segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Lembranças de tipos, linotipos e sonhos

Lí a matéria abaixo transcrita no jornal "Minas Gerais" de sábado, 01 de outubro de 2011 e automaticamente voltei no tempo quando iniciei minha carreira de gráfico lá pelos idos de fevereiro de 1980. Naquela época em que trabalhava com os chamados "tipo móveis" e linotipos para diagramação de jornais e montagem das chapas para irem às impressoras "Heildelbergs" para a impressão. Coincidentemente nascia também o Partido dos Trabalhadores, como se coincidência existisse ...

Por Marco Aurélio Rocha

 

 

A (r)evolução na Iomg

A (r)evolução na Iomg
CREDITO: MARCO EVANGELISTA

As mudanças do MINAS GERAIS ao longo dos anos ganharam o toque de arte do Suplemento Literário

Quem vê, hoje, o MINAS GERAIS sendo editado na tela do computador e daí impresso em filme que vai direto à chapa de off-set para impressão, não imagina o que ocorria há cinquenta anos, quando as edições eram feitas por penosos processos mecânicos. No caso do conteúdo oficial, preenchiam-se nas ramas as colunas com a composição feita em linotipo e, a partir das páginas montadas, seguiam-se as diversas fases de inversões até a impressão do jornal na gigantesca rotativa a Marinoni-Somua. Todo o conteúdo da edição rodava nos cilindros aos quais estavam fixadas pesadas telhas de chumbo,com os textos em relevo.
Se no caso dos atos oficiais e publicações de terceiros havia alguma facilidade de elaboração, pela igualdade e regularidade do texto, o mesmo não acontecia com o noticiário, e especialmente com o Suplemento Literário, criado em 1966 por Murilo Rubião. Eram páginas com ilustrações artísticas, fotos e espaços em branco, diagramadas com liberdade e criatividade. O SL, depois de editado, seguia para a composição em linotipo. Com a possibilidade, ainda que dentro de limites, para a escolha das matrizes de tipos e tamanhos diferenciados, criava-se um padrão gráfico mais dinâmico para o conteúdo nobre de ensaios, poemas, contos, reportagens.

Com leitura em voz alta, era feita revisão de provas e a correção, substituindo-se as linhas da linotipia. A paginação executada nas "bolandeiras" seguia o diagrama. O relevo de cada página tinha a disposição invertida, como um carimbo. Os clichês de fotos e ilustrações, em chapa de zinco, reproduziam as imagens em pontos reticulados. Estes eram postos no mesmo plano das linhas de linotipo, sobre guarnições de ferro, para suportar a pressão da calandra - centenas de quilos por polegada quadrada - que transferia todo o texto e imagens para o flan. Material refratário, o flan podia ser encurvado em forma semicircular e receber a carga de chumbo derretido, criando-se as telhas. Depois de retocadas na fresa para eliminar alguma irregularidade, as telhas com a imagem invertida, em relevo, eram postas nos cilindros da Marinoni para a impressão final.

Os "especiais" de Rubião
Diante do sucesso e repercussão das primeiras edições do Suplemento, Murilo Rubião decidiu criar os "especiais". Eram cadernos temáticos focalizando assuntos de relevância. Já no primeiro ano, começaram a surgir edições como "Barroco", "Marília de Dirceu", "Bárbara Heliodora", e também a obra de autores de primeira linha, como Afonso Arinos, Alphonsus de Guimaraens, Mário Mattos, Basílio da Gama, e uma edição comemorativa de quarenta anos de trajetória literária de Eduardo Frieiro, para citar apenas algumas das edições especiais.

A elaboração das edições especiais trazia mais um desafio técnico, sempre superado com dedicação e empenho pelos funcionários das oficinas da Imprensa Oficial. Havia uma tiragem limitada nas máquinas planas do setor Impressão de Obras, em papel de gramatura mais alta, encadernados em capas a cores. Para essa tiragem, os clichês tinham de estar montados em bases de compensado, pregados pelas bordas chanfradas. Mas, depois de usados, eram desmontados das bases de madeira e postos nas guarnições de ferro, calandrados, para a edição normal encartada no MINAS GERAIS.

Estas edições demandavam planejamento minucioso pois, na data de circulação no MINAS GERAIS, havia também o lançamento da tiragem especial, com solenidade e festa. Mas mesmo nas edições normais, Murilo Rubião trabalhava com antecedência, havendo nas oficinas, às vezes, três números já compostos e apenas aguardando o dia da montagem.

Offset foi uma mudança de ritmo, rumo e qualidade

Quando foi implantada a impressão em off-set, no final da década de 1970, as páginas passaram a ser montadas em papel, já com aspecto finalizado, onde fotografadas e passadas às chapas de impressão. Isso trazia mais liberdade aos diagramadores na disposição das imagens e dos textos, já que não eram montadas nas pesadas ramas e guarnições de ferro. Mas a composição dos textos continuou por algum tempo nos linotipos, de onde eram tiradas as provas prontas para montagem.

Em seguida, foi adotada a fotocomposição. com os textos digitados e revelados em banho fotográfico e encaminhados à montagem. Mais tarde, em 1983, na reforma visual criada por Sebastião Nunes para o Suplemento, foram usadas letras em transfers para os títulos, a conhecida Letra Set. Para marcar essa nova fase, quando Murilo Rubião retornou à Imprensa Oficial, agora como diretor-geral, foi substituída a velha logomarca do Suplemento, que havia permanecido por 17 anos.

Com os novos processos de produção, palavras corriqueiras nas oficinas - bolandeira, guarnição, clichê, calandra, flan, telha - caíram em desuso e foram suplantadas pela terminologia dos computadores, geralmente adaptada ou usada diretamente em inglês.

O Suplemento Literário continuou em destaque entre as publicações culturais. Mas depois de excluído do encarte no MINAS GERAIS, passou a uma tiragem menor, destinada a assinantes e a algumas bancas e livrarias em Belo Horizonte, até ser transferido da Imprensa Oficial para a Secretaria de Cultura. Nos quase 30 anos que permaneceu na Iomg, ilustrou de forma marcante um tempo de muita qualidade literária e profundas transformações dos processos gráficos. (LR)

Fonte: http://www.iof.mg.gov.br/

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