Marco
Aurélio Rocha
A
campanha vitoriosa do PT para o governo de Minas Gerais nestas
eleições de 2014, iniciaram-se sob a desconfiança dos movimentos
sociais, sindicais e também da militância petista. As seqüelas do
acordo firmado entre Pimentel e Aécio nas eleições para a
prefeitura de Belo Horizonte em 2008 tinham ainda feridas não
totalmente cicatrizadas.
Pimentel
e todos os atores políticos no PT para esta disputa sabiam disso,
mas, um sentimento maior fez com que o PT mineiro conseguisse um
feito há muito tempo perseguido, que era, em primeiro lugar a
unidade do partido em MG e em segundo lugar ter uma candidatura que
conseguisse derrotar o projeto neoliberal tucano e levar um petista
pela primeira vez a ocupar a cadeira do Palácio da Liberdade.
Pimentel
percebeu que para construir uma candidatura vitoriosa do PT, era
imprescindível conquistar a confiança dos movimentos sociais e
sindicais. Para tanto, ainda no ano passado, reuniu-se com várias
lideranças do PT, parlamentares, representantes de tendências do
partido e o resultado destas reuniões foi designar a cada força
interna ao partido que levasse às suas bases o convite para o
diálogo com o futuro candidato, no sentido de construirem juntos um
programa de governo. Coube às tendências mais à esquerda no
partido, incluindo aí a Articulação de Esquerda, o chamamento ao
debate com os movimentos sociais e sindicais, tendo como referência
o deputado estadual Rogério Correia. E assim feito. Foram realizadas
várias reuniões com os movimentos sociais, com todos os sindicatos,
principalmente com os trabalhadores da saúde, educação e da
segurança pública.
Iniciada
a campanha, Pimentel pôs o pé nas estradas de Minas aprofundando a
proposta de diálogo com todos os movimentos da sociedade, com o
slogan de campanha: “ouvir para fazer melhor”. Esta proposta deu
resultados e aquela desconfiança inicial se transformou em
compromissos para um governo democrático, popular e participativo.
Todos estes movimentos selaram a unidade partidária, dos movimentos
sociais, populares e sindicais com a certeza que a candidatura
Pimentel tinha todas as possibilidades de ser vitoriosa.
Como
nem tudo são flores, os primeiros “esbarrões” de campanha eram
inevitáveis, a começar pelo visual nos materiais de campanha; a
militância, sindicalistas e movimentos sociais estranharam no
início, o sumiço da cor vermelha e o excesso do azul, numa
tonalidade exatamente igual à campanha tucana, o que levou a muitos
desconfiarem da volta do “pimentécio” em versão contrária, ou
seja, Pimentel aqui, Aécio lá. Outro ponto criticado era a ausência
da campanha da presidenta Dilma nos primeiros materiais gráficos.
Estes detalhes, que para muitos podem passar despercebidos, para
muitos mais, não passa; A campanha tucana percebeu isso e estando
mal posicionada nas pesquisas, contra-atacou com cartazes (vermelhos)
apócrifos com os dizeres: “Minas agora é do PT, Pimentel é do
PT”, o tiro saiu pela culatra, Pimentel continuava a crescer nas
pesquisas. A pressão da militância valeu e a campanha “envermelhou”
e Dilma apareceu!
Pimentel
venceu no primeiro turno com 52,98% dos votos, contra 41,89% do
candidato tucano, enquanto que as pesquisas colocavam uma média de
60% a 30%, o que evidenciou também a força da máquina do governo
do Estado trabalhando pelo seu candidato.
Vencida
a eleição, agora é o momento difícil da montagem do governo. É
preciso ter habilidade para atender aos anseios e expectativas do
funcionalismo público, sindicatos, movimentos e claro os partidos e
a base que levou o candidato à vitória.
Outro
desafio a ser vencido, é na Assembleia Legislativa, dos 77 deputados
estaduais, a coligação que apoiou Pimentel (PT, PMDB, PCdoB, PROS e
PRB) elegeu 26 deputados, enquanto a coligação liderada pelos
tucanos elegeu o restante, conseguindo assim maioria númerica. Todos
sabem por aqui nas Alterosas, que esta maioria não se sustenta por
muito tempo, os deputados eleitos pelos chamados partidos nanicos e
outros que compõem a base nacional da presidenta Dilma, mas que aqui
se alinharam com a candidatura tucana, têm uma forte “tendência”
a se alinhar com o governo Pimentel, a chamada força do Palácio da
Liberdade é muito forte. Muitos querem ser prefeitos em suas cidades
em 2016 e o apoio do governador é muito importante.
Herança
Maldita
Outro
desafio para o governo Pimentel é a herança maldita que os tucanos
estão deixando no Estado. A dupla Aécio/Anastasia governou Minas
sob a ótica do puro marketing. Milhões foram gastos em propaganda
governamental em torno da grande farsa do Choque de Gestão e do
Déficit Zero, tendo ainda a grande mídia mineira como parceira na
montagem deste grande circo midiático-governamental, sob as ordens
de Andréa Neves que como diz o deputado Sávio Souza Cruz do PMDB,
um dos líderes do bloco Minas Sem Censura na Assembleia é a
“Goebbels
das Alterosas” que faz controle rígido do que sai na mídia,
exercendo verdadeira censura onde nada pode sair que desabone seu
irmão Aécio Neves.
Reconstruir
Minas Gerais será o maior desafio de Pimentel, o estado é o segundo
maior endividado do país, a
dívida pública mineira consolidada já chega a 90 bilhões de
Reais, comprometendo o orçamento de 2015 em 6 bilhões, também
fazem parte da herança maldita do PSDB em Minas os 8 bilhões de
reais desviados da Saúde e os 8 bilhões de reais desviados da
Educação, que não tiveram seus mínimos constitucionais
respeitados nos últimos 12 anos. Assim como a carreira congelada dos
servidores públicos estaduais e o pagamento dos servidores da
Educação abaixo do Piso Salarial Nacional.
Pimentel
terá um grande trabalho pela frente, mas as expectativas são boas,
o governador eleito acena com maior participação da sociedade nas
tomadas de decisão do governo, incorporando movimentos organizados,
trabalhadores, funcionalismo público e sindicatos. Minas Gerais
viveu nestes anos com uma verdadeira “cerca neoliberal” que não
deixava entrar aqui com toda intensidade os programas dos governos
Lula e Dilma, e quando entravam mudavam de nome, agora temos a chance
com Pimentel e Dilma mudar a realidade de nosso Estado.
* Texto publicado no jornal PÁGINA 13 órgão da tendência interna do PT - Articulação de Esquerda
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