O que fica claro para
mim é que o que a direita não conseguiu ganhar no voto tenta ganhar
nesta aliança de uma mídia comercial desqualificada com um segmento
do poder judiciário. Quando gritam “pega ladrão”, eu começo
dando uma boa olhada em quem está gritando.
Ladislau Dowbor
Este negócio do
Supremo Tribunal Federal simplesmente não passa no filtro do bom
senso. Se houvesse alguma prova concreta de mensalão, não seriam
necessárias milhares de páginas nem tantos anos. Um documento
bastaria.
Se fosse justo, não
estariam recorrendo a argumentos tão tortos do “deveria saber”,
como denuncia Bandeira de Mello. Se fosse honesto, não trataria de
maneira tão desigual o processo de Minas Gerais e o atual. Se fosse
de bom senso jurídico, seria um julgamento técnico, discreto e
direto, e não um teatro nacional, novela de batalha do bem contra o
mal.
Se fosse decente, não
montariam todo este espetáculo para coincidir com a campanha
eleitoral de 2012, culminando numa sexta-feira, véspera da eleição.
O que, aliás, pelos resultados, nem deu certo. Se fosse imparcial,
como se imagina que a Justiça deveria ser pelo menos um pouco, não
seria o processo tão claramente politizado contra o Partido dos
Trabalhadores.
Se fossem tão
corruptos, um Genoíno ou um José Dirceu, pelo menos teriam
enriquecido um pouquinho. Sequer são acusados disso, não faria
sentido. E se o dinheiro foi efetivamente aplicado nas campanhas
publicitárias, como está provado com notas fiscais e como todo
mundo viu na TV, como pode ter financiado o dito mensalão? Sobraria
o “bônus de volume”, uma merreca, que faltou provar que seria
dinheiro público.
Na falta de crime, ou
de provas, sobrou ódio ideológico. A grande justificativa final de
tanta falta de justiça foi repetida por Miguel Reale no Roda Viva:
estavam comprando os deputados para votar as leis que queriam,
portanto estavam deturpando a política, apropriando-se do poder.
Bem, primeiro, estavam
eleitos. Segundo, a própria lógica revela santa simplicidade, ou
santa hipocrisia. A moeda de troca com os parlamentares não é
nenhum mensalão, mas os cerca de 15 bilhões de reais (só em 2007)
que são as emendas parlamentares, com as correspondentes
“rachadinhas”, legalmente instituídas, generalizadas a partir de
1993 com os “anões do orçamento”. São 25 emendas por
parlamentar.
O que fica claro para
mim é que o que a direita não conseguiu ganhar no voto, tenta
ganhar nesta aliança estranha de uma mídia comercial desqualificada
com um segmento do poder judiciário. E esta mídia, agitando para um
povo que anseia por ética, de que finalmente “pegamos os
corruptos”, é realmente abaixo da crítica, e não quer ver a
corrupção real.
Quando gritam “pega
ladrão”, eu prudentemente, com muita coisa vista, e tendo estudado
suficiente direito, começo dando uma boa olhada em quem está
gritando. Justiça não é teatro.
Ladislau Dowbor é
professor titular no departamento de pós-graduação da PUC/SP e da
Universidade Metodista de São Paulo, e consultor para agências das
Nações Unidas, governos e municípios.
Fonte: AGÊNCIA CARTAMAIOR
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