Condomínio tem que cumprir diversas obrigações por estar em área de preservação
Ele
é um dos cinquentões mais conhecidos de Belo Horizonte. Por seus
corredores já passaram grandes intelectuais, escritores, boêmios e
estudantes. Local de encontro dos "resistentes" à Ditadura Militar
durante os chamados "Anos de Chumbo", o Conjunto Arcangelo Maletta, na
esquina da avenida Augusto de Lima com rua da Bahia, no Centro da
capital mineira, pode estar prestes a ter sua importância histórica
eternizada.
O síndico do Maletta, Amauri Batista dos Reis, iniciou um movimento
junto aos condôminos para tombamento do imóvel. Segundo ele, o prédio
está dentro de uma área de preservação, tem que cumprir diversas
obrigações, mas não tem nenhum benefício. “Queremos tombar o imóvel
para conseguir recursos com as leis municipais, estaduais e federais”,
contou.
Estes recursos seriam usados para revitalizar o prédio. “O Maletta é
muito importante para a história de Belo Horizonte e precisa de reforma
para resgatar suas características, para voltar a ser charmoso como
era”, disse Reis. Há 12 anos ele mora no condomínio e há 32 anos
frequenta o espaço.
Os moradores e comerciantes do Maletta foram convocados para uma
espécie de plebiscito, quando darão opiniões sobre o tombamento do
edifício. Mas a decisão sobre o pedido só deve ser tomada em junho,
quando está prevista uma assembleia dos condôminos. Para Reis, o
Maletta só tem a ganhar se for tombado pelo patrimônio histórico e
cultural, mas já há contrários à ideia, temendo que o imóvel se
desvalorize.
Para defender a sua posição favorável ao tombamento, o síndico cita
alguns cálculos feitos por ele. Segundo Reis, com a isenção do IPTU,
cujo valor ele não revela, é possível usar o dinheiro do imposto para
revitalizar o imóvel. O síndico lembra que a primeira escada rolante de
BH foi instalada no Maletta, mas ela está desativada há anos porque os
custos do conserto do equipamento são muito altos. “Precisamos de
patrocínio. Mas independentemente do tombamento, vamos tentar reformar
o prédio. Não dá pra ficar do jeito que está”. O síndico lembra que os
condôminos é que arcam com os custos da obra.
A construção do Maletta é imponente. São mais de 600 salas, 319
apartamentos e 144 lojas e sobrelojas construídos em 88 mil metros
quadrados. O edifício é o que concentra o maior número de sebos de
Minas Gerais e ainda abriga ainda bares tradicionais, como a Cantina do
Lucas, tombada pelo Patrimônio Histórico e Cultural de BH, e o Lua
Nova.
O edifício é o que concentra o maior número de sebos de Minas (Crédito: Carlos Roberto/Arquivo)
Patrimônio
A diretora de Patrimônio da Fundação Municipal de Cultural de BH,
Michele Arroyo, explicou que um pedido de tombamento de edifício pode
ser feito a qualquer momento. Segundo ela, se a ação vier por sugestão
dos moradores é melhor ainda, pois simplifica o processo. “O ideal
seria que os moradores entregassem um abaixo-assinado direcionado ao
patrimônio”.
A diretora tranquiliza os mais pessimistas ao afirmar que o Maletta não
terá nenhum prejuízo ou perda do valor do imóvel caso seja tombado.
“Esse pensamento não faz sentido para grandes construções”, disse ela.
Para ser tombado, um imóvel tem que passar por estudos urbanísticos,
arquitetônicos e antropológicos. Após esse processo é aberto um dossiê
de tombamento e sugeridas diretrizes de proteção.
Os imóveis tombados pelo patrimônio recebem alguns mecanismos de
incentivo, como isenção de IPTU, linhas de crédito e benefícios das
leis de incentivo cultural municipal, estadual e federal, entre outros.
Arroyo explica que o Conjunto Arcangelo Maletta tem importância
histórica e simbólica para a capital, devido aos grupos de intelectuais
que se apropriaram do espaço e também por causa da proporção do
edifício, que está situado no eixo central de BH.
Ele já está incluído em um conjunto urbano protegido pelo patrimônio,
que definiu diretrizes de proteção, como restrição altimétrica,
padronização das calçadas, medidas de segurança e engenho de
publicidade. A arquitetura do Maletta representa o momento de transição
de estilos vivido em sua época de construção, em 1957. Mas Arroyo
considera que suas linhas estão mais voltadas para o Modernismo devido
às características de funcionalidade, como a convivência entre lojas e
residências, e o uso de escadas rolantes.
Fonte:
HOJE EM DIA
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