Expectativa é que Planalto vete o texto. Minas terá um aumento de 440% no total arrecadado
Adriana Caitano
Juliana Colares - Diário de Pernambuco
Publicação: 07/11/2012 06:00
Atualização: 07/11/2012 07:15
Brasília – O Congresso repetiu ontem uma situação
semelhante à ocorrida com o Código Florestal, em que interesses dos
eleitores de cada deputado se sobressaíram às divisões partidárias,
causando nova derrota ao governo. A Câmara aprovou o texto do Senado
sobre a redivisão dos royalties do petróleo e deixou de lado tanto as
mudanças propostas pelo Palácio do Planalto quanto as sugeridas pelo
relator do projeto, Carlos Zarattini (PT-SP). Na prática, a matéria
beneficia as unidades da Federação não produtoras do combustível
fóssil, incluindo Minas Gerais, e reduz os ganhos dos estados e
municípios que têm a exploração de petróleo em seus territórios, como
Rio de Janeiro e Espírito Santo. O projeto segue para a sanção da
presidente Dilma Rousseff, que deve vetar a maior parte do texto.
Um dos estados que mais se beneficiarão
com a nova regra para distribuição dos royalites, Minas Gerais terá um
aumento de 440% no total arrecadado com a exploração do petróleo a
partir do ano que vem. Segundo levantamento realizado pela Confederação
Nacional dos Municípios (CNM), somados os repasses reservados para o
Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e Fundo de Participação dos
Estados (FPE), Minas saltaria de uma arrecadação de R$ 112,7 milhões –
valor registrado em 2011 – para R$ 607,7 milhões, aumento de R$ 495
milhões logo no primeiro ano em que a regra entrar em vigor.
A
capital mineira, que no ano passado recebeu R$ 4,3 milhões com os
royalties, passará a receber um valor cinco vezes maior, de R$ 23,3
milhões, já neste ano. Com novas licitações já marcadas para os próximos
anos para a exploração dos campos do pré-sal, em 2013 os repasses
aumentariam para R$ 26,6 milhões. O valor ainda fica bem distante do
arrecadado nas cidades costeiras. A cidade de Campos recebeu no ano
passado R$ 1,2 bilhão – maior valor registrado pela CNM – e a capital
fluminense ficou com R$ 185,3 milhões.
A discussão do tema
começou pela manhã, quando os ministros Aloizio Mercadante (Educação) e
Ideli Salvatti (Relações Institucionais) se reuniram com os líderes da
base e o relator do projeto. Os representantes do Planalto reafirmaram
que 100% dos royalties arrecadados com a exploração do petróleo a
partir da promulgação da lei deveriam ir para a educação, o que foi
acatado pelo relator. Zarattini discordou dos ministros e dos estados
produtores (ou confrontantes), porém, no item sobre os campos de
petróleo já licitados. O relator queria delimitar os valores de acordo
com o que foi recebido em 2011, o que, para governo e produtores, seria
inconstitucional por quebrar contratos já assinados.
O texto
final de Zarattini foi lido no plenário, já no fim da tarde, e muitos
deputados reclamaram da falta de tempo para entendê-lo, embora o clima
tendesse para a aprovação com destaques. O deputado Onyx Lorenzoni
(DEM-RS), no entanto, conseguiu virar o jogo. O democrata divulgou uma
tabela feita pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), a qual
apontava que todos os estados e municípios, com exceção dos três
principais produtores, receberiam uma parcela menor dos royalties com o
relatório de Zarattini do que com a versão do Senado. Após distribuir a
tabela aos colegas, Onyx apresentou um requerimento para que o texto
dos senadores fosse analisado à frente, o que jogaria o de Zarattini
por terra.
O projeto do Senado acabou aprovado na Câmara por 286
a 124. Entre os que votaram contra, oposicionistas e membros da base —
a maioria do Rio e do Espírito Santo, com alguns de São Paulo. Com
isso, a distribuição dos royalties do petróleo será mais equânime para
todo o país, os contratos já assinados podem entrar na nova divisão e
cada prefeito e governador decidirá como gastar os recursos recebidos.
Supremo Os
integrantes de estados produtores lamentaram o resultado. “Ao irmos no
calor da emoção e não da razão, decretamos a falência de quem conta
com o petróleo, fazendo bondade com o chapéu alheio”, criticou o
deputado Otávio Leite (PSDB-RJ). No entanto, afirmam contar com o
possível veto de Dilma. Em último caso, prometem levar a questão ao
Supremo Tribunal Federal (STF).
Os representantes dos demais
estados e municípios do país comemoraram. “O governo tinha feito um
acordo com o governador do Rio e a maioria entendeu que um acordo
político não pode sobrepor o interesse de todos os demais municípios”,
destacou Onyx Lorenzoni, que criticou a possibilidade de a presidente
vetar o texto. “A riqueza natural não é de um ou outro estado, mas um
bem de todos os brasileiros.”
No menu do jantar, a aliança PT-PMDB
Brasília
– Chamado de “jantar de congraçamento” pelo ministro da
Secretaria-Geral da República, Gilberto Carvalho, o encontro entre as
cúpulas do PT e do PMDB, promovido na noite de ontem pela presidente
Dilma Rousseff, no Palácio da Alvorada, ocorreu com discrição. O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participou do jantar, mas se
reuniu com Dilma à tarde, na residência oficial. Lula chegou ao
Alvorada às 15h20 e saiu às 18h40, sem falar com a imprensa. Um petista
influente afirmou ao Estado de Minas, mais cedo, que a presença de Lula
no jantar seria estranha. “É um encontro institucional. Ele não é
presidente da República nem presidente de fato do PT. A presença poderia
ser constrangedora para Dilma e Rui Falcão”, declarou.
A ideia
do jantar foi reforçar a aliança entre as duas legendas e reafirmar os
nomes dos peemedebistas Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros
(AL) para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
respectivamente. Assim, Dilma também fortalece a parceria para os
próximos dois anos e prepara terreno para 2014. Mais cedo, Gilberto
Carvalho afirmou que a reforma ministerial não estava na pauta. O
ministro disse acreditar que a presidente não vai tocar no assunto até o
fim do ano. Ela já desautorizou interlocutores a tratar do tema.
Contudo, especula-se que Gabriel Chalita (PMDB) vá assumir o Ministério
da Ciência e Tecnologia no lugar de Marco Antonio Raupp.
A
lista de convidados tinha 22 nomes. O encontro estava marcado para
começar às 20h, mas a votação do projeto de lei que trata da partilha
dos royalties do petróleo na Câmara atrasou a chegada de alguns. O
primeiro a marcar presença foi o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, às 19h55. Em seguida, passaram pelos portões do Palácio da
Alvorada o vice-presidente Michel Temer e a ministra das Relações
Institucionais, Ideli Salvatti.
Na entrada, nenhum dos
convidados parou para falar com a imprensa. Mas foram confirmadas as
presenças do ministro do Turismo, Gastão Vieira; do ministro da
Previdência, Garibaldi Alves; do ministro da Agricultura, Mendes
Ribeiro; do ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Moreira
Franco; e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Também
estiveram presentes Gilberto Carvalho, o presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP); o líder do governo no Congresso, José Pimentel
(PT-CE); além dos líderes do PMDB e do PT na Câmara, Henrique Eduardo
Alves e Jilmar Tatto, respectivamente, e do presidente do PMDB, Valdir
Raupp.
Fonte: ESTADO DE MINAS
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