da Pampulha vão protocolar hoje uma ação no Ministério Público alegando que não tiveram oportunidade de se manifestar durante a votação do Compur. A prefeitura da capital afirma que todos puderam opinar sobre o assunto.
Prejuízos
Torres afetam ventos e pioram chuvas

Além dos impactos no trânsito e no urbanismo, a construção de prédios altos na região da Pampulha afetaria diretamente os lençóis freáticos, dizem especialistas. "Essa é uma área com uma camada de água subterrânea muito aflorada, ou seja, a mínima escavação que se faça atinge o lençol freático. Essas construções ressecam o solo", explicou a arquiteta e urbanista Suzana Meinberg.
Segundo ela, o lençol freático forma as nascentes. Suzana disse que a construção de prédios desencadearia um colchão térmico na atmosfera, que desviaria os ventos, as chuvas e provocaria fortes temporais. (IC)

Fonte: JORNAL O TEMPO

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