sexta-feira, 2 de março de 2012

PBH aprova hotéis e dá início à verticalização da Pampulha


A construção de dois hotéis de 13 andares e 40 m de altura na região da Pampulha, aprovada ontem pelo Conselho Municipal de Política Urbana (Compur), irá mudar para sempre a paisagem do complexo arquitetônico criado por Oscar Niemeyer. As torres, que deverão ficar prontas em março de 2014, antes da Copa do Mundo, serão erguidas uma ao lado da outra na avenida Alfredo Camarate, no bairro São Luiz, a menos de 1 km do Mineirão. Para moradores e especialistas em urbanismo, a prefeitura abriu a “porteira” para a verticalização.
“O impacto dessa aprovação será sentido a longo prazo. Outros empreendimentos poderão usar da mesma artimanha para se instalarem na Pampulha”, afirmou a engenheira civil Lilian Lucchesi, mestre em construção civil da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A instalação dos hotéis na região foi possível a partir da aprovação, em 2010, de duas leis visando a Copa. Elas flexibilizaram a ocupação de Áreas de Diretrizes Especiais (ADE), permitindo o aumento das construções e de suas dimensões.
Para Suzana Meinberg, membro da Associação Pró-Civitas dos Bairros São Luiz e São José, a votação do Compur foi simbólica. “Senti que o Compur estava apenas fazendo as vontades do prefeito, sem pensar na opinião dos moradores. Somos nós que iremos sentir, na pele, os
impactos dessas construções”, disse.
A aprovação dos empreendimentos foi unânime entre os 11 integrantes do Compur, divididos da seguinte forma: nove são servidores do município, entre servidores públicos de vários cargos escolhidos pelo prefeito, e dois representantes da sociedade civil.
O gerente da Secretaria Municipal Adjunta de Planejamento e Urbanismo, José Júlio Vieira, garante que mais nenhum hotel ou prédio será construído na região da Pampulha, pois as leis tiveram vigência até julho do ano passado. “Se a brecha foi aberta uma vez, nada impede que aconteça de novo”, contesta o presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape-MG), Frederico Correia Lima.
Para Lilian Lucchesi, o estrago já foi feito, no que diz respeito à preservação do conjunto da Pampulha. A Lei de Uso e Ocupação do Solo (nº 7.166/1996) estabelecia que construções no entorno da lagoa da Pampulha poderiam atingir até 9 m de altura, no máximo. “Esses arranha-céus vão descaracterizar a região, que é predominantemente residencial e com construções baixas”, afirma a professora da UFMG. Impactos no meio ambiente também deverão ser sentidos. De acordo com Lilian, haverá mais volume de lixo e de esgoto, piorando a qualidade de água da lagoa.

Investigação
Promotoria. O Ministério Público Estadual (MPE) por meio da Promotoria de Habitação e Urbanismo não quis comentar sobre a decisão do Compur. O órgão também investiga mais 13 empreendimentos autorizados para a Copa do Mundo de 2014.
FOTO: ALISSON GONTIJO
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TENSÃO
Votação foi marcada por bate-boca e vaias
A votação do Compur foi marcada por bate-boca. A cada argumentação dos representantes dos hotéis, que tentavam convencer a plateia sobre os benefícios econômicos e valorização da Pampulha, moradores respondiam com vaias.As obras dos dois hotéis já haviam começado, mas foram paralisadas no início deste ano a pedido do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG). Os donos do empreendimentos solicitaram a análise dos projetos, sob o argumento de que estavam dentro da lei. Os hotéis Bristol Stadium e Go Inn tiveram que fazer modificações nas obras, reduzindo a altimetria dos edifícios. Originalmente, o Bristol teria 15 andares e o Go Inn, 20.

Congestionamentos. De acordo com especialistas, o trânsito também será afetado. A avenida Alfredo Camarate, que é estreita, receberá um número considerável de veículos. Apenas um dos hotéis, o Bristol Stadium, tem capacidade para 170 vagas de estacionamento e um centro de convenções para 900 pessoas. “Todo esse trânsito vai se juntar ao da avenida Carlos Luz, que, em épocas de grandes jogos, fica saturado”, afirma Lima. Dados sobre o estacionamento do outro hotel, o Go Inn, não foram informados pela Brisas Empreendimentos, responsável pela obra.
Como contrapartida, mas sem caráter obrigatório, o Compur recomendou que os hotéis criem duas ciclovias na região.
O presidente da rede Bristol, com sede no Espírito Santo, José Adalto Silva, disse que todas as adequações serão realizadas. Ele estima que as obras recomecem em duas semanas. Um dos responsáveis pelo Go Inn, Avelino de Almeida Neto, disse apenas que os hotéis irão “valorizar a região.” (GS)

Fonte: JORNAL O TEMPO

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