Enquanto comemora a menor taxa de desemprego do país, BH precisa melhorar indicadores de saúde e educação
Ingrid com Davi: problema durante a gestação levou o menino a nascer com baixo peso
A
capital com a menor taxa de desemprego do país, 8,40%, tem também o
maior percentual de bebês nascidos com baixo peso no Brasil, 10,61%.
Contraditórios, os índices mostram que entender Belo Horizonte vai além
de um simples olhar para as estatísticas. Pesquisa divulgada na
terça-feira (7) pelo Movimento Nossa BH traça um panorama da cidade a
partir de 73 indicadores. Os dados de saúde, educação e emprego apontam
em quê o município precisa avançar para garantir melhor qualidade de
vida à população.
Batizado de Sistema de Indicadores Nossa BH, o estudo inédito foi
encomendado por entidades, empresas privadas e membros da sociedade
civil. Revela, por exemplo, que Belo Horizonte se destacou
negativamente como a capital brasileira com maior taxa de crianças
nascidas com menos de 2,5 quilos. Índices acima de 10% são consideradas
inaceitáveis pelo padrão internacional. Em 2010, segundo a Secretaria
Municipal de Saúde (SMS), 3.285 bebês vieram ao mundo, em BH, nessa
condição.
O filho de Ingrid Mariely Fernandes da Silva, de 23 anos, faz parte
desse grupo. Davi nasceu em 15 de fevereiro com apenas 1,5 quilo, e
está internado na Maternidade Sofia Feldman. “No quinto mês de
gravidez, o médico avisou que meu filho nasceria com baixo peso porque
meu cordão umbilical não estava transferindo corretamente os nutrientes
para o bebê”, conta a mãe.
O problema exigiu a antecipação do parto, que aconteceu na 34ª semana,
quando o normal são 40. Davi chegou a ficar na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI), mas em 20 dias já ganhou 200 gramas. “Ele não corre
risco de morrer”, comemora a mãe.
A coordenadora da Comissão Perinatal da SMS, Sônia Lansky, explica que
o principal motivo do baixo peso dos bebês está ligado à interrupção da
gravidez por cesariana. Nesses casos, pode haver erro na presunção da
idade gestacional, levando a criança a nascer antes da hora. Outras
explicações podem estar relacionadas ao desenvolvimento intrauterino
restrito, ocasionado por doenças nas mães, uso de drogas e álcool, além
de causas naturais.
“Em BH, no ano passado, mais de 52% das crianças nasceram por
cesariana. Muitas das cirurgias não tinham indicação técnica e
aconteceram por influências culturais, conveniência do médico ou desejo
das famílias”.
Integrante da coordenação do Movimento Nossa BH, Nemer Sanches ressalta
a importância de se buscar justificativas para o indicador. “Pode ser,
por exemplo, que os hospitais realmente acompanhem as gestantes, o que
faria com que elas não sofram abortos, mas precisem interromper a
gestação antecipadamente por algum problema”.
Também integrante do Nossa BH, Glaucia Barros lembra que a maior fatia
do orçamento municipal vai para a saúde. Em 2011, o setor ficou com R$
2 bilhões dos R$ 7,7 bilhões investidos em BH. “Qual o motivo de um
dado negativo se tanto dinheiro é investido no setor?”, questiona.
(*) Com Thiago Lemos
Nenhum comentário:
Postar um comentário