Quando se há o interesse do capital, muda-se a toda hora o Código de Posturas. Lembram-se do Hilton Rocha? muda-se o Código para adequar aos interesses dos poderosos. Querem aumentar o potencial construtivo? Querem construir uma Torre em Santa Tereza? Muda-se o Código de Posturas.
E a fiscalização da cidade e do código? Quando pedimos fiscalização a prefeitura costuma alegar o número reduzido de fiscais para toda a cidade; mas para este evento teve? e dois? Muito esquisito.
Igrejas se proliferam pela cidade, cada esquina tem uma com aparelhos de som no último volume! Não tem fiscalização.
Bares espalham cadeiras sem deixar espaço para os pedestres! Não tem fiscalização.
Há locais que se o cidadão estiver caminhando na calçada com sua família, mulher ou filho, tem que mudar de lado da via para não ouvir as gracinhas daqueles que ocupam indiscriminadamente as portas de bares com cadeiras, gritarias e algazarras!
São os novos valores desta sociedade consumista, individualista e amoral!
Por Marco Aurélio
Confraria semanal é duplamente punida por ocupação de calçada no Santa Tereza
Arnaldo Viana
Lincoln Duarte
Tertuliano, fundador da confraria, mostra as notificações
A crônica de ontem do
compositor e escritor Fernando Brant, contracapa do caderno EM
Cultura deste jornal, reverencia os 25 anos da Constituição,
resgate dos direitos civis usurpados pelo golpe militar de 1964. Na
noite de segunda-feira, provavelmente no momento em que o artista e
cronista tecia o elegante e oportuno texto, a Prefeitura de Belo
Horizonte, por meio da Administração Regional Leste, dava uma
facada numa das mais louváveis intenções de liberdade, igualdade e
fraternidade, exatamente no coração do Bairro Santa Tereza, reduto
de Brant e de seus companheiros do Clube da Esquina.
A PBH, numa ação
ríspida e inesperada de fiscais, multou a inocente Confraria São
Gonçalo, a alegria da Rua Norita, formada por pessoas da chamada
terceira idade, que se reúnem uma vez por semana em
confraternização, para, ao som de flauta, violão e pandeiro,
cantar velhas canções de seresta e, acima de tudo, conviver,
investir na autoestima e espantar a solidão e os sintomas da
depressão. Motivo da multa? Os confrades instalam cadeiras e
pequenas mesas na lateral da calçada. , sem atrapalhar a passagem de
pedestres, mesmo porque a rua, de um só quarteirião não é
movimentada. Duas multas aplicadas em um intervalo de apenas cinco
minutos, por fiscais diferentes.
A canetada municipal
cortou os corações de Lincoln, Déa, Arlene, Juca, Pedro, Nair,
Luiz, José, Léo, Antônio, Eloísa, Milton, Gracinha, Elaine,
Adonides, Lídia, Roberto e os demais assíduos frequentadores do
encontro semanal diante da casa de número 9, a maioria moradora da
própria Norita. “Só pode ser intriga, inveja, porque ninguém
nunca reclamou das nossas reuniões. Pelo contrário, as pessoas
participam”, diz Lincoln Tertuliano, dono do imóvel. Ele e a
mulher, Déa, são a razão da existência da confraria, que recebeu
o nome do santo padroeiro dos violeiros.
Quando se mudaram para
o bairro, Lincoln e Déa, aposentados, montaram uma copiadora na
garagem de casa. O contato com os clientes amenizava a solidão do
casal. O negócio não foi adiante e logo depois ela sofreu um
acidente vascular cerebral (AVC). Nos fins de tarde, eles se sentavam
diante da casa, para, pelo menos, cumprimentar os passantes e ganhar
um dedo de prosa de alguém menos apressado. Deu certo. Os vizinhos
foram se aproximando, se conhecendo e um deles sugeriu uma reunião
semanal, com canções românticas, violões, comida e bebidas leves
para mudar a rotina da rua. E nasceu a confraria. A sede é a garagem
de Lincoln.
NÃO É BAR
Cartaz afixado a lado
da porta da garagem, avisa: “Aqui não é bar, é confraria”. Os
confrades levam os tira-gostos, refrigerantes e cerveja. Em cada
reunião, um convidado especial, geralmente ligado à música. Nas
paredes, fotos dos ilustres visitantes em poses com os confrades.
Isso não sensibilizou a PBH. Segunda-feira, fiscais ficaram de
tocaia esperando a turma chegar. E às 19h30 um deles entregou a
Lincoln a notificação e o auto de infração (R$ 596,23, mesas e
cadeiras no passeio); às 19h35, o segundo agente passou ao dono da
casa outros autos (R$ 834,32, mesas e cadeiras em via pública). A
Associação dos Amigos do Bairro Santa Tereza informa que vai
conversar com o secretário regional.
“Os fiscais pediram
alvará. Como não se trata de festa nem de comércio, respondi que
não. E entregaram as multas, que já vieram preenchidas. Não as
assinei, recolhi as cadeiras e continuamos o encontro na garagem. Aí,
o fiscal disse que até para reunião dentro de casa é preciso
alvará”, afirma Lincoln, ao lado dos olhos tristes de Déa.
Para multar, a PBH se
baseia no Código de Posturas. “Não entendi, pois o que importa
aqui é a igualdade, o desejo de ser feliz, sem bebedeira, sem
algazarra”, diz Arlene, lembrando que a confraria não usa
aparelhos de som e as reuniões não passam das 22h. Mas a Regional
Leste alega que houve reclamação de moradores. Que pena, Fernando
Brant: abaixo da Constituição há as leis municipais e suas
interpretações. E há também quem não goste de ver gente feliz.
Fonte: ESTADO DE MINAS
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