domingo, 4 de dezembro de 2011

"O encontro da nacional do PT não muda nada, viu?

2012.Impasse na sucessão de Belo Horizonte tem o vice-prefeito Roberto Carvalho como centro da tensão
"O encontro da nacional do PT não muda nada, viu?
Petista diz que aliança de 2008 foi um erro e enfrenta cúpula nacional
CARLA KREEFFT

Depois de conseguir o comando da Prefeitura de Belo Horizonte desde 1995, o PT da capital vive problemas iniciados em 2008. Naquele ano, uma dobradinha uniu petistas e seus principais rivais, os tucanos, para conduzir um recém-filiado ao PSB, Marcio Lacerda, à Prefeitura de Belo Horizonte. A polêmica foi grande, mas a aliança vingou. O que não se imaginava naquele momento é que o problema petista somente estaria começando.

Lacerda foi eleito dividindo chapa com Roberto Carvalho, um petista histórico, que teve passagens pela Câmara de Vereadores e pela Assembleia Legislativa, além de ter sido secretário municipal, na gestão do ex-prefeito Patrus Ananias. Roberto, que tinha pretensões de se candidatar à Prefeitura de Belo Horizonte, naquele momento, não se opôs à aliança, mas hoje afirma que foi um equívoco e se tornou, praticamente, o único porta-voz da resistência à reedição da dobradinha em 2012.

A discordância de Roberto, que até a semana passada não parecia incomodar a cúpula nacional petista, causou impacto à executiva e ao diretório nacionais, que estiveram em Belo Horizonte na semana passada para discutir, entre outros assuntos, as diretrizes para a eleições municipais. A escolha da capital mineira para sediar o evento não foi gratuita, já havia uma preocupação com o impasse entre o vice-prefeito e o prefeito belo-horizontino. Porém, a cúpula nacional não imaginava que a situação era tão grave.

Depois de muitas conversas de bastidores, os dirigentes nacionais, que defendem a dobradinha para garantir a parceria com o PSB em outras capitais e na reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014, saíram preocupados. As frases mais comum eram: "esse cara não vai desistir da candidatura própria", "não sabemos como resolver, ainda temos que conversar muito", "desistir ele não vai, impor não é a melhor alternativa, o jeito é continuar tentando convencer".

Mas o convencimento não deve ser fácil. Na última sexta-feira, após o encontro nacional do partido e depois de ter jantado com o presidente nacional do PT, Rui Falcão, Roberto concedeu uma entrevista exclusiva para O TEMPO. Sentado em bar e restaurante tradicional, localizado na região Leste da capital, e tomando "uma cachacinha para abrir o apetite", a primeira frase dita por Roberto não foi outra: "olha, o encontro da nacional do PT não muda nada, viu?"

Segundo o vice-prefeito, a única mudança após o encontro nacional é a aprovação da antecipação do prazo para registro de candidaturas de outras legendas para janeiro. "Mas o Rui Falcão garantiu que o diretório municipal terá liberdade para decidir sobre a eleição de Belo Horizonte", afirma, confirmando que a intenção é evitar o prolongamento dos embates internos.
Antes mesmo de ser perguntado sobre a preocupação da cúpula nacional petista com a parceria com o PSB em outras capitais, Roberto afirma categoricamente que Belo Horizonte não pode ser moeda de troca. "A relação entre os partidos precisa ser programática. Aliança se dá em cima de programa", declara. Mas questionado se não foi assim em 2008, o vice-prefeito aproveita para dar umas alfinetadas em Marcio Lacerda. "Foi, foi sim, mas a gente tinha uma expectativa DE que ele avançasse nos programas do PT, os sociais. Fizemos um compromisso em favor a cidade com o PSB, mas não houve avanço".

A partir daí, Carvalho elenca os setores onde considera que a cidade não melhorou: o orçamento participativo foi reduzido, as instâncias de participação popular foram esvaziadas, não foi feita uma casa dentro do programa Minha Casa, Minha Vida. Vendemos uma rua. Perde-se o patrimônio público. Temos ocupação em áreas urbanas, o que não acontecia há 16 anos".

Encerrando, Carvalho diz que não tem obsessão por ser prefeito, mas seu nome está à disposição do PT. Ele ainda ressaltou que nomes dos aliados de Dilma estão na lista .
MINI ENTREVISTA COM
Roberto Carvalho
"O partido não aceita o PSDB e quem decide são as bases"
A partir das decisões da executiva nacional, o que o PT de Belo Horizonte vai fazer?Vamos respeitar o calendário nacional. Vamos fazer os encontros em janeiro. Vamos fazer o impossível para construir uma aliança com o PMDB, PDT e outros partidos da base da presidente Dilma Rousseff. Se não estivermos todos juntos no primeiro turno, estaremos no segundo certamente.

Não tem mesmo nenhuma chance de aliança com o PSB e PSDB?Com o PSDB não. O partido não aceita o PSDB e quem decide são as bases. O PSDB chama o PT de rato. O PSDB tem um programa antagônico ao do PT. O PSDB privatiza, não prioriza o social.

Mas não foi assim em 2008?Em 2008, foi um erro. Agora, em 2012 temos a chance de não errar. Se essa aliança for feita, não será um erro, será uma tragédia.

Você não está isolado? Não, eu estou com as bases do partido. E tem muita gente, liderança, que também não quer a aliança, mas fica aí de espectador, aguardando. Mas, tudo bem, a gente espera por eles. Vamos contar com eles mais na frente. Eu disse para o Rui Falcão que temos levantamentos que mostram que 66% da população não concorda com a aliança.

Você está chateado? Não, as divergências são coisas da política. Mas, lamentavelmente, o PT nacional não dá a Belo Horizonte a atenção que merece. Triste mesmo fiquei quando vi petistas históricos, pais de famílias sendo demitidos da prefeitura porque não concordam com o prefeito.

Fonte: JORNAL O TEMPO

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