Celina Abreu de Aquino venceu preconceitos e, mesmo sem dinheiro, se tornou a primeira ginecologista de BH
A ginecologista Celina revê as fotos de formatura da turma da Faculdade de Medicina
Em 7 de setembro de 1911, nascia uma belo-horizontina que seria reconhecida como exemplo de coragem e profissionalismo. Filha de funcionário público e de dona de casa, Celina Abreu de Aquino quebrou preconceitos e se tornou uma das duas primeiras mulheres matriculadas na Faculdade de Medicina de Minas Gerais. E foi muito além: tornou-se a primeira médica ginecologista de Belo Horizonte. Tanta paixão pela medicina acabou virando livro, lançado dia 30 de setembro. Em “Doutora Celina – Cem Anos de Vida e Solidariedade”, o ouvidor do Grupo Santa Casa de Belo Horizonte, Manuel Hygino, conta a vida desta mulher que abdicou da própria vida para cuidar dos enfermos. “Ela é a primeira ginecologista nascida e formada em Belo Horizonte. O livro é uma homenagem àquela que dedicou todo o seu tempo para cuidar dos necessitados”, resume o autor. Celina também teve muita persistência para seguir em frente. A falta de dinheiro e o preconceito por ser mulher não foram suficientes para fazer com que ela desistisse do sonho de se tornar médica. Como Medicina era considerado um curso para homens, ela foi convidada, pelo diretor da faculdade, a transferir-se para Farmácia. Determinada, não aceitou o convite e, com o apoio dos pais, continuou firme na decisão. Para concluir os estudos, os colegas de sala lhe emprestavam os livros, que eram muito caros. Naquele tempo, Celina colocava os pés em uma bacia de água fria para espantar o sono e não dormir durante as longas noites de estudo. Depois de formada, a “doutora”, como era chamada, enfrentou mais preconceitos ao escolher a especialização em ginecologia. É que, naquela época, as mulheres não aceitavam ser tocadas por outra pessoa. Mas ela não se abateu. Funcionária da Maternidade Hilda Brandão e da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, além de atender em consultório particular no Centro da capital, a médica realizou, em 69 anos de profissão, cerca de 5 mil partos. Irmã de Celina, Alda Abreu de Aquino, de 92 anos, lembra que, durante o período em que foi sua secretária no consultório, a médica chegou a atender pacientes o dia inteiro, sem receber um centavo sequer. “Querida por todos, Celina recebia queijos, doces e lembranças como agradecimento”, conta Alda. Amiga e paciente da ginecologista, a dona de casa Marly Prado Leone diz que teve complicações no parto do terceiro filho. Ela conta que Celina virou a noite no hospital para tentar resolver o problema da paciente, que já estava desenganada pelos médicos. “Tive uma hemorragia incontrolável. Celina fez raspagem, tentou estancar o sangue, mas nada resolvia”, lembra. Mesmo com a filha doente em casa, a médica virou a noite no hospital e salvou a vida de Marly. Atualmente, Celina vive com a irmã Alda. Os dois filhos que teve com o oncologista José Caetano moram em outra cidade. Por causa da idade avançada, a médica tem um cardápio regrado, mas não abre mão da carne de porco e do torresmo. Admiradora de um bom vinho e de cerveja, Celina aprecia essas bebidas em eventos especiais. Vaidosa, a aposentada escolhe a própria roupa. Nos fins de semana, as irmãs caminham pela pracinha que fica perto de casa.
Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/minas/aos-100-anos-mulher-e-exemplo-de-determinac-o-1.353406
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